Subtenente Paulo Roberto Campos era o último militar dos 96 policiais denunciados pelo Ministério Público na Operação Calabar. Policial se entregou na sede da DHNSG
Por Nicolás Satriano, G1 Rio
Foi preso na tarde desta quarta-feira (5) o último policial militar acusado pela Polícia Civil de integrar um esquema criminoso em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. O subtenente Paulo Roberto Campos, um dos 96 policiais denunciados pelo Ministério Público no âmbito da Operação Calabar, se entregou na Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), em Niterói.
Segundo informações da delegacia, após prestar depoimento na DHNSG, o subtenente Campos deve ser encaminhado ainda nesta quarta para a Unidade Prisional da PM, que também fica em Niterói. A princípio, o PM preferiu optar pelo silêncio e não declarou nada aos delegados da especializada,
Passada a operação, a Polícia Civil passou a investigar se cinco assassinatos que ocorreram no final de semana seriam "queimas de arquivo" de pessoas ligadas às investigações. No final de semana seguinte à Calabar, quatro corpos foram encontrados carbonizados no Morro do Castro e uma pessoa decapitada estava na Vila Candonza.
No domingo (2), o Fantástico mostrou uma entrevista exclusiva com o colaborador da Calabar. O homem contou porque resolveu falar aos policiais sobre o esquema, destacando a seriedade dos agentes que, segundo ele, estavam apenas preocupados em "prender e investigar
"Ninguém falou nada, só em prender e investigar. Aí eu vi a seriedade dos policiais e acabei relatando tudo. Vi que poderia realmente confiar, e era o único jeito de eu me manter vivo", afirmou o colaborador.
Os 96 PMs alvos da operação foram denunciados pelo MPRJ por participação em um esquema de cobrança de propina a traficantes que rendia, mais ou menos, R$ 1 milhão por mês aos militares. Alguns desses policiais ainda estavam nas fileiras do efetivo do 7º BPM (São Gonçalo)
A operação para prender os envolvidos, batizada de Calabar, contou com 800 agentes e 110 delegados, que deixaram a Cidade da Polícia, na quinta-feira (29),no Jacarezinho, Zona Norte da cidade, às 5h
Os policiais detidos irão responder por organização criminosa e corrupção passiva. Já os bandidos respondem por tráfico, organização criminosa e corrupção ativa. O nome Calabar é uma referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado por muitos o maior traidor da história do país.
Segundo historiadores, ele era um conhecido senhor de engenho no Brasil Colônia (século 17), na capitania de Pernambuco, e se aliou aos holandeses quando eles invadiram as terras brasileiras, na época sob domínio português. Conhecedor da região, teria ajudado nas conquistas holandesas.
A investigação mostrou que os PMs atuavam como "varejistas do crime" e chegavam a ofertar serviços diversos a traficantes. Por exemplo, os militares escoltavam os chamados "bondes" de criminosos de um local a outro, e até alugavam armas da corporação, incluindo fuzis, aos traficantes.
Há casos também, segundo a polícia, de sequestros de traficantes realizados pelos PMs. Nas escutas, os agentes identificaram que os militares chegavam a cobrar R$ 10 mil pelo resgate de bandidos.Outra das conclusões do inquérito é que todas as semanas, de quinta-feira a domingo, as viaturas do batalhão circulavam por ruas de São Gonçalo exclusivamente para recolher o "arrego" que, no jargão, é a quantia paga por criminosos a policiais para não atrapalhar os negócios de bandidos. O valor cobrado pelos PMs variava entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil para cada equipe de policiais que estava de plantão
Agentes que investigaram o esquema estimam que a venda de favores e cobrança de dinheiro a traficantes rendesse, pelo menos, R$ 350 mil por semana aos PMs que estavam no Grupamento de Ações Táticas (GAT), Patrulha Tático Móvel (PATAMO), Serviço Reservado (P-2), no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) e Ocupação (uma espécie de "UPP" de São Gonçalo)
Último PM acusado de integrar 'batalhão da propina' no RJ é preso | Rio de Janeiro | G1
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