Entre as funções do coronel Antonio Goulart está a de orientar a corporação no planejamento do patrulhamento. Os 17.110 policiais prometidos para a folia foram fracionados ao longo dos dias
Por Marco Antônio Martins, G1 Rio
A Inteligência da PM deve, entre as suas funções, auxiliar o comandante-geral da corporação, o coronel Wolney Dias na tomada de decisões como, por exemplo, o planejamento dos policiais em determinado lugar e se deve ou não deslocá-los. O governador Luiz Fernando Pezão admitiu que houve falhas no planejamento de segurança. Após dois dias (sábado e domingo de carnaval), o policiamento da Zona Sul do Rio foi reforçado com PMs, a partir de segunda (12). Um grupo foi deslocado da Rocinha para a orla do Rio, entre Copacabana e Leblon
O coronel Goulart aparece junto a Crivella em dois vídeos postados pelo prefeito em sua rede social. O primeiro no domingo (11) quando embarcou para a Alemanha. Já em Frankfurt, o coronel aparece junto ao prefeito diante da sede da agência espacial europeia. O vídeo foi apagado nesta quarta-feira (14) da rede social do prefeito
A assessoria de imprensa da Polícia Militar do RJ não respondeu aos questionamentos sobre a viagem do coronel Goulart. O comandante da corporação, o coronel Wolney Dias também não retornou os contatos feitos pela reportagem. O G1 apurou com oficiais da corporação que a viagem do oficial foi para buscar soluções tecnológicas para a segurança pública.
A PM também não respondeu por que a necessidade de viagem durante o carnaval. Também não se falou sobre a existência de algum programa voltado para a área de segurança entre a Prefeitura do Rio e a Polícia Militar ou ainda com a secretaria de Segurança Pública
"Estamos trabalhando muito, pegando muita informação para saber o que é mais moderno em termos de vigilância, em termos de VANT (veículo aéreo não tripulado), em termos de drone, em termos de informação via satélite, enfim, o que a gente puder para melhorar a questão da segurança no Rio de Janeiro. As pessoas dizem assim: segurança é uma questão do estado. É sim. mas olha, do jeito que o Rio está, precisa de ajuda de todo mundo: governo federal, governo municipal, governo estadual, Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal. Nós todos temos que estar unidos porque a violência é inaceitável", afirmou o prefeito Crivella no vídeo feito já na Alemanha.
Arrastões, assaltos, tiroteios. O grande número de casos em diferentes pontos da Zona Sul do Rio, principalmente, Ipanema e Leblon levou a Polícia Militar a modificar a distribuição do policiamento. Mesmo após o aumento do efetivo, os casos continuaram a acontecer: em Ipanema, uma idosa foi assaltada quando voltava para casa após comprar pão.
A saída, então, foi retirar do cerco à favela da Rocinha os policiais das unidades especiais, como os batalhões de Choque, Grandes Eventos e Regimento de Polícia Montada. O contingente saiu da comunidade e foi deslocado para as orlas de Copacabana, Ipanema e Leblon. A ideia foi uma tentativa de reduzir as ocorrências de roubos nos dois bairros
"Se o plano é apenas ostensivo, como parece que foi, o policiamento se dilui. Um plano completo deve reunir policiamento ostensivo, com investigação, inteligência e mais tecnologia. Se o plano só foi pensado em matéria de policiamento ostensivo (que é o último estágio), não vai ter efetivo que suporte. O policiamento ostensivo é, ou deveria ser, a parte visível do planejamento", afirmou o coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da PM do RJ.
Em meio a tantos roubos e agressões a turistas e moradores, um vídeo divulgado pelo G1 mostra policiais do Batalhão de Vias Especiais (BPVE) com cervejas no interior do carro da corporação. O transporte de bebida alcoólica é proibido pelo código disciplinar da Polícia Militar do RJ.
Em entrevista ao RJTV, o governador Luiz Fernando Pezão admitiu que ocorreu um erro no planejamento no policiamento "Não estávamos preparados. Acho que houve um erro nosso", admitiu o governador
Desde sexta-feira (9) até a Quarta-feira de Cinzas (14), a cada 12h, o Estado do Rio de Janeiro teve em média 4.200 policiais a mais nas ruas para garantir a segurança de foliões, turistas e moradores de todo o estado. De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, a Polícia Militar não teria como destacar, ao mesmo tempo, os 17.110 PMs anunciados pelo governador Luiz Fernando Pezão
Esses cerca de 4.200 PMs se juntariam aos 8 mil PMs, que segundo o governador Luiz Fernando Pezão, há nas ruas de todo o RJ diariamente
No planejamento estabelecido pela corporação, a atenção especial ficou para a Cidade Nova, bairro da área central do município, onde fica a Marquês de Sapucaí e onde ocorreram os desfiles das escolas de samba dos da Série A (grupo de acesso) e Grupo Especial.
Os 17.110 policiais destacados para o carnaval carioca, no chamado policiamento extraordinário, foram divididos em quatro alas ou grupos para plantões de 12h. As folgas foram definidas de acordo com a característica de cada patrulhamento. O policiamento a pé, por exemplo, só permite 12h de plantão, de acordo com PMs ouvidos pelo G1
Para a Sapucaí havia - a cada plantão de 12h - 221 policiais divididos em policiamento a pé, a cavalo e em 47 viaturas, localizadas em pontos estratégicos, segundo a PM. Desde sexta-feira, 794 PMs trabalharam na região.
"Como aconteceu nos anos anteriores, a área da Cidade Nova, onde estão localizados o sambódromo e o Terreirão do Samba, receberam atenção especial, principalmente durante a noite e madrugada", informou a nota da Polícia Militar.
A região da Sapucaí é distante, pelo menos, um quilômetro da passagem de grandes blocos como o Bola Preta, que esperava mais de 1,5 milhão de foliões. De acordo com a prefeitura, o Bola Preta reuniu 340 mil foliões
Nem assim, com um policiamento considerado "especial" no entorno da Sapucaí, se conseguiu evitar o assalto ao sambista Moacyr Luz e "arrastões", como o que passou uma van em que estava a atriz Juliana Paes.
"Por todas essas falhas, parece que a opção vai ser tentar agora resolver o problema apenas com policiamento ostensivo. O risco é que esse efetivo seja ainda insuficiente, diante das condições. Torço para que a PM possa contornar essa emergência, nessas condições adversas", explica o coronel Robson Rodrigues.
"Para contar com este contingente, foram mobilizados efetivos de todas as unidades convencionais e especiais, assim como a convocação de policiais lotados em funções administrativas e daqueles que encontravam-se de férias, sendo estas suspensas temporariamente", explicou a PM em nota.
Durante alguns dias do carnaval, policiais de plantão próximo à Sapucaí contaram que os plantões ultrapassavam as 12h estabelecidas porque houve atrasos na chegada da rendição. Na região, foram disponibilizados grupos de até quatro policiais.
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