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sábado, 11 de maio de 2013

Audiência da Comissão da Verdade


É marcada por bate-boca entre vítima e torturadorEx-servidor revela que o DOI-Codi exibia cadáveres e Ustra, antigo chefe da repressão, nega a prática. Militar discute com vítima de tortura e chama Dilma de "terrorista"

Publicação: 11/05/2013 06:00 Atualização: 11/05/2013 07:25
Ustra disse que combateu mais de 40 organizações de esquerda, entre elas quatro em que Dilma teria atuado (wilson dias/abr)
Ustra disse que combateu mais de 40 organizações de esquerda, entre elas quatro em que Dilma teria atuado
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) viveu ontem o momento mais tenso desde sua criação, em maio do ano passado. Uma audiência para tomada de depoimentos reuniu no mesmo auditório, em Brasília, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra – considerado um dos mais poderosos agentes da repressão – e um ex-preso que alega ter sido torturado por ele, o vereador de São Paulo Gilberto Natalini. Enquanto Ustra se declarou “combatente de terroristas”, Natalini o chamou de “comandante do inferno”. A sessão acabou em bate-boca. Antes dos dois depôs Marival Chaves, ex-servidor do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de São Paulo, que acusou Ustra de exibir corpos de militantes de esquerda como troféus da ditadura.

Chaves, que trabalhou na área de análise de documentos do DOI-Codi, disse que viu os corpos dos militantes Antônio Carlos Bicalho Lana e Sônia Maria Moraes Angel Jone serem exibidos “ainda jorrando sangue”. “As pessoas eram expostas à visitação pública no órgão como um troféu”, disse. E completou: “Um capitão era senhor da vida e da morte. Ele circulava pela área de interrogatório, especialmente quando havia presos importantes sendo interrogados. Eu o vi por lá, por exemplo, na antessala aguardando o momento de serem chamados o Vladimir Herzog e o Paulo Markun”.

Embora tenha negado assassinatos no DOI-Codi durante sua chefia, entre setembro de 1970 e janeiro de 1974, Ustra leu declaração, em tom de defesa, em que pregou a prestação de esclarecimentos à comissão pelo Exército, e não por comandantes. Para justificar a transferência de responsabilidade, ele destacou que nunca foi cobrado pelas Forças Armadas por sua atuação e que recebeu a mais alta condecoração do Exército. Ustra chegou acompanhado de advogado, com óculos escuros e bengala. Depois de ler o texto, disse que, amparado pela Justiça, se manteria calado. Mas acabou respondendo perguntas.

O coronel da reserva disse ainda que, na ditadura militar, o Brasil foi surpreendido pelo fortalecimento de organizações terroristas. Como exemplo, citou que a presidente Dilma Rousseff integrou quatro grupos. “Eles atacavam quartéis, roubavam armas, explodiam dezenas de bombas”, afirmou, acrescentando que, quando foi chamado para a chefia do DOI-Codi, mais de 300 bancos já haviam sido assaltados por “terroristas”. Ele frisou que, “com muito orgulho”, cumpriu sua missão ao combater mais de 40 organizações de esquerda. Foi questionado também sobre casos específicos de militantes de esquerda e, repetidas vezes, reiterou que tudo o que tinha para contar está em seu livro A verdade sufocada, publicado em 2006. 

Embate 

Antes de Ustra, o vereador de São Paulo e presidente da Comissão da Verdade da capital paulista, Gilberto Natalini, falou sobre os 60 dias que passou preso no DOI-Codi, em 1972. “Aquilo era um inferno e o Ustra era o comandante do inferno”, descreveu. Segundo Natalini, o coronel descobriu que ele escrevia poesias de protesto e queria que o militante as lesse para a corporação. “Mandou me despir, me colocou em pé numa poça d’água e passou aqueles fios de choque pelo meu corpo. Queria que eu declamasse para agentes. Durante horas, com uma espécie de vara de marmelo, me batia.”

Questionado sobre o episódio pelo presidente da comissão, Cláudio Fonteles, Ustra disse que é mentira. Fonteles propôs uma acareação. “Não faço acareação com terrorista”, respondeu o coronel. Natalini se exaltou: “O senhor, sim, é terrorista”. Dois senhores que estavam na plateia acusaram Natalini de atos de terror. Um deles não quis se identificar. O outro é o general reformado Luiz Rocha Paiva.

Para Fonteles, ao não responder todas as perguntas, Ustra cria uma “presunção de culpa”. O presidente da comissão disse que a responsabilidade pelas ações na ditadura não podem ser atribuídas ao Exército, mas sim aos seus comandantes. O colegiado enviará informações ao Ministério Público para um eventual recurso contra a decisão da Justiça que garantiu o silêncio a Ustra, que pode ser convocado novamente.

O fotógrafo de Vlado

A Comissão da Verdade de São Paulo (CVSP) vai ouvir, em 28 de maio, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, autor da foto do corpo do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-Codi, em 1975. Segundo Gilberto Natalini, presidente da CVSP, ele confirmará que a imagem foi armada. Este ano, os familiares do jornalista receberam um novo atestado de óbito, que diz que “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do Segundo Exército DOI-Codi” provocaram sua morte.


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