Vídeo de agressão a idoso, em Buffalo (Nova York), aumenta a indignação da sociedade com a violência policial. Autoridades de Minneapolis banem estrangulamento na abordagem de suspeitos. Protestos pelo assassinato de George Floyd continuam
Martin Gugino, 75 anos, republicou o vídeo no Twitter por volta das 17h30 de quinta-feira (18h30 em Brasília): policiais disparam uma pistola Taser contra uma mulher branca e a golpeiam violentamente com um cassetete. Minutos depois, Gugino seria protagonista de outro vídeo, que provocou indignação em uma sociedade ávida por justiça e por medidas contra abusos da polícia. Nas imagens, o idoso aparece caminhando em direção a um grupo de policiais; logo depois, é empurrado por um dos oficiais, tomba de costas e bate a nuca no chão. Enquanto sangue escorre da cabeça da vítima, policiais gritam a um repórter: ;Para trás!”. Gugino está hospitalizado em estado grave. Após o afastamento de dois policiais envolvidos no incidente, os 57 membros da Equipe de Resposta a Emergências do Departamento de Polícia de Buffalo se demitiram, em protesto. Autoridades policiais disseram que Gugino tropeçou e caiu. As imagens desmentem.
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O vídeo sobre a violência sofrida por Gugino surgiu na esteira do flagrante do assassinato de George Floyd, em Minneapolis. Em 25 de maio, o homem negro de 46 anos foi asfixiado por Derek Chauvin, um policial branco que ajoelhou-se sobre o seu pescoço. Tudo foi filmado por testemunhas. O presidente Donald Trump não condenou a violência das forças de segurança. Em vez disso, usou o nome de Floyd em uma declaração polêmica. ;Espero que George Floyd esteja olhando para baixo agora e dizendo que uma grande coisa está acontecendo para o nosso país. É um ótimo dia para ele e para todos;, disse o republicano, em alusão ao reaquecimento da economia norte-americana ; o Departamento de Trabalho registrou mais 2,5 milhões de empregos em maio e uma redução da taxa de desemprego para 13,3%.
Floyd foi um entre os milhares de norte-americanos mortos pela polícia. Entre 2013 e 2019, a organização Mapping Police Violence (;Mapeando a Violência Policial;) registrou 7.663 mortes de civis pelos agentes da lei. Apenas 48 policiais foram condenados. No ano passado, houve 1.098 civis abatidos pela polícia ; 24% deles eram negros, apesar de serem apenas 13% da população.
Mudanças
Segundo Kenneth Roth, diretor executivo da organização não governamental Human Rights Watch, não fosse o flagrante da agressão a Gugino, dificilmente os dois policiais de Buffalo teriam sido afastados. ;O fim da violência policial exige várias coisas, incluindo mudanças no treinamento e um sistema de supervisão policial mais incisivo, que seja absolutamente independente e tenha poder de interrogar e processar os agentes. Também demanda mudanças na doutrina judicial que tendem a proteger os policiais das consequências legais;, afirmou ao Correio.
Roth admite que a retórica de Trump apenas encoraja a brutalidade da polícia. ;Em vez de tentar acalmar paixões, de enfatizar a necessidade de justiça racial e de prometer melhorar o sistema de justiça criminal, Trump denuncia os manifestantes e encoraja a polícia a tomar controle dos protestos. Ele até ameaçou convocar o Exército. É o oposto da autoridade moral que se deseja de um presidente;, lamentou.
As autoridades de Minneapolis anunciaram, ontem, um acordo para imediatamente banir estrangulamentos durante as abordagens policiais. ;O funeral de George Floyd, ontem (quinta-feira), sublinhou que a justiça para ele exige mais do que punição para o homem que o matou ; exige responsabilização da liderança eleita a profundas reformas estruturais;, declarou o prefeito Jacob Frey, por meio de nota.
Até ontem, o Manual do Departamento de Polícia de Minneapolis determinava que imobilizações pelo pescoço e estrangulamentos estavam reservados para situações de vida ou morte para os agentes. A partir de agora, a polícia será obrigada a cumprir com investigações sobre direitos civis. ;O Conselho da Cidade de Minneapolis acaba de proibir estrangulamentos pela polícia. Por que isso já foi permitido?;, questionou Benjamin Crump, advogado da família de Floyd.
Ontem, um procurador do distrito de Nova York recusou-se a processar manifestantes detidos em Manhattan por crimes de baixo potencial ofensivo, como conduta desordeira e concentração ilegal. Por meio de um comunicado, Cyrus Vance disse que seu gabinete ;se recusa a processar estes detidos no interesse da Justiça;. ;Processar manifestantes acusados de ofensas de baixo potencial ofensivo enfraquece os vínculos críticos entre a aplicação da lei e as comunidades a que servimos;, acrescentou.
Uma rua para lembrar da luta
As letras garrafais e de cor amarela preenchem parte da 16th Street, uma das principais artérias de Washington que termina no Parque Lafayette e tem vista frontal para a Casa Branca. O letreiro ;Black lives matter; (;Vidas negras importam;) foi pintado no asfalto por voluntários. A prefeita do Distrito de Colúmbia, Muriel E. Bowser, rebatizou a rua com o nome ;Black Lives Matter Plaza; e encorajou os manifestantes a promoverem atos pacíficos no local. Uma placa de sinalização foi colocada sobre um semáforo. Na mesma rua, os sinos da Igreja de Todas as Almas tocaram por 8 minutos e 46 segundos, tempo que George Floyd levou para morrer, com o joelho do policial branco sobre seu pescoço. Apesar da chuva, manifestantes ajoelharam-se diante da igreja e permaneceram em silêncio.
Depoimento
Problema americano
;O assassinato de George Floyd ilustra várias políticas com a cultura da polícia dos Estados Unidos. Não havia necessidade de deter George por meramente passar uma suposta nota falsificada de US$ 20. Na pior das hipóteses, isso deveria ter levado a um interrogatório.
A morte de Floyd reflete o problema dos Estados Unidos com o encarceramento excessivo ; enviar pessoas à prisão por pequenos delitos ;, fenômeno que afeta desproporcionalmente os afro-americanos. A polícia, em vez de adotar uma política de redução de tensão, deliberadamente intensificou as abordagens para mostrar que está no comando.
É assim que os policiais são treinados. Eles imaginaram que iriam se safar dessa violência excessiva, porque muitas vezes conseguem. Somente o vídeo mudou tudo. Os mesmos fatores contribuíram para o desnecessário empurrão da polícia contra Martin Gugino. Foi algo totalmente gratuito. Ele não representava ameaça. O policial apenas quis mostrar que estava no comando.;, Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch (HRW).
Magnata celebra avanço contra pandemia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou, ontem, o fato de que a pior parte da pandemia de coronavírus tenha ficado para trás no país. ;Tínhamos a maior economia da história. E essa força permitiu-nos superar esta horrível pandemia, que já superamos, em grande medida. Acho que estamos indo bem;, declarou Trump, em uma entrevista coletiva na qual celebrou que o desemprego em maio tenha caído para 13,3%. Trump defendeu sua gestão da crise nos Estados Unidos ; o país com o maior número de mortes por coronavírus, com mais de 108 mil. ;Tomamos todas as decisões corretas;, acrescentou, pedindo aos governadores do estados que ainda têm medidas parciais de confinamento para que suspendam as restrições.
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