General Júlio César de Arruda impediu a prisão de golpistas acampados em frente ao quartel-general no 8 de janeiro e encarou Flávio Dino
atualizado 22/01/2023 11:21
O general Júlio César de Arruda, demitido do comando do
Exército neste sábado (21/1) por Lula, teve duras discussões na noite do dia 8
de janeiro com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Começou ali o enredo que
levou à sua exoneração.
Naquela noite, o comandante militar do Planalto, general
Gustavo Henrique Dutra de Menezes, teve uma dura discussão com o interventor
Ricardo Cappelli. O clima esquentou quando o secretário, liderando a tropa da
Polícia Militar, chegou ao Setor Militar Urbano e anunciou que prenderia os
golpistas acampados em frente ao quartel-general. O general afirmou que a tropa
da PM não passaria dali.
Na sequência, o comandante do Exército e Cappelli
reuniram-se, no Comando Militar do Planalto. Deu-se, então, a primeira
discussão tensa de Arruda naquela noite, quando chegou a colocar o dedo na cara
de Cappelli e do então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira.
O policial, preso por determinação de Alexandre de Moraes,
afirmou, em seu depoimento à polícia, que o Exército havia proibido que as
prisões fossem feitas. Em dado momento, Arruda dirigiu-se para o policial,
também com o dedo em riste. “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior
que a sua, né?”, disse, em tom de ameaça, referindo-se às tropas da PMDF e do
Exército.
Discussão com Flávio Dino
Mas a noite ainda estava longe de terminar. Os ministros Flávio Dino, José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil) chegaram, e os três reuniram-se com o general Arruda, a sós. Neste momento, a temperatura entre Dino e Arruda subiu.
O general exigiu que os ônibus dos golpistas, que haviam sido apreendidos pela Polícia Militar por ordem de Dino, fossem devolvidos. Dino afirmou que não devolveria, porque era prova do cometimento de um crime, e assim seriam tratados.
O general, subindo o tom de voz, insistia que ninguém seria preso no acampamento, conforme relatou a repórter Marina Dias. Dino também alterou a voz e manteve que a ordem dele seria cumprida e todos seriam presos. preencher as rugas sem sair de casa.
Neste momento, os dois já estavam em pé e o clima prenunciava uma briga ainda mais dura.
Rui Costa interveio e conduziu a conversa para uma
conciliação. Ficou acordado que as prisões não seriam naquela hora, mas, sim,
no dia seguinte de manhã.
A resistência em demitir Cid
A demissão de Arruda foi sacramentada quando chegou a Lula a informação de que Arruda não demitiria o tenente-coronel Mauro Cid.
Cid era o principal ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e hoje está lotado no 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia (GO). Trata-se de uma das unidades do Comando de Operações Especiais do Exército, e, por estar nos arredores de Brasília, passível de ter que ser acionada para garantir a segurança da capital.
Uma reportagem da coluna de Rodrigo Rangel, no Metrópoles,
revelou detalhes de uma investigação autorizada pelo STF que apontou que Cid
manejou recursos em espécie sacados de cartões corporativos. O dinheiro, de
acordo com o inquérito, foi usado até para pagar contas pessoais da
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela.
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