Uma técnica em nutrição de 18 anos foi estuprada na região do Aricanduva, zona leste de São Paulo, no último dia 14. Um cabo da Polícia Militar de 38 anos foi acusado e teve a prisão preventiva decretada no último sábado (20), mas, ao se apresentar na delegacia, nesta segunda (22), não foi reconhecido pela vítima e foi liberado.
A ação foi gravada por uma câmera de segurança na rua. As imagens mostram um homem saindo de um Fiat Siena preto parado na rua Antonio La Giudice às 7h do dia 14, um domingo. O estuprador se esconde atrás de um muro em uma esquina.
Ao perceber que a vítima se aproxima, ele anda, disfarça e a agarra com a mão direita. O criminoso segura no antebraço esquerdo dela.
A jovem resiste. Apenas com a força do braço direito, ele consegue arrastá-la até para dentro do carro. Joga-a no banco de trás e entra logo depois, fechando a porta.
A vítima contou aos policiais do 53º DP (Parque do Carmo) que o homem manteve uma arma de fogo apontada para ela o tempo todo –cerca de meia hora. O estuprador mandou que mantivesse a cabeça baixa e não olhasse para seu rosto.
"ABALADA"
A mãe da vítima afirmou ao UOL nesta segunda que a filha está "completamente abalada e se recusa a falar ou relembrar o assunto". A jovem foi submetida a exame sexológico e foi atendida pelo serviço Bem Me Quer, do hospital estadual Pérola Byington, em São Paulo.
"Ela foi bem atendida, tanto na delegacia quanto no hospital. Agora, está descansando e sob os cuidados da família. A gente fica revoltada, mas queremos Justiça. O meliante que fez isso tem que pagar de um jeito ou de outro", disse a mãe, uma auxiliar de limpeza de 37 anos que teve o nome omitido para preservar a vítima.
"Assim como a gente soube [do vídeo] e vocês [da imprensa] souberam, o bandido também soube. A divulgação dessas imagens pode ter atrapalhado a polícia", disse a mãe. "A polícia disse que o vídeo pode ter espantado o criminoso", afirmou.
INVESTIGAÇÃO
Para acusar o PM, a Polícia Civil levou em consideração que ele tem um Fiat Siena Preto e que responde por um assédio ocorrido há pouco mais de 40 dias, na mesma região. O policial militar nega ambas as acusações.
O outro caso ocorreu no dia 4 de dezembro do ano passado, às 9h. Na ocasião, a vítima, uma estudante de 19 anos, parou um carro da PM e informou que um homem "tinha passado com um carro Siena preto e tinha mostrado o órgão genital e proferido as seguintes palavras: 'olha que gostosa'".
Os PMs a convidaram para entrar no carro da corporação e andar pelo bairro para tentar localizar o assediador. Próximo a um mercado, ela o reconheceu. Foi feita abordagem e constatado que o homem é um cabo da PM. Questionado sobre o ocorrido, ele negou o ato.
Ele e a vítima foram levados ao 103º DP, na Cohab 2, em Itaquera. Lá, ele assinou o termo circunstanciado e foi embora.
Já no caso do dia 14 de janeiro, o PM afirmou que não estava na cidade.
"Nas imagens gravadas pela câmera não dá para ver as placas do carro. Ele apresentou o álibi de que estava viajando fora de São Paulo quando ocorreu o crime, apresentando recibos para comprovar isso. A vítima não o reconheceu. Em vista disso, pedimos a revogação da prisão temporária, mas ele ainda é investigado", afirmou o delegado titular do 66° DP, Antonio Salles Lambert Neto.
O PM forneceu material genético para comparação com o colhido na vítima.
BUSCAS
A Corregedoria da PM informou que neste domingo foi feita busca e apreensão na casa do cabo, mas que ele não estava no local. O departamento que investiga desvios de policiais militares no Estado aponta que existem indícios de que o PM não é o estuprador.
Segundo a investigação, o PM tem um porte físico e cor de pele diferentes do homem que foi flagrado no vídeo. Investigadores da Polícia Civil e peritos que compararam, a pedido do UOL, o vídeo e a foto do PM também dizem não parecer ser a mesma pessoa.
A Ouvidoria da Polícia de SP enviou ofícios ao Ministério Público e Corregedoria da PM pedindo que a investigação seja rigorosa. "O ideal é que um promotor acompanhe a investigação para que, havendo indícios sérios, que o PM seja denunciado e que venha a responder por esse crime bárbaro", disse o ouvidor Julio Cesar Neves.
No entanto, ele pede que a investigação seja isenta de "corporativismo". Tem que ter uma investigação. E ele tem que ter o direito de se defender, através de um processo legal. Ficando comprovado que não era ele, ele não deve responder. Do contrário, deve responder administrativamente e criminalmente", afirmou Neves.
A reportagem ligou para os telefones fixo e móvel do policial militar suspeito, mas não obteve retorno.
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PM é suspeito de estuprar jovem de 18 anos na zona leste de SP
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YouTube - 21 de jan de 2018
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LORENZO FRIGERIO
23.jan.2018 às 0h18GILVAN FERNANDES ALMEIDA
22.jan.2018 às 21h39GILVAN FERNANDES ALMEIDA
22.jan.2018 às 21h39