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15/02/11
Operação Sexto Mandamento
Operação Sexto Mandamento
De acordo com as investigações da PF, os 19 policiais presos enterravam suas vítimas nos arredores da capital. Apenas dois suspeitos detidos ficam em Goiânia. Os outros 17 serão transferidos para SP
Artur Felício*
Na tarde desta terça-feira, 15, o superintendente regional da Polícia Federal em Goiás (PF-GO), Carlos Antônio da Silva, disse que os policiais militares suspeitos de formarem grupo de extermínio enterravam suas vítimas em cemitérios clandestinos próximos a Goiânia. Esses terrenos supostamente usados para ocultação de cadáveres ainda não foram localizados pela PF.
O superintendente não prestou esclarecimento sobre nenhum caso em particular, pois as investigações estão acontecendo. A PF estima que tenham sido feitas de 40 a 50 vítimas fatais, e os primeiros registros datam de 1996.
De acordo com Carlos Antônio, os crimes não estavam diretamente relacionados. “Eles não tinham uma conexão causal direta, mas o grupo sim. O grupo agia de forma autônoma, mas um conhecendo o outro, e decidindo fazer justiça pelas próprias mãos”, afirmou.
Foi dito pelo superintendente que nem todas as vítimas eram criminosos. Segundo ele, “tinha suspeito que era criminoso, mas tinha casos de inocentes também, que morriam porque tinha que apagar o arquivo”.
Os nomes dos policiais detidos eram de conhecimento exclusivo dos policiais federais envolvidos na Operação Sexto Mandato. Dos 19 suspeitos presos, 17 serão transferidos para o presídio federal de Catanduva, em São Paulo. Outros dois ficarão em prisão temporária em Goiânia, na sede da PF-GO.
Entre os detidos estão os majores Ricardo Rocha e Alessandri da Rocha Almeida, o coronel Carlos Cézar Macário, exonerado hoje do cargo de sub-comandante geral da PM, e o capitão Câmara.
De acordo com o superintendente, “todos eles tem a ver com homicídios, ocultação de cadáveres, tortura qualificada, cárcere privado, falso testemunho, prevaricação, cada um tem uma parcela maior ou menor”, relatou.
Não há, segundo as investigações, a existência de outros grupos de extermínio que atuem no Estado.
O procurador-geral do Estado, Eduardo Abdon Moura, falou que o Ministério Público Estadual (MP-GO) está acompanhando esses casos há mais de uma década. Segundo ele, o MP percebeu a dificuldade das instituições do Estado de conseguirem avançar nas investigações e em 21 de dezembro de 2009 solicitou a participação da PF no caso.
O pedido fundamentou-se em três fatores, a violação dos direitos humanos, interestadualidade dos casos e as várias denúncias veiculadas nos meios de comunicação. As investigações foram iniciadas no início de 2010.
Secretário estadual de Segurança Pública, João Furtado Neto, disse que a investigação não abrange todo o efetivo PM, que tem mais de 12 mil integrantes, mas apenas os suspeitos. "É possível fazer segurança pública e respeitar os direitos humanos". Ele acredita que a operação representará um "divisor de águas na conduta da polícia do Estado de Goiás".
O secretario considerou que esse tipo de comportamento "gera mais violência". Falou ainda, na ocasião, da comissão criada com o objetivo de fazer “um relatório sobre a atuação das forças policiais de Goiás na investigação desses desaparecimentos de pessoas, em que é preciso ter dados técnicos e científicos embasados em fatos e em provas robustas”, afirmou.
Durante as entrevistas, o deputado estadual Mauro Rubem (PT) alegou que os cemitérios clandestinos estão situados em Aparecida de Goiânia, o que gerou reação negativa por parte do presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia e Bombeiro Militar do Estado (ACS-GO), Gilberto Lima.
Lima exigiu de Rubem a comprovação da existência e a localização dos cemitérios irregulares. Apesar da animosidade de ambos, a discussão não foi estentida.
Ex-secretários
O ex-secretário de Segurança Pública do Estado, Ernesto Roller, e o ex-secretário da Fazenda de Goiás, Jorcelino Braga, de acordo com o superintendente da PF “foram citados porque houve, em algum momento, promoções não muito ortodoxas na lista de promoções dentro da polícia militar. Tem uma lista, uma ordem de preferência (de promoção das patentes) e ali teria o tráfico de influência. Eles vieram aqui prestar esclarecimentos”, informou.
Entretanto, o superintendente da PF acredita que Roller e Braga não serão indiciados, uma vez que se trata de “um ato administrativo que não tem a ver com o foco, com o centro da investigação. O ato administrativo você faz sem saber, você tem um papel com a menção e você promove”, esclareceu.
*Colaborou Marcellus Araújo.
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