07/12/2013 07:30 - Atualizado em 07/12/2013 07:30
Alessandra Mendes e Ana Paula Lima - Hoje em Dia
Eugênio Moraes/Hoje em Dia
Diárias para aplicar exames no interior foram pagas a servidores, mas há viagens que nem aconteceram
Mais de cem policiais do Detran de Minas foram indiciados por crimes contra a administração pública. Dentre os suspeitos estão investigadores, 50 delegados e até o atual chefe do Departamento de Trânsito, Oliveira Santiago. Prevaricação, corrupção ativa e passiva e desvio de dinheiro (peculato) são algumas das práticas ilícitas identificadas.
A investigação, de autoria da Corregedoria da Polícia Civil, foi concluída e remetida à Justiça no início desta semana. Os crimes teriam sido cometidos por volta de 2003.
“É um inquérito muito delicado, que envolve vários suspeitos e inúmeras testemunhas a serem ouvidas. Por isso a conclusão demandou mais tempo”, explica o Corregedor Geral da Polícia Civil, Renato Patrício.
Sem sair do lugar
Fontes ouvidas pelo Hoje em Dia, e que pediram anonimato, garantem que o desvio de diárias para viagens motivou a investigação. Muitos dos servidores que assinavam documentos pedindo verba para aplicar exames de direção em cidades do interior sequer participavam das bancas. Até delegados embolsavam o valor ilegalmente. Hoje, a diária de um delegado gira em torno de R$ 700.
Apesar de estar ciente do indiciamento, o chefe do Detran-MG negou ontem participação no desvio de dinheiro. “A preocupação é saber o que foi apurado. Não posso falar de um inquérito a que não tive acesso. O que posso afirmar é que nunca recebi honorário por banca nenhuma”, alega o delegado Oliveira Santiago.
Em 2002, ele chegou a ser ouvido como testemunha em um inquérito sobre o caso. Na época, Santiago era chefe do Centro de Processamento de Dados do Detran-MG. Segundo fontes da Polícia Civil, a corregedoria da corporação teria deixado o episódio de lado, e a retomada do inquérito pegou a todos de surpresa. No Departamento de Trânsito, a investigação já é conhecida como “lista negra do Detran”, e a apreensão é geral em torno de quais policiais e delegados foram indiciados.
“Já pedi meu advogado para se inteirar dos fatos. O que sei é que todo mundo que trabalhava lá na época foi”, afirma o chefe do Detran.
O caso corre em sigilo na Vara de Inquéritos da capital. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que deve ser aberto um processo administrativo contra cada policial indiciado para apuração interna dos fatos.
Rombo de milhões de reais pode continuar
A quantia vultosa que teria sido desviada de forma ilegal no esquema não foi divulgada. Mas quem trabalhou no Detran-MG na época em que os desvios eram prática usual garante que a cifra está na casa dos milhões. Fontes ouvidas pelo Hoje em Dia fizeram questão de frisar que a atividade ilegal ainda não pode ser considerada extinta no departamento, já que a fiscalização seria falha.
Apesar de o assunto ser o motivo central das conversas entre policiais, e não apenas os do Detran-MG, integrantes da alta cúpula da Polícia Civil alegam desconhecer o assunto. É o caso do superintendente de Investigações e Polícia Judiciária da corporação, Jeferson Botelho. Procurado pela reportagem, ele alegou não estar ciente dos fatos.
No fim de novembro, a Corregedoria da Polícia Civil realizou operação contra uma quadrilha que obtinha carteiras de habilitação de forma ilícita.
Sete pessoas foram presas. Dentre elas, um investigador da Polícia Civil e um técnico-administrativo do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). Vários documentos falsos foram encontrados com os suspeitos.
Assunto tratado “com discrição”
Os dados relativos ao inquérito conduzido pela Corregedoria da Polícia Civil ainda são mantidos em sigilo. Há apenas a confirmação de que cerca de cem policiais foram indiciados.
Fontes ouvidas pelo Hoje em Dia dão conta de que o número total de suspeitos de cometer crimes contra a administração pública gira em torno de 150. Desses, 50 exercem, ou exerciam, a função de delegado.
A assessoria da Polícia Civil alegou não ter acesso à quantidade de policiais citados no inquérito.
O chefe da corporação, Cylton Brandão, não foi localizado para falar sobre o assunto. Segundo a assessoria, ele estava fora de Belo Horizonte.
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