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terça-feira, 26 de maio de 2020

PM retira 66 agentes de UPPs para repor policiais denunciados por corrupção

O 7º BPM, unidade que foi alvo da operação, recebeu 40 policiais de UPPs Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
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O comando da Polícia Militar vai usar agentes atualmente lotados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para repor os policiais que foram alvo da Operação Calabar, da Polícia Civil e do Ministério Público, que denunciou à Justiça 96 PMs acusados de receber propina de traficantes. Horas após a deflagação da operação, a corporação publicou em seu boletim a transferência de 40 PMs de diversas UPPs para o 7º BPM (São Gonçalo) — unidade que foi alvo da investigação e onde atualmente estavam lotados 41 agentes denunciados.
Já o 12º BPM (Niterói) — a segunda unidade com mais policiais denunciados, 20 no total — vai receber 26 policiais de UPPs. A quantidade de agentes que deixarão as unidades em favelas não será reposta. Tanto os policiais acusados de crimes quanto os tranferidos são praças.
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Palco de tiroteios diários, as UPPs estão em crise. Na última terça-feira, a explosão de uma granada atirada por traficantes terminou com a morte do porteiro Fábio Franco de Alcântara, no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Todos os policiais militares alvos da operação são praças e foram lotados no 7º BPM (São Gonçalo) entre 2014 e 2016. A quantidade de policiais acusados de corrupção representa cerca de 15% do efetivo da unidade, composta por pouco mais de 700 homens. De acordo com a investigação, semanalmente os agentes recebiam cerca de 250 mil reais de propina do tráfico. Segundo a Polícia Civil, essa é a maior operação de combate à corrupção policial já feita no Estado do Rio.
Um dos PMs presos chega à Cidade da Polícia
Um dos PMs presos chega à Cidade da Polícia Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Investigação
A investigação começou em fevereiro de 2016, quando agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) prenderam um suspeito em flagrante, com três armas de fogo e dinheiro em espécie. A partir de então, o homem — apontado como uma espécie de "gerente da propina" do tráfico do município, responsável por centralizar o transporte do dinheiro e o pagamento a diferentes grupos de policiais — aceitou colaborar com os agentes em troca de uma diminuição em sua pena. Ele está sob proteção do estado. De acordo com informações da polícia, há outro traficante que também está negociando fazer uma delação premiada.
Numa série de depoimentos prestados na especializada, ele esmiuçou como era o esquema de distribuição de propina do tráfico entre os PMs do 7º BPM, apontou os nomes de 96 agentes que recebiam valores semanalmente e entregou uma lista de números de telefones utilizados por policiais e por traficantes responsáveis pelos pagamentos. Segundo o relato do colaborador, o tráfico distribuía cerca de 250 mil reais semanalmente entre PMs que trabalhavam nos Grupos de Ação Tática (GATs), na P-2 (Serviço Reservado) do batalhão, em Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs) nos bairros do Salgueiro, de Santa Luzia, de Santa Izabel, do Jockey, do Jardim Catarina, e as ocupações dos morros da Coruja e do Alto dos Mineiros. A entrega do dinheiro era feita, geralmente, nas noites de sábado.
Em troca do pagamento, os policiais deveriam evitar operações em 44 favelas de São Gonçalo dominadas pela maior facção do Rio. A divisão era feita de acordo com a lotação dos policiais e com o perigo que esses agentes representavam para a facção. Por exemplo: cada GAT — grupos de agentes responsáveis por incursões em favelas — recebia R$ 20 mil por semana; já PMs baseados em cada um dos DPOs recebiam R$ 7,5 mil.
A ação foi batizada de operação Calabar — em referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado o maior traidor da história brasileira. Além dos PMs, a Justiça expediu também mandados de prisão contra traficantes. No total, são 184 mandados de prisão. O esquema movimentava cerca de um milhão de reais por mês.

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