17 out
Poucas vezes escrevemos aqui sobre fotojornalismo. Não por não darmos a devida importância ao assunto. O problema é que nosso conhecimento sobre o assunto é extremamente escasso, não há como não admitir. O caso de hoje é diferente, pois o problema é gritante e
recorrente.
A agressão da polícia militar do Rio Grande do Sul (Brigada Militar) aos manifestantes da Marcha dos Sem, na tarde de ontem, no Centro de Porto Alegre, foi assunto de capa do jornal Zero Hora. As fotos denunciam claramente do lado de quem o jornal posiciona-se. Na matéria da página 40, mais uma vez. As duas fotos, de Ronaldo Bernardi, mostram um fotógrafo escondido atrás dos gladiadores da BM. Não havia nenhum fotógrafo de ZH acompanhando a Marcha ao lado dos manifestantes.O jornal mostra compartilhar a visão do coronel Mendes, o Mussolini gaúcho: todo e qualquer cidadão que proteste é um baderneiro.
Essa postura tem sido constante nas matérias desse tipo em Zero Hora. Fotógrafos sempre atrás da polícia, nunca junto aos verdadeiros protagonistas do dia: os manifestantes. Sempre ao lado dos agressores, nunca dos agredidos.
Além disso, nenhuma das duas fotos das agressões mostram… as agressões! É possível isso? O pior é que é. Na mesma página 40, fala-se sobre o outro conflito deflagrado pela Brigada na capital gaúcha no mesmo dia. E aí – talvez não houvesse nenhum fotógrafo da RBS no local – a foto, menor do que a de Ronaldo Bernardi, traz no crédito “Sindicato dos Bancários”, e é a única que mostra as pancadas da polícia nas pessoas.
Esse enquadramento de ZH e Ronaldo Bernardi fica ainda mais claro quando, no mesmo dia, a Folha de São Paulo cobre um conflito semelhante na capital paulista, entre Policiais Civis em greve e Policiais Militares. Como na Zero Hora, fotografia na capa. Ao contrário do jornal gaúcho, uma belíssima foto – de Moacyr Lopes Jr. -, estética e jornalisticamente falando. Visão do alto, imagem aberta, os dois lados da confusão. Na matéria, capa do caderno Cotidiano, três outras fotografias: uma de trás da PM – de Alex Almeida -, uma de trás da PC – de Diego Padgurschi -, e uma de um manifestante sangrando – aliás, onde em ZH há uma imagem de algum dos muitos feridos resultantes do combate do Centro?
Se sozinho o problema das fotos de Zero Hora já salta aos olhos, é um murro na cara comparar com a qualidade do que fez a Folha de São Paulo em uma situação semelhante. Qualidade, honestidade e precisão na abordagem dos fatos. Faltou num jornal, sobrou no outro.
* O seqüestro da menina de quinze anos pelo ex-namorado teve hoje um final trágico. Atingida por um tiro na cabeça, a garota corre grande risco de morte. Momento de a imprensa achar culpados. Ela própria talvez seja o maior deles. Criou um espetáculo em torno do caso – apenas um das dezenas de seqüestros que estão em trânsito nesse momento no país -, e a super-exposição levou a atitudes precipitadas, tanto do seqüestrador quanto da polícia.
* Mesmo que façamos algumas críticas, o Jornalismo B apóia o CQC, da TV Bandeirantes, e acredita que o jornalismo praticado por Marcelo Tas e sua gangue é da mais alta qualidade e da mais alta importância social.
Postado por Alexandre Haubrich
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