Dos oito policiais militares sentados no banco dos réus na segunda etapa do julgamento, sete já foram interrogados
Escrito por Raísa Azevedo e Emanoela Campelo de Melo ,
Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes, o sétimo policial militar no banco dos réus da Chacina do Curió, foi ouvido pelo júri no Fórum Clóvis Beviláqua às 14h10 desta segunda-feira (4). O motorista da viatura RD 1069 negou ter visto vítimas baleadas enquanto atuava.
"Não nos deparamos naquela noite com nenhuma cena de crime", disse o PM. Ele optou por responder as perguntas da acusação.
Dos oito policiais militares sentados no banco dos réus na segunda etapa do julgamento da chacina, sete já foram interrogados.
A promotora Alice Aragão pediu para exibir vídeos, nos quais foram mostrados corpos de vítimas assassinadas na madrugada da matança que vitimou 11 pessoas na Grande Messejana.
Conforme a denúncia, José Haroldo Uchôa Gomes, Francinildo José da Silva Nascimento e Gaudioso Menezes de Matos Brito Goes, da viatura RD 1069, foram omissos "sem sequer parar para prestar qualquer socorro, tendo ignorado, completamente, a presença dos corpos estendidos ao chão. [...] Destaca-se o instante em que a viatura RD 1069 passou no cruzamento da Av. Odilon Guimarães com a Rua Elza Leite, por volta das 01h44min, entre vários veículos com pisca alerta ligado, em uma atitude, claramente, comprobatória de que os referidos Policiais Militares integraram o grupo que participou da Chacina, objeto desta denúncia", diz trecho da denúncia.
"Conclui-se, portanto, que os policiais, José Haroldo Uchôa Gomes, Francinildo José da Silva Nascimento e Gaudioso Menezes de Matos Brito Goes se omitiram, de forma dolosa, com intuito claro de proporcionar um ambiente que possibilitasse as práticas delituosas que estavam sendo praticadas na Grande Messejana, a tudo anuindo sem qualquer oposição", informa o documento.
DEPOIMENTOS
Em meio a lágrimas, o PM Gaudioso prestou depoimento até as 18h desta noite. Ele negou todas as acusações. "Eu não mereço estar passando por isso. Sempre trabalhei de forma correta”, disse ele, que logo depois começou uma oração.
“Quando eu fui preso durante nove meses, tenho uma filha, ela tinha sete meses na época. Perdi os momentos mais sublimes da vida dela e que nunca mais vou ter de volta. Quando ela chamou ‘papai’ eu estava preso. [...] a Justiça tem que ser dada, mas não com uma injustiça”, afirmou.
PM FICA EM SILÊNCIO
Já o PM Francinildo José da Silva Nascimento preferiu ficar em silêncio e se recusou a responder as perguntas da acusação e assistência de acusação. No entanto, ele negou ter visto homens encapuzados, carros com placas adulteradas e corpos em via pública enquanto patrulhava.
Francinildo é sargento, policial desde 1994 e patrulheiro da viatura RD 1069.
A fase de interrogatórios foi encerrada em torno das 18h30 desta noite.
PRIMEIRO JULGAMENTO
Na madrugada do último dia 25 de junho, após seis dias de julgamento, o Tribunal do Júri condenou os primeiros quatro PMs réus pelas mortes da Chacina do Curió. As penas somaram 1,1 mil anos no total. Foram condenados: Wellington Veras; Ideraldo Amâncio; Marcus Vinícius Costa e Antônio Abreu.
Os três primeiros foram levados para o quartel da Polícia Militar no Centro da Capital após o júri. Já Abreu foi preso nos Estados Unidos, somente neste mês de agosto.
QUANDO SERÁ O TERCEIRO JÚRI?
Uma terceira sessão do julgamento já está agendada para este ano. No próximo dia 12 de setembro, será a vez de julgar todos os oito réus que compõem o processo 3 da Chacina do Curió.
Nesta ocasião, estão previstos 21 depoimentos, sendo seis de vítimas sobreviventes, sete de testemunhas e oito interrogatórios.
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