Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Governo Tarcísio congela número de câmeras corporais em uniformes da PM em SP

 Dados obtidos com exclusividade pelo g1 apontam que não houve mudança entre fevereiro e junho nos 10.125 equipamentos disponíveis para policiamento nas ruas. Durante a campanha, Tarcísio atacou as câmeras e prometeu retirá-las, mas recuou e agora estuda ampliar o programa.

Por Arthur Stabile, g1 SP — São Paulo 

21/06/2023 04h00  Atualizado há 2 meses

 

Policiais militares começaram a usar neste sábado (1º) câmera corporal nos coletes dos uniformes na capital de São Paulo — Foto: Divulgação/PM SP

 

 O governo de São Paulo, sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), mantém desde o início do ano a mesma quantidade de câmeras corporais em uniformes de policiais militares. Implementado em agosto de 2020, o Programa Olho Vivo vinha registrando aumento gradual nos equipamentos entregues à Polícia Militar até o fim do ano passado.

 

Dados obtidos com exclusividade pelo g1, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), indicam que havia 10.125 equipamentos com os policiais em 2 de fevereiro de 2023. O número segue igual em resposta enviada no dia 6 de junho pela PM, vinculada à Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) do secretário Guilherme Derrite. São Paulo tem cerca de 100 mil policiais.

 

 

A gestão Tarcísio confirmou, por meio de nota enviada pela SSP, que não adquiriu novas câmeras, mas que tem a intenção de ampliar o programa.

 

"A ampliação das funcionalidades das câmeras corporais e a implementação dos equipamentos em todos os batalhões de policiamento do estado são compromissos da atual gestão. Atualmente, cerca de 48% dos batalhões já contam com o dispositivo, totalizando 10.125 câmeras corporais em uso pelas forças policiais em todos os turnos de serviço".

 

"Estudos estão em andamento para a expansão do programa para outras regiões do Estado, incluindo a análise da infraestrutura de rede móvel, bem como a avaliação de novas funcionalidades, como a identificação de placas de veículos roubados ou furtados, entre outras. Do total de câmeras em utilização, sete mil foram adquiridas no ano passado, e as restantes foram adquiridas em 2021."

 

Tabela abaixo mostra que os antecessores de Tarcísio, Rodrigo Garcia e João Doria, ambos do PSDB, adquiriram novas câmeras ao longo dos últimos anos. O uso do equipamento nos uniformes da PM em SP evitou 104 mortes, segundo levantamento da FGV em dezembro de 2022 e a letalidade dos policiais em serviço foi a menor da história no ano passado. 

 

Câmeras nos uniformes da PM em SP

22/jul/2020: 30

1/ago/2020: 585

20/mai/2021: 3.000

17/mar/2022: 5.600

5/dez/2022: 10.000

2/fev/2023: 10.125

6/jun/2023: 10.125

O Olho Vivo foi implantado em agosto de 2020 e começou com 585 câmeras acopladas aos coletes usados pelos policiais militares. Em dezembro de 2022, no término do mandato de Doria e Garcia, a corporação contava com 10 mil equipamentos à disposição. Antes, testes foram feitos com policiais usando 30 unidades.

 

SP teve o menor nº de mortes por PMs em serviço na história em 2022 após câmeras

De acordo com a Polícia Militar, 64 batalhões ganharam câmeras em cinco datas diferentes de ampliação do programa: em junho e novembro de 2021, além de janeiro, abril e julho de 2022. A última expansão ocorreu no dia 26 de julho do ano passado.

  

Para José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de segurança pública no governo Fernando Henrique Cardoso, não é necessário que todos os policiais militares possuam câmeras em seus uniformes. Contudo, vê o item como "bastante útil" em vários aspectos.

 Contudo, vê o item como "bastante útil" em vários aspectos.

Entenda como funcionam as câmeras corporais usadas pela PM de São Paulo
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Entenda como funcionam as câmeras corporais usadas pela PM de São Paulo

"Há uma queda substancial de agressões. [As câme

Entenda como funcionam as câmeras corporais usadas pela PM de São Paulo

 

"Há uma queda substancial de agressões. [As câmeras] Fornecem subsídios de evidência para a Justiça decretar a prisão de suspeitos e mostram correção em casos de policiais que exageraram no uso da força, o que tem levado o emprego das câmeras ao aperfeiçoamento da conduta dos policiais", diz o especialista.

 

Silva Filho afirmou ter estranhado o fato de a Polícia Civil ainda não ter aderido ao programa "pelo menos nas [equipes] de policiamento mais ostensivo, unidades como o Garra, COE e divisão de operações estratégicas. Todo tipo de ação mais ostensiva precisaria estender [o uso de câmeras] não há justificativa", diz o especialista, que não vê má vontade com o projeto por parte do governo paulista.

 

 

"Não acredito que governador queira levar a ferro e fogo o que ele falava como candidato. O candidato fala uma coisa que depois não são feitas quando assume a cadeira do Executivo. Não há movimento de retirá-las", diz, sobre as críticas feitas por Tarcísio, no ano passado, contra o uso de câmeras nos uniformes da PM (leia abaixo).

 

Governador e secretário já pensaram em tirar as câmeras



Tarcísio bate continência para oficial da PM — Foto: Fernando Nascimento/Governo SP

 

Durante o período da campanha eleitoral, o então candidato Tarcísio de Freitas atacou as câmeras em uniformes de PMs, considerando o programa como "um voto de desconfiança para o policial" e prometeu retirá-las.

  

"Na minha opinião, não [deve usar câmera]. Na minha opinião, é incompatível com o tipo de atuação, com a natureza de atuação que ela [PM] tem. E quem disse que ela não vai seguir a lei não estando com a câmera", disse Tarcísio, em agosto do ano passado.

Antes, ele havia criticado o fato de que há "350 mil condenados perambulando pelo estado de São Paulo, sem nenhum tipo de monitoramento". "Em vez de monitorar o bandido, eu preferi monitorar o policial?", afirmou, em junho de 2022.

 

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A posição de Tarcísio mudou. Em outubro, durante a campanha para o 2º turno contra Fernando Haddad (PT), afirmou que iria chamar as forças de segurança para avaliar as câmeras "do ponto de vista técnico a efetividade ou não, e aperfeiçoamento da política pública".

 

"É uma questão que eu considero que hoje que inibe o policial. Acho que ela tem atrapalhado a produtividade. Mas isso é uma percepção", disse. "Não existe nenhuma política pública que não possa ser reavaliada, que não possa sofrer melhorias".

 

 


Como funcionam as câmeras corporais da Polícia Militar de São Paulo — Foto: Arte/g1

 

Secretário definiu câmeras como 'forma de intimidação'

O atual secretário da Segurança, Guilherme Derrite, foi outro político a criticar a implementação das câmeras nos uniformes. Ex-PM da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), ele declarou em abril de 2021, quando era deputado federal, que o programa mostrava que o governo de SP tratava seus policiais "sempre com desconfiança e desmotivação".

 

Em novembro de 2021, comentou ação dentro de um shopping e disse que "os policiais que entraram no shopping arriscando suas vidas são os mesmos que têm câmeras nas fardas como forma de intimidação para que atirem cada vez menos para se defender". 

 


O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Muraro Derrite, esteve, na manhã desta terça-feira (24), na cerimônia de comemoração do 18° aniversário de instalação do 8º Comando de Policiamento do Interior (CPI-8), em Presidente Prudente (SP) — Foto: Betto Lopes/TV Fronteira

 

O discurso mudou quando Tarcísio oficializou Derrite como escolhido para comandar a Secretaria da Segurança. À TV Globo em janeiro deste ano, ele garantiu que o governo não iria acabar com o programa, mas ampliar sua funcionalidade.

 

"O programa vai ser mantido e a Polícia Militar vai apresentar um planejamento estratégico para um novo convênio para expansão dessas câmeras. Isso está sendo estudado pela Polícia Militar, também os custos das câmeras são consideráveis", afirmou Derrite naquele mês.

 

Letalidade de PMs em serviço foi menor da história

A quantidade de pessoas mortas por policiais militares em serviço, as chamadas Mortes Decorrentes de Intervenção Policial (MDIP), foi a menor da história em 2022 com a ampliação do Programa Olho Vivo. O total caiu de 423 mortes em 2021 para 256 em 2022.

 

 

O dado faz parte de um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com a Unicef divulgado em maio.

 

Pesquisadora moradora de favela em SP diz que câmeras nas fardas dos PMs levaram 'sensação de sossego' à comunidade

A redução de letalidade de adolescentes foi de 80,1%, com queda de 171 casos em 2017 para 34 em 2022.

 

Os pesquisadores destacam que, embora a letalidade provocada por policiais militares passe a cair a partir de 2018 entre crianças e adolescentes, a queda se acentua a partir de 2020, ano de implementação das câmeras operacionais portáteis.

 

PMs de 18 batalhões que passaram a usar câmeras em uniformes registram letalidade zero

Nos batalhões que incorporaram o uso das câmeras corporais tiveram redução de 76,2% na letalidade dos policiais militares em serviço entre 2019 e 2022, enquanto nos demais batalhões a queda foi de 33,3%. O número de adolescentes mortos em intervenções de policiais militares em serviço caiu 66,7%, passando de 102 vítimas em 2019 para 34 em 2022.

 

"Com a implementação das câmeras corporais e outras medidas de controle, os adolescentes deixaram de ser o principal grupo vitimado pela PM", destacou Samira Bueno, diretora do FBSP.

 

Leia o posicionamento da SSP na íntegra:

 

"A ampliação das funcionalidades das câmeras corporais e a implementação dos equipamentos em todos os batalhões de policiamento do Estado são compromissos da atual gestão. Atualmente, cerca de 48% dos batalhões já contam com o dispositivo, totalizando 10.125 câmeras corporais em uso pelas forças policiais em todos os turnos de serviço. Instaladas no uniforme dos policiais, as bodycams contam com um sistema ininterrupto de gravação e transmissão das imagens em tempo real, facilitando a tomada de decisão e dando mais transparência e legitimidade às ações dos agentes.

 

Estudos estão em andamento para a expansão do programa para outras regiões do Estado, incluindo a análise da infraestrutura de rede móvel, bem como a avaliação de novas funcionalidades, como a identificação de placas de veículos roubados ou furtados, entre outras. Do total de câmeras em utilização, sete mil foram adquiridas no ano passado, e as restantes foram adquiridas em 2021."

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/06/21/governo-tarcisio-congela-numero-de-cameras-corporais-em-uniformes-da-pm-em-sp.ghtml

As perguntas sobre as câmeras da PM no Guarujá que a gestão Tarcísio não quer responder

 17/08/2023 8h08

Jeniffer Mendonça


Ponte questionou Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público de SP a respeito do uso do equipamento na Operação Escudo e os procedimentos que não foram cumpridos pela corporação

Imagens de coletes da Polícia Militar de São Paulo com câmeras acopladas em diferentes posições permitidas: no ombro ou no peito | Foto: Reprodução/PMESP

Há uma semana, a Ponte Jornalismo enviou cerca de 20 perguntas que não foram respondidas à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), ao Ministério Público estadual (MPSP) e à assessoria da Axon Enterprise no Brasil sobre as câmeras utilizadas nas fardas da Polícia Militar de São Paulo por conta da Operação Escudo, que deixou, até a publicação desta reportagem, 18 mortos após o assassinato de um soldado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) em 27 de julho no Guarujá, no litoral paulista.

Desde o dia 7 de agosto, quando em entrevista coletiva o assessor da SSP Pedro Luiz de Souza Lopes levantou a possibilidade de, pelo menos em uma das ocorrências, haver câmera sem bateria e informações contraditórias de envio ou não das imagens ao MPSP, a reportagem decidiu sistematizar uma série de questionamentos com base nas cartilhas voltadas a policiais militares sobre o uso dos equipamentos e o Procedimento Operacional Padrão (POP) 5.16.01, que trata das ações que a PM deve tomar quando usa os aparelhos.

Continuamos cobrando os órgãos e a empresa até esta quarta-feira (16/8), com informações divulgadas pela imprensa, que indicam ocorrências com câmeras descarregadas, gravações sem interesse e acionamento inadequado dos equipamentos. Até a publicação deste texto, as autoridades não deram esclarecimentos.

Abaixo, vamos listar as perguntas em negrito com a contextualização da importância delas e os materiais consultados. Os POPs são sigilosos, mas a Ponte os disponibiliza a íntegra por se tratarem de documentos de interesse público.

À Secretaria de Segurança Pública, comandada pelo secretário Guilherme Derrite e pelo governador Tarcísio de Freitas

Na coletiva de 7 de agosto, o representante da SSP disse que em 10 casos com mortes cometidas pela polícia havia o uso de câmeras, mas não foi especificado que ocorrências eram essas. Por isso, perguntamos: quais são os nomes das vítimas e/ou número dos boletins de ocorrência (BO) que se referem a essas 10 mortes?

A pasta fez uma ampla divulgação de nomes das vítimas à imprensa com indicação de antecedentes criminais, algo que não explica as circunstâncias das mortes em si e nem devem servir de justificativa para que o braço armado do Estado tire vidas. Os nomes das vítimas ou número de boletins de ocorrência servem para a checagem de como foi feito o registro do fato.

Além disso, o assessor Pedro Lopes chegou a dizer que não era obrigatório os policiais informarem nos boletins de ocorrência registrados pela Polícia Civil o uso de câmeras. Ponte inclusive mostrou que, de oito BOs de pessoas mortas pela PM na operação, apenas em um caso havia a descrição explícita de uso de câmeras operacionais portáteis (COPs) e o pedido das imagens por parte do delegado.

Contudo, os policiais militares devem registrar em seu sistema interno todo o detalhamento das ocorrências, inclusive o uso de câmeras: formulário de registro de ocorrência da PM, que seria o equivalente ao BO, e um relatório de serviço operacional (RSO). Por isso, questionamos: por que não há obrigatoriedade de informar uso de câmeras em boletim de ocorrência registrado em delegaciasendo que a Polícia Civil é responsável por investigar homicídios, incluindo as mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP)?

Em coletiva, o assessor declarou que, por questões orçamentárias, nem todos os batalhões que participaram da Operação Escudo utilizavam câmeras porque é um sistema “muito caro”, com custo mensal de R$ 7,5 milhões. De fato, o programa de câmeras vem sendo implementado de forma paulatina, sendo que há 10.125 aparelhos atualmente. Porém, como Ponte mostrou ainda em janeiro de 2023, a Lei Orçamentária Anual (LOA) prevê a meta de aquisição de novos equipamentos, prevendo o total de 15.300 câmeras em uso em São Paulo neste ano, ao custo de R$ 152 milhões.

A LOA é responsável por definir onde os recursos públicos serão empregados no ano seguinte, sendo aprovada no ano anterior, ou seja, o dinheiro para o programa já havia sido aprovado em 2022. Por que a pasta não fez licitação ou ampliou a aquisição do contrato vigente durante o primeiro semestre deste ano com o consórcio Axon/Advanta?

Além disso, informar que em 10 ocorrências de morte os batalhões envolvidos usavam câmeras não significa que todos os policiais militares usavam o equipamento. Por isso, perguntamos: todos os PMs que participaram dessas ações usavam câmeras?

Até 2022, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Unicef sobre o impacto das câmeras na mortes de adolescentes, 62 dos 135 batalhões da PM participavam do Programa Olho Vivo, que abarca o projeto de câmeras nas fardas. Entre eles, está a Rota, que estava entre um dos mais letais do estado. A relação total e atualizada de batalhões beneficiados não é divulgada espontaneamente pela secretaria.

A Polícia Militar tem cerca de 90 mil integrantes, e indagamos: quais são os critérios que determinam a prioridade de um batalhão para receber câmeras? Nesta quinta-feira (17/8), por exemplo, a secretaria anunciou que 400 câmeras foram destinadas ao 1º e 2º batalhões de Trânsito.

Mesmo em batalhões contemplados pelo programa não é possível garantir que todos os PMs usem câmeras em todas as ações. Primeiro porque nem a secretaria nem a corporação divulgam a quantidade de policiais de cada batalhão e quantas câmeras cada batalhão tem. A Ponte já fez pedidos de Lei de Acesso à Informação anteriores sobre quantidade de policiais em batalhões e a pasta sempre trata a questão como informação sensível.

Em segundo lugar, são os sargentos, subtenentes ou tenentes que integram o Comando de Grupo Patrulha (CGP), ou seja, responsáveis pela supervisão dos policiais que fazem parte de um grupo de patrulhamento, que determinam quem deve usar as câmeras quando não há aparelhos suficientes na unidade. É o CGP quem verifica se os PMs estão seguindo os procedimentos e a quem os policiais devem se reportar.

É aí que entra a questão da unidade de serviço (US), como é chamado cada grupamento de policiais que vai fazer o policiamento ostensivo. Por exemplo: uma viatura pode conter de dois a quatro policiais, mas ainda é considerada como uma unidade de serviço. Se for fazer policiamento a pé, é sempre uma dupla de PMs, que também é uma unidade de serviço.

Existe a previsão de que todos os integrantes de uma unidade de serviço devem estar equipados com câmeras. Por exemplo, se tem quatro policiais em uma viatura que vão sair para patrulhamento, os quatro devem usar câmeras.

Se não há aparelhos suficientes, existe uma ordem de prioridade que garante pelo menos uma câmera por unidade de serviço, e quem usa é o encarregado, ou seja, o policial que é responsável pela equipe e que está acima dos demais na hierarquia. Por exemplo, se tem um sargento e um soldado fazendo patrulhamento, o sargento é o encarregado por estar acima do soldado, que é a categoria mais baixa dos praças. Um PM encarregado nunca exerce a função de motorista numa viatura.

Conforme o exemplo abaixo, Cia PM é Companhia da PM, ou seja, subunidades de um batalhão dividido em pelotões (geralmente existem de duas a três companhias dentro de um mesmo batalhão). Cia FT é Companhia de Força Tática, que está presente na maior parte dos batalhões e é uma espécie de tropa mais especializada e é empregada como um reforço em situações de risco.

No desenho, é exemplificada a ausência de câmeras para uma dupla de policiais que vão fazer policiamento a pé numa companhia que tem ainda duas câmeras para os policiais da Radiopatrulha, duas para os da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas), duas para a Ronda Escolar, três para a equipe de Policiamento Comunitário e uma para outra dupla de PMs a pé. Como a equipe de patrulhamento comunitário está com mais câmeras em relação aos outros grupos, a câmera “sobrando” vai para a equipe que não tem.

Reprodução de exemplo de distribuição das câmeras retirada da cartilha da PMESP

Por isso, além de perguntarmos se todos os PMs envolvidos nas mortes usavam câmeras, também questionamos se, em caso negativo, se apenas havia uma câmera por unidade de serviço nos casos que terminaram em mortes. Se sim, quem era o encarregado de cada equipe? O encarregado de cada equipe fez disparos?

Além disso, os policiais devem sempre checar se a câmera está com a bateria carregada antes de sair para o patrulhamento. A câmera fica na doca (docking station), que é utilizada para recarregar a bateria e descarregar os dados das cops, conforme a ilustração abaixo que retiramos da cartilha e identificamos os nomes.

Reprodução de ilustração das câmeras e das docas retirada da cartilha da PMESP

Conforme as normas da corporação, se a câmera estiver descarregada, com menos de 95% de bateria ou com qualquer anormalidade, o policial deve formalizar um registro notificando o que ocorreu e avisar o CGP, “bem como o Comandante da Companhia e o policial telemática do batalhão (fiscal do contrato), na primeira oportunidade”.

O POP ainda aponta que o CGP deve notificar o Comando de Força Patrulha (CFP), que está acima dele, sobre o problema para a troca do equipamento. A duração da bateria da câmera é de 12h, mesmo tempo de turno de serviço de um policial. A informação de carregamento da câmera é consultada na tela, como indica a ilustração abaixo sobre as funções do equipamento.

Reprodução de ilustração do guia de funções da câmera da Axon retirada da cartilha da PMESP

Inclusive, uma das cartilhas tem uma seção de perguntas e respostas que sugere o uso de um carregador USB para ligar na tomada caso a bateria esteja acabando ou com menos de 10% de carga ou deixar na doca recarregando enquanto o policial realiza atividades que não precisem ser gravadas, como almoçar. Ou o policial pode solicitar a troca do equipamento ao CGP. Tudo deve ser notificado.

Além disso, em casos de morte praticada pela PM, o POP determina que as câmeras dos policiais envolvidos devem ser entregues ao “Comando de Força Patrulha ou equivalente”, ou seja, o CGP. Eles ficam responsáveis pela custódia dos equipamentos até que o conteúdo armazenado seja descarregado.

Considerando que o Ministério Público declarou que em pelo menos três casos as baterias estavam descarregadas, o que chama muita atenção pelos procedimentos descritos, questionamos:

Houve registro de alguma anomalia em câmeras ou na doca antes da saída para patrulhamento? Se sim, quais foram e quantas câmeras foram afetadas? 

Quais eram os policiais integrantes de Comando de Grupo Patrulha (CGP) e Comando de Força Patrulha (CFP), durante a Operação Escudo, entre os dias 27 de julho e 5 de agosto de 2023?

Houve algum tipo de notificação ao CGP e ao CFP sobre inoperância (defeito técnico, danos no equipamento, extravio, etc.) das COPs nesse período quando os policiais já estavam em campo para patrulhamento? Se sim, quais foram e em quais circunstâncias? Quantos equipamentos foram afetados?

Que medidas foram tomadas depois? Há comunicação ao consórcio Axon/Advanta? O aparelho foi trocado?

Como Ponte já mostrou em reportagem de 2021, a câmera grava ininterruptamente, sem o policial precisar ligar e desligar a câmera enquanto está trabalhando. Contudo, para casos de interesse policial, ou seja, abordagens, perseguições e afins, ele deve apertar um botão que identifique que essa gravação é importante. Isso faz com o que o áudio seja acionado e a imagem da câmera tenha uma resolução melhor.

O áudio condicionado às ocorrências, segundo a PM, foi uma forma de garantir a privacidade do policial. Por outro lado, também se tornou um meio de policiais que querem mascarar suas ações ao não acionarem o áudio ou, ainda, taparem abertamente as lentes das câmeras, como revelamos no ano passado, em um outro caso no Guarujá.

Inclusive, a Ponte questionou a assessoria da Axon se durante todo o período de vigência do contrato com a PM de São Paulo, desde 2020, e especificamente no intervalo de 27 de julho a 5 de agosto de 2023, a corporação comunicou algum tipo de problema nos equipamentos ou pediu trocas, mas não houve resposta.

Exemplo fictício de como funciona a gravação da Câmera Operacional Portátil (COP), da empresa Axon, na da PM. A imagem foi retirada do projeto de aquisição dos equipamentos do governo paulista. A cor laranja indica acionamento pelo PM de um momento de ocorrência policial; já a azul é a gravação diária do serviço que não tem interesse para uma investigação.

Também perguntamos se a Polícia Civil, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Poder Judiciário e a Ouvidoria das Polícias têm cadastro de usuário externo na plataforma Evidence, que é da Axon e é utilizada para armazenar as imagens das câmeras. Há previsão de criação de usuário externo para acessar ocorrências específicas, tendo em vista declarações sobre pedido de envio de imagens.

Isso porque já revelamos casos em que o pedido se dava por ofício e a PM enviava uma pasta com os arquivos das imagens, mas não havia a íntegra de toda a ação, como na reportagem sobre dois rapazes acusados de participarem de um golpe por pix.

Ajude a Ponte!

Fizemos a mesma pergunta ao MPSP, inclusive indagamos de que forma o órgão está monitorando o contrato das câmeras, mas a assessoria não respondeu as perguntas nem concedeu entrevista quando solicitamos no dia 7 de agosto ao informar que os promotores não se manifestariam. Na terça-feira (15/8), o procurador-geral de Justiça Mario Sarrubbo disse à TV Globo que o órgão teve acesso a 50 horas de gravações e que receberam laudos cadavéricos de 12 vítimas. Fizemos novo pedido de entrevista na quarta-feira (16), diante das atualizações do caso, mas também não houve resposta.

https://ponte.org/as-perguntas-sobre-as-cameras-da-pm-no-guaruja-que-a-gestao-tarcisio-nao-quer-responder/