Corregedoria investiga PMs por "mensalão do tráfico" e morte em São PauloImagem: Reprodução/TV Globo
Policiais militares da Força Tática do 5º Batalhão, na Vila Gustavo, zona norte da capital paulista, traficavam drogas apreendidas, matavam moradores de rua e adulteravam as cenas dos crimes para despistar a investigação das autoridades.
Mensagens trocadas pelos policiais militares em um grupo criado no aplicativo WhatsApp indicam também que os PMs extorquiam dinheiro de traficantes de drogas ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e comemoravam o recebimento da propina com churrascos realizados dentro da unidade da corporação (veja algumas dessas mensagens no decorrer dessa reportagem).
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo realizou ontem uma operação que cercou a sede do 5º Batalhão, na Vila Gustavo, zona norte da capital paulista, para apurar denúncias contra policiais da unidade.
Ninguém foi preso durante o cerco promovido pela Corregedoria. Foram vasculhados armários utilizados pelos investigados, em busca de prova das ações irregulares. A investigação segue em sigilo.
O caso foi revelado por reportagem publicada no dia 31 de janeiro pelo site Ponte Jornalismo.
O UOL teve acesso a essas mensagens. O site Ponte Jornalismo entregou em janeiro essas mesmas mensagens à Corregedoria da PM paulista.
Em uma delas, um PM investigado propõe vender quatro dos seis tijolos de maconha que estão guardados dentro do próprio batalhão.
Denúncias
Na véspera do Natal do ano passado, a Corregedoria da PM recebeu denúncias informando que PMs da Força Tática do 5º Batalhão cobravam uma espécie de "mensalão" de traficantes de drogas do Jardim Brasil.
O autor da denúncia chegou a divulgar mensagens de WhatsApp de PMs da Força Tática negociando com um traficante o valor da propina em R$ 7.500,00 mensais.
Na troca de mensagens, os policiais militares demonstram insatisfação com o valor cobrado e ameaçam exigir uma mesada de R$ 10 mil para não coibir a venda de drogas no bairro.
Segundo o denunciante, o ponto da venda de entorpecentes funcionava na rua Tenente Sotomano e a propina era cobrada sempre por um tenente e ao menos quatro cabos da Força Tática.
Em uma das mensagens de WhatsApp, um cabo comenta com um traficante que a "biqueira" (ponto de venda de drogas) da rua Tenente Sotomano era uma mina de ouro e chegava a faturar R$ 30 mil por semana com a comercialização de cocaína.
O denunciante também informou à Corregedoria que PMs da Força Tática abordaram, no ano passado, um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e tentaram extorqui-lo, pedindo R$ 100 mil para não prendê-lo. Como o criminoso não tinha o dinheiro, os PMs roubaram um fuzil dele.
Ainda segundo a denúncia, os PMs corruptos realizavam churrascos regados a bebidas e drogas com parte do dinheiro obtido com a extorsão contra os traficantes da região.
Mortes de moradores de rua
A Corregedoria da Polícia Militar abriu dois inquéritos para apurar as denúncias contra os PMs da Força Tática do 5º Batalhão.
A morte de pelo menos dois moradores de rua é um dos pontos centrais da investigação. As mensagens indicam que os policiais militares cometeram os homicídios, retiraram os corpos dos locais, e colocaram um fuzil no novo local para indicar, falsamente, que houve um tiroteio. Há indícios de que a fraude foi flagrada por câmeras de rua.
Os policiais integrantes da Força Tática foram chamados a prestar depoimentos sobre esses casos, em dezembro do ano passado.
Após a tomada de depoimentos, um dos suspeitos xinga uma tenente da Corregedoria da PM e comenta sobre como poderia acobertar os crimes cometidos.
Na tarde desta quinta-feira, a sede da unidade militar foi cercada por oito viaturas do órgão fiscalizador, além de outros três veículos (descaracterizados). Foram vasculhados armários usados pelos policiais militares da Força Tática do 5º Batalhão.
Resposta da PM
A Polícia Militar informa que "nesta quinta-feira (25), após recebimento de denúncia anônima informando irregularidades supostamente cometidas por policiais militares do 5º BPM/M, a Corregedoria da PM desencadeou Operação na sede daquela unidade".
A nota continua: "em razão dos fatos contidos na denúncia, a investigação prossegue e é conduzida de forma sigilosa, uma vez que a divulgação precoce do seu teor pode comprometer as ações da Corregedoria".
Por fim, a Polícia Militar afirma "que é uma instituição legalista e que, conforme amplamente divulgado ontem (25), vai a fundo nas investigações".
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou hoje que não vai tolerar abusos cometidos por policiais militares.
"Quero deixar claro aos que aqui estão. Volto a repetir: não vamos tolerar abuso de violência ou de qualquer tipo de disfunção naquilo que representa um policial militar ou civil no cumprimento das suas tarefas".
121 Comentários
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Estamos todos perdidos.
Pesa-me dizer que esses "irmãos" de farda, amigos dos criminosos, são bem capazes de querer limpar o caminho. Ai, dos PMs corregedores... Policial que muda de lado, não deve nem ser chamado de policial, é bandido mesmo. Que triste, tudo isso. Medo!
Quando não se envolvem com traficantes criam empresas de segurança. Liberam a roubalheira em determinado bairro, criam o caos e depois vendem "serviços de segurança" com PMs nos horários de folga. Avisam a bandidagem para atuar em outro lugar e criam mais uma obrigação à população. Milícias disfarçadas.
Os deputados da "bancada da bala" deveriam urgentemente propor, votar e aprovar uma lei estabelecendo que as penas de crimes cometidos por policiais sejam o dobro das penas normais.
Todo mundo sabe, em especial as próprias polícias de todo país que, existem policiais e “policiais”, ou seja, policiais íntegros, dignos do distintivo e uniforme que usam e policiais que usam ou têm as mesmas coisas, mas que são bandidos que fazem parte das instituições, principalmente nas PMs em todos os estados, algumas vezes até com a conivência de seus superiores! Não se faz mais policiais como antigamente, ou seja, 40 anos ou mais atrás. Até temos, mas são poucos.
Até o momento nenhuma novidade, qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que dentro de todo cesto existem frutas podres, obviamente esses agentes bandidos são inaceitáveis dentro da PM, ainda mais sendo pagos com dinheiro do contribuinte, mas eles existem e não é de hoje. O corporativismo que existe em todas as áreas humanas, principalmente nessas mais fechadas ligadas ao serviço público conservador, protegem esses mau elementos.
Tinham que acabar com esse Romão Gomes e prender em presídio comum
Gostaria de entender uma coisa: A reportagem fala de investigação em sigilo, então como divulgam parte do conteúdo ? Isso não é um jornalismo sério!! Dando motivo para sumirem provas e testemunhas...
O que me dizem Srs José Luis Datena e Luis Bacchi?
Não se deve generalizar, nem acobertar frutas podres
Então comando da polícia militar SP Enquanto, vocês protegerem os “ puliças”. Colocando-os em serviço administrativo para o inquérito corret na corregedoria. O cidadão se lasca todo Por que vocês não fazem como em muitos países Expulsa os bandidos, prende e são julgados pela justiça comum? Fora isso vocês comando so protegem os “ puliças”
Somos reféns dessas "forças de segurança". Está difícil para a instituição polícia. A PM já perdeu sua identidade.