Autor: Antonio Werneck
Fonte: O Globo, 28/09/2005, Rio, p. 25
Investigadores apuram se arrombamento de portas não passou de uma farsa encenada para encobrir envolvidos
A possibilidade de os R$2 milhões em dólares, euros e reais que desapareceram há duas semanas de dentro da Polícia Federal não terem sido levados ao cofre no dia da sua apreensão passou a ser investigada esta semana pelos agentes federais do Rio. Pela nova linha, o arrombamento de seis portas e a violação do cofre no interior da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) foram uma farsa, executada apenas para forjar uma ação que não ocorreu. Três policiais são investigados, suspeitos de terem atuado diretamente no roubo. Os nomes não foram divulgados.
Cédulas deveriam ter sido xerocadas
O dinheiro foi apreendido na sexta-feira durante a Operação Caravelas. Os 677 mil euros, US$63 mil e R$21 mil estavam na casa do empresário português Antônio dos Santos Damaso, um dos 11 presos acusados de integrar uma quadrilha que pretendia enviar à Europa 1,6 tonelada de cocaína escondida em bucho de boi. No mesmo dia, as notas foram apresentadas à imprensa e deveriam ter sido xerocadas e postas no cofre da DRE. Para os encarregados das investigações, isso pode não ter ocorrido. Os investigadores já sabem que até meia-noite de sábado havia gente na DRE e que o arrombamento das portas ocorreu entre 1h de domingo e as 8h de segunda-feira. A Polícia Federal confirmou ontem que essa hipótese está sendo investigada.
Para chegar aos autores do roubo, os encarregados das investigações estão ouvindo os depoimentos até mesmo das faxineiras de uma empresa que presta serviço no prédio da Superintendência da PF do Rio, na Praça Mauá. Até ontem 70 pessoas foram ouvidas no inquérito instaurado para chegar aos autores do roubo. Já prestaram depoimento os 59 policiais federais afastados (delegados, escrivães e agentes), servidores da PF e funcionários de empresas terceirizadas. Hoje mais dez depoimentos estão sendo esperados.
¿ O delegado federal Marcos Cotrim, que comanda as investigações, estima em mais de cem o número de pessoas que deverão ser ouvidas até sexta-feira ¿ diz um policial.
Com o retorno do delegado José Milton Rodrigues, superintendente da PF no Rio, foi formalizada também esta semana a criação de um Gabinete de Crise (previsto no regulamento interno da PF) para centralizar as decisões e atuar de forma conjunta nas investigações.
O grupo tem como membros o próprio superintendente do Rio; dois delegados do setor de Inteligência da PF; e os seguintes delegados federais: Marcos Cotrim, Daniel Sampaio (especializado em gerenciamento de crises e ex-diretor do Comando de Operações Táticas da PF); Roberto Prel, delegado regional do Rio; e Walmir Nunes, delegado regional de Brasília.
Na Superintendência do Rio a criação do gabinete é encarada como uma intervenção, já que o voto de Minerva é do delegado Paulo Lacerda, diretor-geral da PF.
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