Há seis anos a auxiliar de serviços gerais Claudia da Silva Ferreira foi baleada com dois tiros enquanto ia comprar pão para a família. Seu corpo foi jogado no porta-malas de uma viatura da PM, a porta abriu, e a mulher de 38 anos ficou pendurada pela roupa no para-choque. Ela foi arrastada por 300 metros. O caso de Claudia ficou conhecida como a “arrastada”. Mais um adjetivo que desumaniza uma mulher negra morta de uma maneira tão violenta, em 16 de março de 2014, no Morro da Congonha, em Madureira, um bairro da Zona Norte do Rio famoso, justamente, por ser um local onde a cultura do povo negro é muito presente.
Até hoje nenhum dos policiais militares acusados do homicídio e da remoção do cadáver de Claudia Silva Ferreira foi julgado ou punido pela corporação. Dois dos PMs que integravam a patrulha se aposentaram depois do homicídio. Os outros quatro agentes seguem trabalhando nas ruas da Região Metropolitana do Rio.
Na época, três policiais chegaram a ser presos, mas foram soltos dias depois. Dois deles tinham, no histórico, registros de homicídios decorrentes de intervenção policial, segundo a Polícia Civil. Mas apenas em março de 2019, cinco anos após o crime, foi realizada a primeira audiência do caso. Na ocasião, foram ouvidas testemunhas de defesa e acusação. O processo judicial contra os policiais anda devagar quase parando na 3ª Vara Criminal da capital. A próxima audiência, em que serão ouvidos os réus, está marcada para o próximo dia 25 deste mês.
Dois dos PMs, o capitão Rodrigo Medeiros Boaventura, que comandava a patrulha, e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno, respondem pelo homicídio de Claudia. Após as audiências, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira vai decidir se a dupla vai à júri popular. Já os subtenentes reformados Adir Serrano e Rodney Archanjo, o sargento Alex Sandro da Silva e o cabo Gustavo Ribeiro Meirelles respondem pelo crime de fraude processual, por terem modificado a cena do crime, removendo Claudia, já morta, do Morro da Congonha. Todos respondem ao processo em liberdade.
Se o processo anda lento na justiça comum dentro da PM podemos dizer que nem andar andou. A corporação abriu sequer um processo administrativo para avaliar se os policiais têm condição de permanecer na corporação. Eles nunca foram punidos, segundo a PM, pois, “as medidas administrativas no âmbito da corporação estarão vinculadas ao resultado do julgamento”, conforme a corporação declarou em nota ao jornal Extra.
De acordo com o Regulamento Disciplinar da PM, entretanto, os processos judiciais e administrativos correm separadamente. Há diversos casos de processos administrativos abertos sem uma sentença judicial: o sargento reformado Ronnie Lessa, por exemplo, acusado do homicídio da vereadora Marielle Franco, já passa por um Conselho de Disciplina, mesmo sem ter sido condenado.
Segundo informações apuradas pelo jorrnal Extra os quatro PMs que seguem na ativa estão lotados em batalhões da Região Metropolitana e não tem qualquer restrição de atuação: podem patrulhar as ruas e até participar de operações. O comandante da patrulha foi promovido desde então: na época do crime, o capitão Rodrigo Boaventura era tenente. Hoje, ele trabalha no 41º BPM (Irajá). Dois dos PMs, o sargento Zaqueu Bueno e o cabo Gustavo Meirelles, trabalham no 7º BPM (São Gonçalo). O sargento Alex Sandro da Silva Alves trabalha no 9º BPM (Rocha Miranda), mesma unidade em que trabalhava na época do crime.
Após receberem uma indenização do Governo do Estado (o valor não foi divulgado) a família de Claudia deixou o Morro da Congonha e se mudou para a Zona Oeste da cidade.
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