27 de fevereiro de 2013 • 14h09 • atualizado às 14h29
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Virginia Messick se tornou recruta da Força Aérea dos Estados Unidos aos 19 anos, no início de 2011. Em abril daquele ano, ela foi estuprada por um superior, mas não contou a ninguém até que veio à tona um grande escândalo de abusos sexuais na base de treinamentos Lackland, onde era treinada. Messick relatou ao jornal New York Times sobre o sofrimento que passou dentro da corporação.
Messick, agora com 21 anos, é uma dos 62 recrutas identificadas como vítimas de abuso sexual ou conduta imprópria por parte de 32 instrutores da base de Lackland, localizada nos arredores de Santo Antonio, no Estado americano do Texas, entre 2009 e 2012. Ela é a primeira das vítimas a vir a público contar sua história.
Até o momento, sete instrutores da Força Aérea foram condenados em corte marcial, incluindo o seu agressor, sargento Luis Walker, que cumpre pena de 20 anos de detenção por crimes envolvendo 10 mulheres, incluindo ela. Outros oito oficiais aguardam a conclusão do julgamento e quinze estão sendo investigados, além de dois militares de alta patente que foram desligados de suas posições de comando.
Messick deixou sua cidade natal em Baker, Flórida, para se juntar à Força Aérea em março de 2011. Ela foi designada a fazer parte de um grupo de treinamento formado apenas por mulheres e sobre a supervisão do sargento Walker, e raramente outro oficial as supervisionava.
Ela conta que rapidamente começou a receber tratamento especial de Walker. Por exemplo, ele a deixava acessar e-mails de um computador em seu escritório, algo que não era permitido na base. Durante uma dessas visitas, Walker a agarrou e começou a tocá-la. Messick exigiu que ele parasse. "Ele disse, 'eu juro que isso não vai acontecer de novo'", relembra.
Contudo, pouco tempo depois, Walker ordenou Messick a entregar toalhas a uma sala vazia do dormitório das recrutas. Ali, ela conta, foi estuprada. O sargento então teria dito que o ato tinha sido divertido e que deveriam repeti-lo outra vez.
Daquela vez, porém, Messick não veio a público. "Como eu deveria reportar algo, se a pessoa para quem eu deveria reportar é quem me estuprou?", pergunta ela. A jovem tentou lidar em silêncio com a agressão. Um mês depois, chegou a se casar com um amigo na Força Aérea. "Eu acho que estava tentando achar algum tipo de proteção", diz. Eles logo se separaram.
A ex-recruta só denunciou seu agressor quando uma investigação foi aberta sobre os abusos cometidos na base de Lackland a partir de uma denúncia de uma recruta que não tinha sido estuprada, mas sabia da realidade. Ainda assim, Messick conta que, ao ser interrogada pelos investigadores do caso, não conseguiu ir além de dizer que ela e seu antigo supervisor tiveram relações sexuais. Apenas quando ele foi julgado, em 2012, é que ela contou à corte marcial sobre o estupro.
Mais de 3 mil casos de agressão sexual dentro das Forças Armadas dos Estados Unidos foram reportados apenas em 2011. No entanto, acredita-se que o número seja muito maior, especialmente pela dificuldade das vítimas em identificar alguém seguro para fazer a denúncia. Segundo o secretário de Defesa, Leon Panetta, mais de 19 mil casos podem ter ocorrido naquele ano. Um estudo de seu ministério descobriu que uma em cada três mulheres em serviço já foram vítimas de algum tipo de agressão sexual, taxa duas vezes maior do que entre civis.
Messick voltou para casa e desistiu de sua carreira militar. Ela foi diagnosticada com transtorno do estresse pós-traumático, mas conta que as Forças Armadas a abandonaram à própria sorte e que só conseguiu ajuda após sua mãe exigir de um advogado que conseguisse ajuda. A ex-militar conta que a ajuda tem adiantado. Ela voltou a se casar em dezembro passado.
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