Primeiro capítulo da Série Especial 'Tráfico e & Milícia: Uma Nova Firma' mostra como TCP entrou na disputa por 4 bairros da cidade
Enviado Direto da Redação
Por Alan Emiliano, Ari Lopes, Renata Sena e Sérgio Soares
Edição: Ari Lopes e Sérgio Soares
Na última segunda-feira (20), o comerciante P. L.S, 64 anos, havia acabado de abrir seu bar que administra há mais de 20 anos, em Visconde Itaboraí, quando recebeu uma 'visita' que tem se tornado rotineira nos últimos tempos: dois homens, numa moto para cobrar a 'taxa de segurança' mensal de R$ 100 estipulada por um grupo de milicianos. Mas, para surpresa dele, menos de uma hora depois, mais dois homens apareceram, também de moto, para realizar a cobrança, e avisando que a partir daquele dia uma nova 'firma' havia assumido o serviço de segurança nas ruas do bairro.
Hoje, no primeiro capítulo da série especial 'Tráfico & Milícia, Uma Nova Firma', O SÃO GONÇALO vai contar como o 'racha' na milícia que agia em Itaboraí, formada por PMs e ex policiais expulsos da corporação, levou a associação de parte do grupo com traficantes de drogas da facção Terceiro Comando Puro (TCP), o que vem causando uma disputa por territórios em bairros do município da Região Metropolitana do Rio.
De acordo com investigações, tudo começou após uma megaoperação da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), em conjunto com o Ministério Público, que desarticulou o grupo paramilitar liderado, de dentro de um presídio, por Orlando Oliveira de Araújo, o 'Orlando Curicica', em agosto do ano passado. Com uma série de prisões, os remanescentes da milícia se dividiram. De um lado, ficou a ala liderada por uma mulher, Rosane Moreira da Silva, a 'Tia' e seu marido, identificado como 'Eduardo Negão'. Do outro, milicianos comandados por Renato Nascimento Santos, o 'Renatinho Problema', ou Natan, aliado de 'Curicica', que também está preso. Para tentar fortalecer seu grupo, 'Renatinho' procurou uma aliança com criminosos do TCP. Policiais do setor de Inteligência da Secretaria de Segurança do Estado do Rio informaram que estão monitorando o problema e realizando operações pontuais para prender integrantes dos dois grupos.
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Capítulo 2
Como '2N' montou plano para mudar de facção e tentar 'golpe de estado' no Salgueiro
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Capítulo 2
Como '2N' montou plano para mudar de facção e tentar 'golpe de estado' no Salgueiro
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Os conflitos vem se intensificado por conta do esvaziamento das ruas em função do isolamento social e fechamento de comércios, impostos pelas autoridades em razão da pandemia do coronavírus. Milicianos e traficantes disputam o monopólio nos bairros do Centro, Nancilândia, Visconde e Porto das Caixas, onde, por mês, arrecadam cerca de R$ 300 mil, somente com o recebimento da taxa de segurança cobrada de comerciantes e moradores. Alem desse 'tributo', eles estipularam, também, o pagamento de taxas para o serviço de mototaxistas, motoristas de aplicativos, uso de TV a cabo clandestina, popularmente conhecida como 'Gatonet', e serviços de venda de botijões de gás e galões de água mineral.
Origem - As áreas em conflito estavam sob o domínio de milicianos desde julho de 2017, quando o município virou a 'menina dos olhos' do grupo liderado por 'Orlando Curicica' por conta do crescimento econômico da cidade durante a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Durante as investigações, policiais da DHNISG descobriram que a milícia de 'Orlando Curicica' havia expulsado traficantes do Comando Vermelho (CV) e montado um verdadeiro 'império' em Itaboraí, com ajuda de policiais militares lotados em batalhões da região. Na operação, 42 milicianos, entre civis e PMs foram presos, e descoberto um cemitério clandestino onde teriam sido enterrados mais de 100 corpos de vítimas da milícia, entre traficantes e moradores que se recusaram a pagar pelos serviços explorados pelo grupo criminoso. Segundo os policiais da DH, até a megaoperação do ano passado, a milícia tinha uma linha de comando único, liderada por 'Renatinho Problema', que continua exercendo funções de 'chefe', mesmo preso, desde dezembro de 2017. Na época, seu principal aliado era o sargento da PM Fábio Nascimento de Souza, conhecido como China. 'Renatinho Problema' usava até a mãe, Maria do Socorro do Nascimento dos Santos, para recolher parte dos lucros da quadrilha em nome do filho - entre R$10 mil a R$ 15 mil por mês. Maria também foi presa na megaoperação conjunta entre a DHNISG e o Ministério Público.
Racha - Escutas autorizadas pela Justiça revelaram que o grupo começou a 'rachar' após a descoberta de que parte do dinheiro arrecadado na extorsão a moradores e comerciantes estava sendo desviado. A ala liderada pelo sargento Fábio rompeu com o grupo de 'Renatinho Problema'. As investigações da DHNISG apontam que o miliciano 'Eduardo Negão', marido de Rosane Moreira da Silva, a 'Tia', ainda com apoio de policiais militares, restabeleceu as atividades nos mesmos bairros onde o grupo já atuava.
Mas recentemente, 'Renatinho Problema', mesmo de dentro da cadeia, conseguiu 'fechar' a sociedade com líderes do 'Terceiro Comando Puro', repetindo a 'parceria' que os dois grupos já vem fazendo em algumas comunidades da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Traficantes do 'TCP' estariam enviado 'tropas' do Complexo da Maré e da Zona Oeste do Rio para fortalecer os milicianos de Itaboraí. Segundo levantamentos da polícia, a quadrilha do 'CV', fora da 'disputa', controla à distância, outros redutos em Itaboraí, nas comunidades da Reta, Manilha, Gebara, Sambaetiba, Agrobrasil e Fazendinha. "Para o TCP, esse apoio é válido, já que eles ganhariam força para recuperar alguns locais dominados pelo Comando Vermelho, por exemplo. E para a milícia, essa união garante que o trabalho 'mais sujo', como as execuções, fique na conta dos traficantes", afirmou um policial que participa das investigações.
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Os policiais afirmam que a milícia liderada por 'Renatinho', apesar de menos ativa, é mais ameaçadora. "Eles não vivem no local. Não andam armados e nem vigiam de perto. Porém, uma vez por semana, um cara vem, recolhe o dinheiro, passa as ordens e faz as ameaças. E a população cumpre. Porque eles matam muito. E já mataram muito em Itaboraí. Então, esse histórico ameaçador garante a eles a ordem do local", afirmou o policial.
No ano passado, a DHNISG descobriu uma área em Itaboraí que foi transformada em cemitério clandestino, apenas para receber as vítimas dos milicianos, e assim funcionar como 'arquivo morto' para evitar registros policiais e investigações. Pelo menos os corpos de 100 vítimas teriam sido enterrados no local.
Repressão - Por determinação do Comando-Geral da PM, equipes do 35ºBPM (Itaboraí) vem intensificando as operações nas regiões de conflito. As ações já levaram à várias prisões, tanto de criminosos ligados ao tráfico de drogas, como de milicianos do grupo de 'Eduardo Negão' e da 'Tia Rose'. O delegado Allan Duarte, titular da DHNISG, confirma as novas investigações, mas prefere manter o sigilo, para não atrapalhar o trabalho da polícia.
Portal - O Portal dos Procurados do Rio de Janeiro pede a quem tiver qualquer informação a respeito do localização dos milicianos ou de qualquer foragido da Justiça, para denunciar pelos seguintes canais: pelo Mesa de Atendimento do Disque-Denúncia (21) 2253-1177, pelo Whatsapp ou Telegram Portal dos Procurados (21) 98849-6099; pelo facebook/(inbox), endereço: https://www.facebook.com/procurados.org/, ou pelo Aplicativo para celular Disque Denúncia. O Anonimato é garantido.Leia amanhã - '2N' virou '3N', mas não quis se aliar à milícia ao dar 'golpe de estado'
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