Por Pedro Venceslau, enviado ao Rio de Janeiro
Fotos: Sergio Huoliver | 28/03/2006 12:20
Fotos: Sergio Huoliver | 28/03/2006 12:20
Portal Imprensa - O senhor reconhece que houve, como noticiou a Folha de S.Paulo, um acordo entre o Exército e o Comando Vermelho?
Cel. Graça Lemos -O Exército não reconhece que tenha havido esse acordo. Não negocia com bandidos. Os traficantes resolveram devolver o armamento porque era mais barato do que ter prejuízo pela venda de drogas.
Portal Imprensa - Se não houve acordo, por que o Exército demorou tanto para chamar a imprensa? É verdade que as armas estavam aqui (no Comando Militar do Leste) desde domingo?
Cel. Graça Lemos - Isso não tem cabimento. Quanto mais cedo nós recuperássemos o nosso armamento, melhor seria. Estamos falando da eficiência e da eficácia do Exército. As nossas tropas estavam começando a ficar desgastadas. Por que forçaríamos mais três dias de cansaço?.
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"Isso (o acordo com o tráfico) não tem cabimento. Quanto mais cedo recuperássemos nosso armamento, melhor seria"
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Portal Imprensa - A imprensa teve acesso irrestrito às ações do Exército?
Cel. Graça Lemos - Em 94 (quando o Exército ocupou os morros) a imprensa foi proibida de seguir a nossa tropa nas ações. Nesse ano, foi totalmente liberado. Inclusive, no morro da Providência, quando houve troca de tiros entre o Exército e os traficantes, uma jornalista que ficou no meio do fogo me ligou pelo celular pedindo pelo amor de Deus para que alguém fosse retirá-la do local... Essa repórter se distanciou um pouco mais do que devia e acabou no meio do tiroteio. Aí nós mandamos uma patrulha ir até ela para retirá-la do local.
Portal Imprensa - Quem é responsável pela segurança dos jornalistas em uma ação como esta?
Cel. Graça Lemos - O risco eles assumem. Quando os jornalistas chegavam ao local, recebiam do comandante quais eram as áreas de risco. E depois estavam livres para cumprir a sua missão.
Não proibimos ninguém de ir a lugar nenhum para não dizer que nós estávamos retirando liberdade da imprensa.
Portal Imprensa - O senhor acha que a Folha errou ao publicar a matéria que denunciou o suposto acordo?.
Cel. Graça Lemos - O Exército e a imprensa investigativa trabalham com informantes. Dependendo do que nós sentimos do informante, acreditamos ou não na informação. A imprensa também deve agir assim.
Nesse caso, a fonte deve ter elucubrado mais do que deveria. Ou, quem sabe, se desviado da verdade.
Portal Imprensa - O senhor acha que a imagem do Exército saiu fortalecida ou enfraquecida depois da ocupação? A matéria sobre o acordo abalou a moral da tropa?
Cel. Graça Lemos - 99% da imprensa apoiou a nossa ação. Cheguei a receber 105 telefonemas de jornalistas. Eu não conseguia falar com todo mundo, mas tentei dar à imprensa todas as informações que eu possuía. E eles sentiram-se motivados a não fazer elucubrações. Agora, a Folha de S.Paulo (que fez a matéria sobre o acordo), está a quinhentos quilômetros do Rio de Janeiro. Ela não vive a nossa rotina. Já os jornais do Rio O Dia, o Extra, O Globo, Jornal do Brasil, nos deram apoio total. Em São Paulo, o Estadão também nos apoiou.
Portal Imprensa - O Exército pretende mover alguma ação judicial contra a Folha?.
Cel. Graça Lemos - Eu acho que não. Até o momento nós não recebemos nenhuma notícia sobre esse fato.
Portal Imprensa - Por que o Exército liberou a participação dos jornalistas nas ações do Exército dessa vez?
Cel. Graça Lemos - Isso vem acontecendo no mundo inteiro. Hoje em dia, numa Guerra do Iraque, por exemplo, o que morre de jornalistas...Eles estão na frente do combate. Querem é a notícia. Certo? Então nós achamos que deveríamos agir da maneira como está sendo. Como o mundo inteiro faz.
Portal Imprensa - Por que só a Globo estava no local onde as armas foram encontradas?
Cel. Graça Lemos - Por acaso só a Globo estava no local e informou na hora, em reportagem especial.
Portal Imprensa - E por que a Globo não pode ver as armas?
Cel. Graça Lemos - Porque o General decidiu que as armas deveriam ser apresentadas à imprensa aqui (Comando Militar do Leste), às oito horas da noite.
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"Uma jornalista que ficou no meio do fogo cruzado me ligou no celular pedindo pelo amor de deus para alguém tirá-la do local"
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Portal Imprensa - Por que não no local da ação?
Cel. Graça Lemos - Porque o local da ação não tinha um local preparado para isso. E porque queríamos apresentar (as armas) junto com Secretário de Segurança. Fizemos questão disso.
Portal Imprensa - Para finalizar: o Exército avalia que a Folha errou ao noticiar o acordo?
Cel. Graça Lemos - O jornal errou. Cabe a ele, agora, comprovar. Isso é a imprensa. Nós temos que nos habituar com ela. Não podemos ficar brigando, a não ser que ela nos ofenda a moral e a dignidade.
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