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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Policiais presos em Jaguarão usavam técnicas de tortura da ditadura, diz MP

 - Atualizado em 17/09/2014 12h26

Segredo de Justiça do inquérito foi quebrado na terça-feira



Manifestação de amigos e familiares pedia soltura dos policiais na terça-feira
Foto: Júlia Otero  / Gaúcha Zona Sul

Cinco policiais militares teriam usado técnicas de tortura aplicadas durante a ditadura para conseguir confissões de suspeitos presos em Jaguarão, no sul do Estado. A Rádio Gaúcha teve acesso nesta quarta-feira (17) ao processo, que teve o segredo de Justiça quebrado ontem. De acordo com os documentos anexados ao processo, o grupo invadia as casas dos suspeitos sem qualquer mandado. 
Vizinhos e parentes relatam que os policiais chegavam atirando. Em uma casa, foram encontrados munição e cartucho de calibre 40, de uso exclusivo da polícia. Uma menina de 10 anos disse que viu o tio ter uma arma apontada na boca por um dos policiais. Um dos suspeitos chegou a ser levado na viatura pelado.
Dessa forma, os policiais recolheram cinco dos ladrões mais reincidentes da cidade. Eles queriam a confissão de quem tinha invadido e saqueado a casa de um policial e quem tinha furtado a moto de outro agente.
Para isso, segundo a promotora Claudia Rodrigues Pegoraro, eles levaram os cinco ladrões para uma casa conhecida como “chácara da porrada”. Dentro de uma sala, os suspeitos teriam apanhado durante quatro horas seguidas na madrugada do último dia 7.
Somente ontem (16) o processo deixou de correr em segredo de Justiça e a Gaúcha teve acesso, em primeira mão, aos autos. Um bandido teve o mesmo braço fraturado duas vezes. Outro, o nariz quebrado. Um terceiro ainda chegou a apresentar marcas de coturno e relho nas costas.
A promotora explica que pediu prisão preventiva não só pelas provas de tortura, mas porque os policiais envolvidos estariam atrapalhando a investigação.
“A gente constatou telefonemas dos policias para os telefones dos réus. Isso provado mediante quebra de sigilo telefônico. O policial estava telefonando e ameaçando ‘olha, vocês não abram o bico. Vocês não digam que vocês foram pra chácara no sábado, se vocês falarem, vocês vão amanhecer com a boca cheia de formiga’. Então eles tiveram q ser presos porque senão ninguém ia falar".
Os policiais ainda, para se livrar da suposta culpa, teriam forjado um flagrante. Um dos cinco ladrões, que acabou confessando ter furtado a casa de um dos policiais após tortura, foi preso. No boletim de ocorrência, os policiais relataram que o suspeito teria sido abordado na rua com os pertences furtados.
Pela maneira ilícita de obter provas, o ladrão foi liberado. Os policiais estão detidos desde o dia 13. A mulher de um deles, Carla Tormam, reclama:
“E aí a palavra de um bandido tem mais valor que a palavra do meu marido, que nunca teve problema. Isso é inadmissível. Um bandido passa três dias preso, porque roubou uma casa, confessou, foi flagrante. E o meu marido, por uma denúncia de um bandido, está preso há cinco dias”. 
A promotora rebate, dizendo que todo dia escuta de réus a alegação de terem apanhado para confessar. Mas só dessa vez resolveu processar.
“Não se trata de acreditar na palavra de um marginal contra os policiais militares. Não. Nós temos várias testemunhas, mães, tias, vizinhas, pessoas q viram eles sendo levados de casa no meio da madrugada, viram entrando na casa de pessoas sem mandado, e levados pra essa chácara. E todos eles apresentam lesões. E não são poucas, são lesões graves, lesões serias”, relata.
Segundo documentos anexados ao processo, os policiais não quiseram se pronunciar. Eles estão detidos no quartel da Brigada Militar em Jaguarão. Na terça-feira (16), uma manifestação com cerca de 100 familiares e amigos pedia pela soltura dos policiais.


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