A notícia sobre a saída do então secretário de Estado da Polícia Militar, Rogério Figueredo de Lacerda, em plena tarde de domingo, pegou até a própria cúpula do governador Cláudio Castro de surpresa. Apesar da inusitada mudança num fim semana, Castro, após um evento na Fecomércio nesta segunda feira, afirmou à TV GLOBO, que seu governo trabalha todos os dias e que a mudança era de rotina. No entanto, fontes informaram ao Extra que Castro recebera a informação de uma suposta investigação contra Figueredo no domingo, reforçada ainda pela circulação de um dossiê apócrifo com uma série de denúncias referentes à administração do ex-comandante da PM.
— Para gente não tem sábado, não tem domingo, não tem fim de semana, não tem feriado. Eu trabalho todos os dias. Era algo (a saída de Figueredo) que a gente já vinha conversando. Ontem (domingo) foi um dia de trabalho como qualquer outro. Eu já estava pensando na troca, na possibilidade de oxigenar um pouco as polícias. Estava precisando. Ontem nós conversamos e eu decidi fazer a troca — afirmou Castro, que nomeou o coronel Luiz Henrique Marinho Pires para o lugar de Figueredo.
Nos bastidores, o comentário é de que, ao receber a informação que Figueredo poderia estar na mira do Ministério Público — não se sabe ainda se estadual ou federal —, o governador decidiu agir de imediato, para evitar o desgaste de ter mais um secretário preso durante a sua gestão. Na tarde de domingo, em seu gabinete no Palácio Guanabara, Castro chamou os dois coronéis, Figueredo e Henrique. Ele conversou primeiro com o então secretário a portas fechadas, lhe comunicando a exoneração. O substituto, que aguadava na antessala, foi chamado em seguida para ser informado oficialmente da decisão.
Os Ministérios Públicos estadual e federal foram consultados sobre a possibilidade da existência de investigações contra Figueredo, mas informaram que, em caso de sigilo, os promotores e procuradores não informam procedimentos em andamento. O ex-secretário da Polícia Militar foi procurado pelo Extra, mas ele não retornou as ligações.
Na semana passada, o então secretário de Administração Penitenciária (Seap), Raphael Montenegro, foi preso e levado para Bangu 8, presídio do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. Montenegro é acusado de associação ao tráfico, inclusive internacional, com mais dois ex-subsecretários. Uma escuta ambiental feita no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná, gravou conversas do então titular da pasta com 10 chefes do tráfico da mais importante facção do Rio, negociando o retorno deles ao Rio em troca de uma trégua dentro e fora das cadeias fluminenses. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam se também houve o recebimento de vantagens política e financeira nestes acordos.
Montenegro foi o segundo secretário do governo Castro a ser preso. O primeiro foi o então secretário de Educação, Pedro Fernandes, alvo da Operação Catarata, do Ministério Público do Rio (MPRJ), em setembro do ano passado. Ele é investigado por desvios em contratos de assistência social entre os anos de 2013 e 2018, quando era titular da Secretaria Estadual de Tecnologia e Desenvolvimento Social.
A crise que começou na Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) vem se refletindo em outras pastas do governo. Quando Montenegro foi preso pela Polícia Federal, Castro tratou de exonerá-lo, nomeando de imediato o delegado da Polícia Federal Victor Poubel. No entanto, uma recomendação do MPF o contraindicou para o comando da Seap, o que fez com que o governador voltasse atrás. Embora Castro negue que tenha recuado por este motivo, o fato é que ele anunciou o delegado da Polícia Civil, Fernando Veloso, para o cargo, publicando em Diário Oficial extraordinário na tarde da última sexta-feira.
Poubel foi anunciado pelo Palácio Guanabara como diretor do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), conforme o governador havia planejado e anunciado antes da crise na Seap. Segundo a assessoria de imprensa do governo do estado, Poubel teria se recusado a assumir o comando da Administração Penitenciária optando pelo Degase. Até o fim da noite de segunda, o nome do delegado ainda não havia sido publicado no DO.
Governador troca às pressas secretário da PM por temer outro desgaste em sua administração com investigação de coronel