Quatro prisioneiros estrangeiros que fugiram em julho de uma famosa prisão na ilha de Bali, na Indonésia, têm postado desde então diversas fotos em suas redes sociais para provocar os policiais que estão à sua procura.
Foi uma fuga digna de um filme de Hollywood: usando garfos, xícaras e um balde, os quatro prisioneiros cavaram um túnel de 15 metros por baixo de um muro da prisão de Kerobokan e sumiram durante a noite.
Quatro dias depois, dois dos fugitivos – o búlgaro Dimitar Nikolon Iliev e o indiano Sayed Muhammad Said – foram encontrados se escondendo em um hotel luxuoso no Timor Leste, a mais de 2 mil km de distância de Kerobokan, e foram levados de volta.
Os outros dois fugitivos – o malaio Tee Kok King e o australiando Shaun Davidson – estão foragidos há dois meses. Davidson, 33, tinha sido preso por usar documentos falsos após ter seu visto vencido e estava prestes a ser solto.
Não há informações sobre o paradeiro de Tee Kok King, preso por tráfico de drogas.
Mas há muito debate sobre o destino de Davidson.
A polícia da Indonésia diz que ele está escondido em Bali, onde teria contatos extensos com a máfia local. No entanto, um dos maiores grupos de mídia da Austrália, o News Corp, especula que ele esteja na cidade de Pattaya, na Tailândia, considerada a capital da criminalidade no leste da Ásia.
O peruano Roberto Castro, um dos prisioneiros de Kerobokan, diz que o rumor que circula na prisão diz que Davidson está escondido na Malásia.
Mas de acordo com o perfil de Davidson no Facebook, sob o pseudônimo de Matthew Rageone Ridler, ela viajou para Amsterdã, Alemanha e Dubai (Emirados Árabes Unidos) nas semanas depois de sua fuga.
Davidson também está usando o Facebook – onde usa o pseudônimo de Matthew Rageone Ridler – para provocar as pessoas que estão em seu encalço, postando pôsteres cômicos de "procurado" e descrevendo a si mesmo como "gangster e conquistador". Ele publica atualizações como: "faz 50 dias, querem me dar uma rodada de aplausos?"
As piadinhas lhe renderam status de celebridade e comparações com Frank Abagnale, o golpista retratado por Leonardo DiCaprio no filme Prenda-me se For Capaz.
Resta a dúvida: por que Davidson participou de uma fuga tão arriscada faltando apenas 10 dias para o fim de sua sentença?
De acordo com Castro, o prisioneiro peruano, Davidson estava apreensivo em relação à sua extradição iminente para a Austrália. "Todo mundo na prisão sabe que ele escapou porque seu tempo aqui estava acabando e a polícia australiana iria pegá-lo pelo envolvimento dele com drogas em seu país natal."
Em 2014, Davidson foi indiciado pelo porte de equipamento usado para a fabricação de drogas e por posse de metanfetamina e maconha com a intenção de vender; além de dirigir sem ter uma carteira de motorista.
Em janeiro de 2015, Davidson faltou à audiência no tribunal em Perth, na Austrália, onde deveria responder às acusações e escapuliu para Bali com um visto de turista de um mês. Ele ficou foragido na ilha turística por quase um ano até ser descoberto pela imigração usando o passaporte de outro homem.
Ele foi, então, condenado a um ano de prisão e recebeu a opção de passar cinco meses adicionais no cárcere ou pagar uma multa de 100 milhões de rupias (R$ 23,6 mil). Ele escolher passar mais tempo atrás das grades, apesar de vir de uma família abastada – o que deu força à teoria de que ele preferiria estar em qualquer lugar que não fosse seu país natal.
"Shaun veio de Subiaco (um bairro rico de Perth) e sua família tem muito dinheiro", disse uma australiana que mora em Bali e faz visitas de caridade ao presídio de Kerobokan. Ela pediu anonimato por medo de ser impedida de visitar a prisão novamente.
"Mas não acho que ele tinha medo da prisão. Tinha era dos Mongols", diz ela, se referindo ao clube de motociclistas e suposto sindicato do crime com esse nome. Davidson teria ligações com eles em Perth. "Ele está devendo muito dinheiro a eles."
A Interpol colocou o fugitivo em sua "lista laranja", a de pessoas que representam uma iminente e séria ameaça à segurança pública.
Contatado pela BBC no Facebook, Davidson fez piada com a alegação de que estaria devendo dinheiro para a gangue.
"Hahahahaha você é engraçado", ele escreveu. "Não se esqueça de me mandar um link da matéria quando você publicá-la. Isso vai ser hilário. Tenha uma boa tarde."
Foi o primeiro comentário de Davidson - ou de uma pessoa que se passa por ele - desde 29 de julho, quando ele havia publicado uma mensagem dizendo que falaria com quem oferecesse mais dinheiro. Ele se recusou a dizer se recebeu alguma oferta.
Depois, ele se declarou inocente das acusações feitas contra ele na Austrália. "E eu não tenho fé no sistema judiciário para arriscar (um julgamento)", diz ele.
Fim de jogo
Daniel Lewkovitz, diretor da Calamity, uma empresa de segurança eletrônica de Sydney que presta serviço à polícia e a agências antiterrorismo, diz que encontrar Davidson não será tarefa fácil.
"Não sei de nenhum livro de regras para fugitivos que recomende provocar a polícia", diz ele. "Mas é totalmente possível que o material publicado no Facebook seja uma tentativa de despistar sendo conduzida por amigos ou por fãs virtuais."
"De qualquer forma, mesmo que a polícia indonésia consiga seu endereço de IP (identificação de dispositivo conectado à internet), as coordenadas do GPS podem não ser precisas, já que você pode usar diversos mecanismos para ficar anônimo – que só não funcionam se forem usados equipamentos altamente sofisticados de agências de inteligência."
Já para o especialista em crime organizado Clarke Jones, é só uma questão de tempo para que Davidson seja encontrado.
"É muito possível que ele esteja em Pattaya, porque há um alto tráfico de drogas rolando por lá e ele tem essas conexões", diz Jones. "Mas, onde quer que esteja, a polícia vai encontrá-lo, principalmente com esse comportamento aventureiro e provocador nas redes sociais."
"A coisa toda é vergonhosa para eles (a polícia), o que faz com que se esforcem ainda mais para pegá-lo", afirma.
"Muitos outros fugitivos fizeram isso no passado, brincar de gato e gato, e quase sempre acaba do mesmo jeito – com a pessoa atrás das grades."
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