Alunos de colégio administrado pela PM, em Manaus, aparecem em vídeo chamando o político Jair Bolsonaro de 'salvação' da nação. Conselho pediu respostas da PM e Seduc pois conduta viola artigo do ECA
*Karla Mendes / redacao@diarioam.com.br
Manaus – O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana considera uma alusão a doutrinação nazista e fascista o convite feito por alunos do Colégio Waldocke Fricke de Lyra – uma das oito escolas administradas pela Polícia Militar (PM) – ao deputado federal Jair Bolsonaro, para a formatura militar da unidade. Alunos aparecem em um vídeo, divulgado nas redes sociais na semana passada, chamando o político de ‘salvação’ da nação.
De acordo com o presidente do conselho e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Glen Wilde Freitas, a prática divulgada no vídeo afeta os estudantes e os direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Eles estão fazendo uma lavagem cerebral nos alunos em relação ao candidato Bolsonaro. Eles estão insuflando alunos menores de idade, então nós entendemos que isso também fere o Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse.
No vídeo, também publicado no canal do Youtube do político Jair Bolsonaro, com a frase “um exemplo de ensino que deveria ser adotado em todas as escolas públicas no Brasil”, os alunos do terceiro ano aparecem, organizados em fileiras, repetindo palavras ditas por um policial militar (PM). No vídeo, o PM faz com que os jovens repitam frases como “convidamos Bolsonaro, salvação dessa nação” e “nos quatro cantos ouvirão completa nossa canção”.
Assista ao vídeo:
Glen Wilde Freitas compara a prática com o que era feito por Hitler, na Alemanha. “Nas escolas alemãs, Hitler começou a doutrinar as crianças, que diziam palavras de ordem em relação a Hitler, de que ele era o salvador da nação e que iria livrar a Alemanha. Então com certeza há um paralelo entre a vida de Hitler e Bolsonaro. Eles são parecidos em suas vidas políticas”, afirmou.
Em depoimento publicado na reportagem do Jornal Folha de São Paulo, nesta terça-feira (8), uma das alunas que aparecem no vídeo critica a iniciativa. “Simplesmente não abri a minha boca como muitos, escola doutrinada. A comissão de formatura em nenhum momento veio me perguntar se eu era a favor de fazer o vídeo”, contou.
PM e Seduc sem respostas
Glen Wilde Freitas afirmou que o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana enviou um ofício ao comando da Polícia Militar (PM) e à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) solicitando respostas sobre o fato. Até a tarde desta terça-feira (08), os órgãos não haviam divulgado respostas.
“O artigo 73 da lei 9504 foi violado. Eles praticaram algo que é inapropriado e uma conduta vedada pela lei eleitoral, que é usar um espaço público para prevalecer um candidato. Nesse caso, a improbidade administrativa também foi violada”, disse.
Segundo Glen, o conselho determinou um prazo de cinco dias para os órgãos divulgarem explicações sobre o caso e afirma, ainda, que após o prazo existe a possibilidade da abertura de um inquérito por parte do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.
***Correção: O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana é independente no Estado e não tem ligação à OAB. O presidente do Conselho, Glen Wilde Freitas, é membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB.
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