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Desconfiança da população na polícia aumentou, diz pesquisa
Estudo mostra que cerca de 70% dos brasileiros não confiavam nas polícias no primeiro semestre de 2013
SÃO PAULO - A população brasileira está confiando menos na polícia, segundo dados do 7º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta terça-feira. O levantamento mostrou que 70,1% dos brasileiros ouvidos na pesquisa não confiavam na polícia no 1º semestre de 2013, número 8,6 pontos percentuais menor que o índice de desconfiança registrado no 1º semestre de 2012, quando a taxa de desconfiança ficou em 61,5%.
Nos Estados Unidos, apenas 12% possuem baixa confiança na polícia do país em 2013, revelou pesquisa do Instituto Galloup.
No primeiro semestre de 2013, a instituição da qual a população mais desconfiava eram os partidos políticos (95,1% dos brasileiros desconfiam), seguida do Congresso Nacional (81,5% desconfiam). Com índice melhor de confiança que as polícias na pesquisa aparecem a Igreja Católica (50,3% desconfiam) e as Forças Armadas (34,6% desconfiam).
Os dados foram produzidos pela pesquisa Índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e fazem parte do Anuário. Eles foram coletados junto a 3.300 brasileiros de sete estados brasileiros por semestre.
Segundo a FGV-SP, Pernambuco é o estado em que as pessoas que procuraram a ajuda das polícias se mostraram mais insatisfeitas com o trabalho das corporações. Só 27% dos cidadãos que solicitaram apoio da PM no 2º trimestre de 2013 se disseram satisfeitas ou muito satisfeitas. O percentual foi de 25% para a Polícia Civil. A Bahia é o estado em que houve maior índice de satisfação com a PM (54%) e com a Polícia Civil (50%). O Rio foi o estado com segundo melhor índice de satisfação da população com a Polícia Civil (43% ficaram satisfeitos). No Rio, o índice de satisfação com a PM ficou em 45%, o mesmo que no Amazonas. Estes dois estados só ficaram atrás da Bahia no quesito “satisfação com a PM”.
O Anuário revela que o brasileiro está mais descrente em relação às cinco instituições pesquisadas, pois o índice de desconfiança de todas elas aumentou na comparação do 1º semestre de 2012 para o mesmo período desse ano. No caso dos partidos políticos, o índice de desconfiança aumentou em 1,2 pontos percentuais. O do Congresso cresceu 2,6 pontos percentuais, o da Igreja Católica subiu 7,8 pontos percentuais e das Forças Armadas, 9,9 pontos percentuais.
O professor da FGV Rafael Alcadipani afirma, em artigo no Anuário, que alguns fatores que contribuem para a desconfiança nas polícias são a baixa taxa de resolução dos crimes, a burocracia no atendimento ao cidadão e a imagem de violência que está associada às polícias, principalmente à Polícia Militar. “Vale lembrar que os constantes confrontos entre PMs e manifestantes que aconteceram neste ano terminaram por reforçar ainda mais a imagem de uma polícia truculenta”, afirma Alcadipani, no Anuário.
Segundo o secretário-geral do Fórum, Renato Sérgio de Lima, o levantamento conseguiu captar a insatisfação da população em relação à atuação das polícias nos protestos populares de junho e isso foi mais um fator para influenciar o índice de desconfiança.
— O modelo de segurança pública é extremamente ineficiente. A polícia vê a população como inimiga e não como parceira para combater o crime. Há um estranhamento forte entre polícia e estado. A polícia não soube e não sabe responder às manifestações, porque foi pega de surpresa. Só agora a polícia está discutindo como agir nos protestos. E foi pega de surpresa porque a estrutura dela é anacrônica — disse Lima.
Diariamente, pelo menos cinco pessoas morrem no Brasil vítimas de confrontos com policiais civis ou militares, como o Globo relevou em reportagem no domingo, feita com dados do Anuário. Em 2012, 1.890 civis foram mortos em ações policiais. No mesmo período, 89 policiais civis e militares foram mortos em serviço.
O levantamento mostrou também que o risco de um policial morrer assassinado no Brasil é três vezes maior que o de um cidadão comum. A maior parte das mortes de policiais civis e militares acontecem fora do serviço.
De acordo com a pesquisa do Fórum, o Maranhão é o estado com pior índice de policiais por habitantes, com um policial para cada 710 habitantes. A média nacional é de um policial para cada 363 habitantes.
A pesquisa mostrou que a remuneração inicial bruta dos policiais civis é maior que a remuneração inicial bruta dos PMs. “Um delegado em início de carreira recebe aproximadamente R$ 10.500 por mês, ao passo que um tenente da Polícia Militar recebe aproximadamente R$ 6.500 por mês”, afirma Luis Flavio Sapori, membro do conselho de Administração do Fórum, no Anuário.
São Paulo é o estado em que os delegados têm a pior remuneração inicial bruta (considerando salário base mais gratificações e adicionais): eles receberam R$ 6.709,32 em 2012. O Mato Grosso do Sul é o estado em que a remuneração inicial bruta foi maior, chegando a R$ 18,837 no mesmo período. No Rio, ela ficou em R$ 15.715,38.
O Paraná é onde a remuneração inicial bruta do soldado da PM é maior, chegando a R$ 4.838,98. A pior foi no Rio Grande do Sul, em que o soldado ganhou R$ 1.375,71 em 2012. No Rio, a remuneração inicial bruta dos soldados em 2012 era de R$ 2.284,93 e em São Paulo, de R$ 3.023,29.
O Brasil tem 675.996 policiais, bombeiros e guardas municipais, sendo que 14,2% desse efetivo é composto por Guardas Munipais de 993 cidades.
Adolescentes infratores
O levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também mostrou que a taxa de adolescentes infratores em cumprimento de medida de internação por 100 mil adolescentes cresceu na maior parte dos estados. O índice nacional subiu de 58,3, em 2010 (quando havia 12.041 menores internados) para 64,1 em 2011 (ano em que havia 13.362 adolescentes internados).
Para a professora de Ciências Sociais da USP Liana de Paula, tem havido uma acentuada tendência de encarceramento dos menores independente da idade dos infratores.
A maior parte dos jovens cumpriam, em 2011, medidas por roubo (38,1%) e tráfico de drogas (26,8%).
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