Flagrante em Porto Alegre17/04/2013 | 10h45Atualizada em 17/04/2013 | 11h23
Afirma especialista sobre agressões da BM em abordagem
Para o coronel reformado José Vicente da Silva Filho, a corporação não deve admitir esse tipo de comportamento
Thiago Tieze
Para o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e ex- Secretário Nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, a atitude dos policiais flagrada em vídeo é completamente reprovável. Ele defende inclusive a demissão dos envolvidos, "que se mostram completamente despreparados para este tipo de situação".
No final da tarde de segunda-feira, a perseguição de policiais da Brigada Militar a uma dupla de jovens que roubou um veículo no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, terminou com uma série de agressões flagradas por leitora na Rua Cristiano Fischer entre as avenidas Ipiranga e Bento Gonçalves.
Zero Hora tentou, neste manhã, conversar com o major Marcelo Pitta, comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, que atendeu a ocorrência, mas ele não pôde receber a reportagem devido a compromissos pré-agendados.
Na manhã desta quarta-feira, Zero Hora conversou por telefone com o coronel, que atualmente presta consultoria sobre segurança. Abaixo, confira alguns trechos da entrevista:
Confira o vídeo enviado pela leitora:
Zero Hora — O que o senhor achou do vídeo?
Coronel José Vicente da Silva — O vídeo é evidência suficiente para justificar que se instaure um inquérito e até uma medida administrativa por parte da Brigada para uma eventual demissão dos policiais. Que eu acho que deve cogitar, porque não há como tolerar uma agressão estúpida por parte de profissionais. Afinal, o conceito de profissional é o de errar cada vez menos, porque o amador acerta ao acaso, de vez em quando.
ZH — Por que os policiais agiram assim?
Coronel — Ficam duas questões para uma situação destas: se a culpa é estritamente dos policiais, e até onde vai a responsabilidade da instituição sobre isso. Ou seja, a BM teria falhas a serem consideradas e que levaram a esse comportamento. São três tipos de deficiências básicas apontadas quando se fala deste tipo de déficit profissional: a primeira é um seleção precária; a segunda é o treinamento, que precisa ter qualidade e intensidade. Em São Paulo, por exemplo, a formação de um soldado, que é a base da Polícia Militar, leva dois anos. A academia que forma os soldados, há pelo menos cinco anos, tem o ISO 9002. E o terceiro fator, é o da supervisão. É necessário você ter supervisores qualificados, o supervisor de rua, no caso, é o sargento ou o tenente, de tal forma que, toda vez que se tem uma ocorrência de certa gravidade, eles correm para o local a fim de darem assistência e averiguarem se as medidas tomadas são corretas, como num caso como esse, com trocas de tiros e capotagem. Uma ocorrência dessas chama a atenção da mídia e da população. Hoje todo mundo tem câmeras em celulares. Eu vi em um site dos Estados Unidos que lá todo policial precisa trabalhar cada vez melhor, porque ele está cercado de gente filmando as suas ações.
ZH — Que medida a Brigada deve tomar
Coronel — Se a Brigada hesitar, em termos de rigor, no tratamento destas condutas, ela está acenando por uma tolerância que leva a repetição destes fatos. No meu entendimento, uma vez comprovadas as agressões, todos esses policiais deveriam, dados o direito de defesa e tudo mais, embora pareça indefensável agredir uma pessoa já presa, no meu entendimento eles são passíveis de demissão no prazo mais curto possível. Independentemente de medidas de caráter judicial. Havendo uma agressão, eles deverão se submeter a um inquérito por parte da Brigada, e, ao mesmo tempo, antes que a justiça possa condenar, o comportamento dele é profissionalmente inadequado. No meu entendimento eles teriam que ser demitidos, até para servir de exemplo de que a corporação não tem tolerância em relação a esse tipo de conduta.
ZH — As forças policiais permitem esse tipo de agressão?
Coronel — A Brigada deve ter um Pops, que é o Procedimento Operacional Padrão , que aponta quais são as medidas, comportamentos adequados em cada situação. Deve estar lá: em perseguição o policial deve alertar a central, a central deve providenciar uma tentativa de cerco, não deve ultrapassar o limite de velocidade da via no caso de colocar pessoas inocentes em risco e, em hipótese alguma, e isso deve estar salientado, em hipótese alguma há justificativa para qualquer tipo de agressão, a não ser nos casos previstos em lei, daquela agressão feita pelo policial em legitima defesa ou para defender terceiros. Simplesmente apontar uma arma para um policial justifica ele dar dois tiros no peito desse cara. Mas o indivíduo algemado ser agredido, não há nada que justifique esse tipo de conduta.
ZH — O senhor vê algum motivo para a atitude dos policiais?
Coronel — Nós temos o problema da adrenalina. Tem muita gente que acha que o treinamento do policial militar, a exemplo da Civil, tem que ser liberal. No caso do policial militar, ele tem que ser submetido a estresse desde o início. Aquela situação do sargentão dando esporro, é para provocar adrenalina e o sujeito sentir a pressão. O treinamento de stress é importante inclusive para o indivíduo aprender a ter respostas adequadas sob stress.
ZH — O senhor acha, então, que a agressão foi provocada por stress?
Coronel — É importante a pessoa saber lidar com o stress, porque quando o stress é baixo, o indivíduo tem um repertório restrito de comportamento. Por isso, muitas vezes o sujeito submetido a stress, como nesse caso em que houve troca de tiros com policiais, fuga e ameaça, não sabe como reagir. O stress de ameaça severa é muito poderoso, mas neste caso, os jovens atiraram contra os policiais, mas a ameaça já tinha passado. Então, apesar de ter um conjunto de respostas treinadas, em vez de conduzir os criminosos para a delegacia, ele teve uma reação puramente instintiva, que é a da agressão, e que não está no repertório resposta treinadas pelos policiais. E isso acontece ou porque ele não foi treinado adequadamente, ou porque, apesar de treinado, ele perdeu o controle. Pessoas que perdem o controle não podem estar em ações em que este tipo de situaçã o pode se repetir frequentemente.
No final da tarde de segunda-feira, a perseguição de policiais da Brigada Militar a uma dupla de jovens que roubou um veículo no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, terminou com uma série de agressões flagradas por leitora na Rua Cristiano Fischer entre as avenidas Ipiranga e Bento Gonçalves.
Zero Hora tentou, neste manhã, conversar com o major Marcelo Pitta, comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, que atendeu a ocorrência, mas ele não pôde receber a reportagem devido a compromissos pré-agendados.
Na manhã desta quarta-feira, Zero Hora conversou por telefone com o coronel, que atualmente presta consultoria sobre segurança. Abaixo, confira alguns trechos da entrevista:
Confira o vídeo enviado pela leitora:
Zero Hora — O que o senhor achou do vídeo?
Coronel José Vicente da Silva — O vídeo é evidência suficiente para justificar que se instaure um inquérito e até uma medida administrativa por parte da Brigada para uma eventual demissão dos policiais. Que eu acho que deve cogitar, porque não há como tolerar uma agressão estúpida por parte de profissionais. Afinal, o conceito de profissional é o de errar cada vez menos, porque o amador acerta ao acaso, de vez em quando.
ZH — Por que os policiais agiram assim?
Coronel — Ficam duas questões para uma situação destas: se a culpa é estritamente dos policiais, e até onde vai a responsabilidade da instituição sobre isso. Ou seja, a BM teria falhas a serem consideradas e que levaram a esse comportamento. São três tipos de deficiências básicas apontadas quando se fala deste tipo de déficit profissional: a primeira é um seleção precária; a segunda é o treinamento, que precisa ter qualidade e intensidade. Em São Paulo, por exemplo, a formação de um soldado, que é a base da Polícia Militar, leva dois anos. A academia que forma os soldados, há pelo menos cinco anos, tem o ISO 9002. E o terceiro fator, é o da supervisão. É necessário você ter supervisores qualificados, o supervisor de rua, no caso, é o sargento ou o tenente, de tal forma que, toda vez que se tem uma ocorrência de certa gravidade, eles correm para o local a fim de darem assistência e averiguarem se as medidas tomadas são corretas, como num caso como esse, com trocas de tiros e capotagem. Uma ocorrência dessas chama a atenção da mídia e da população. Hoje todo mundo tem câmeras em celulares. Eu vi em um site dos Estados Unidos que lá todo policial precisa trabalhar cada vez melhor, porque ele está cercado de gente filmando as suas ações.
ZH — Que medida a Brigada deve tomar
Coronel — Se a Brigada hesitar, em termos de rigor, no tratamento destas condutas, ela está acenando por uma tolerância que leva a repetição destes fatos. No meu entendimento, uma vez comprovadas as agressões, todos esses policiais deveriam, dados o direito de defesa e tudo mais, embora pareça indefensável agredir uma pessoa já presa, no meu entendimento eles são passíveis de demissão no prazo mais curto possível. Independentemente de medidas de caráter judicial. Havendo uma agressão, eles deverão se submeter a um inquérito por parte da Brigada, e, ao mesmo tempo, antes que a justiça possa condenar, o comportamento dele é profissionalmente inadequado. No meu entendimento eles teriam que ser demitidos, até para servir de exemplo de que a corporação não tem tolerância em relação a esse tipo de conduta.
ZH — As forças policiais permitem esse tipo de agressão?
Coronel — A Brigada deve ter um Pops, que é o Procedimento Operacional Padrão , que aponta quais são as medidas, comportamentos adequados em cada situação. Deve estar lá: em perseguição o policial deve alertar a central, a central deve providenciar uma tentativa de cerco, não deve ultrapassar o limite de velocidade da via no caso de colocar pessoas inocentes em risco e, em hipótese alguma, e isso deve estar salientado, em hipótese alguma há justificativa para qualquer tipo de agressão, a não ser nos casos previstos em lei, daquela agressão feita pelo policial em legitima defesa ou para defender terceiros. Simplesmente apontar uma arma para um policial justifica ele dar dois tiros no peito desse cara. Mas o indivíduo algemado ser agredido, não há nada que justifique esse tipo de conduta.
ZH — O senhor vê algum motivo para a atitude dos policiais?
Coronel — Nós temos o problema da adrenalina. Tem muita gente que acha que o treinamento do policial militar, a exemplo da Civil, tem que ser liberal. No caso do policial militar, ele tem que ser submetido a estresse desde o início. Aquela situação do sargentão dando esporro, é para provocar adrenalina e o sujeito sentir a pressão. O treinamento de stress é importante inclusive para o indivíduo aprender a ter respostas adequadas sob stress.
ZH — O senhor acha, então, que a agressão foi provocada por stress?
Coronel — É importante a pessoa saber lidar com o stress, porque quando o stress é baixo, o indivíduo tem um repertório restrito de comportamento. Por isso, muitas vezes o sujeito submetido a stress, como nesse caso em que houve troca de tiros com policiais, fuga e ameaça, não sabe como reagir. O stress de ameaça severa é muito poderoso, mas neste caso, os jovens atiraram contra os policiais, mas a ameaça já tinha passado. Então, apesar de ter um conjunto de respostas treinadas, em vez de conduzir os criminosos para a delegacia, ele teve uma reação puramente instintiva, que é a da agressão, e que não está no repertório resposta treinadas pelos policiais. E isso acontece ou porque ele não foi treinado adequadamente, ou porque, apesar de treinado, ele perdeu o controle. Pessoas que perdem o controle não podem estar em ações em que este tipo de situaçã o pode se repetir frequentemente.
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