Que PM agiu com violência no Recife...
Publicado em 27.06.2013, às 19h19
Manifestantes acusam a polícia de agir violentamente na noite dessa quarta (26)
Foto: Igo Bione/JC Imagem
Amanda MirandaDo NE10
Agressões a manifestantes e detenções arbitrárias são apontadas por participantes do 2º Ato Nacional, realizado no Recife nessa quarta-feira (26), como atitudes da Polícia Militar (PM) durante e após o protesto. Enquanto a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou nesta quinta (27) que houve nove ocorrências relacionadas à mobilização, advogados calculam mais de 12 detidos.
Homens do Batalhão de Choque e da cavalaria participaram da operação no Centro de Convenções (Foto: Michele Souza/JC Imagem)
A estudante de cinema da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Lara Buitron, 22 anos, foi detida durante a noite na Avenida Cruz Cabugá, no Centro do Recife, acusada por policiais militares de resistir à prisão. A jovem admite ter se recusado inicialmente a seguir para a delegacia, porém alega que isso ocorreu porque os seus direitos não foram respeitados, entre eles o de ser revistada e conduzida por uma PM do sexo feminino.
LEIA MAIS
» Manifestantes devem parar para negociar, diz secretário da SDS» SDS mostra bombas e lança-chamas apreendidos em último protesto
» PM pode ficar cego após ser atingido por pedra em protesto no Recife
» SDS mostra bombas e lança-chamas apreendidos em último protesto
» 2º ato no Recife: pauta das ruas não chega às mãos do Governo
» Manifestantes devem parar para negociar, diz secretário da SDS» SDS mostra bombas e lança-chamas apreendidos em último protesto
» PM pode ficar cego após ser atingido por pedra em protesto no Recife
» SDS mostra bombas e lança-chamas apreendidos em último protesto
» 2º ato no Recife: pauta das ruas não chega às mãos do Governo
Foi uma confusão entre policiais e manifestantes que resultou na detenção da estudante. "Em Santo Amaro, um grupo de meninos estava levando baculejo (sendo revistados) e paramos para tentar ajudar", relata. A estudante estava com um grupo de cerca de 10 manifestantes que saíam do ato principal, realizado durante a tarde na Avenida Agamenon Magalhães, também na área central.
» Responda a pesquisa sobre a onda de manifestações pelo Brasil
A advogada Andrea Gorenstein, que atuou na defesa dos manifestantes durante a noite, conta que a informação repassada para ela é que Lara foi detida ao questionar a um policial por que um jovem era detido se ele estava apenas na parada de ônibus ao lado do local onde um ônibus estava depredado. Ela se refere a Bruno de Cássio Pereira Vilar, 20, autuado em flagrante por dano qualificado, acusado de jogar pedras no veículo. "Bruno é um garoto socialmente vulnerável. Lara foi detida porque o defendeu afirmando que só era alvo da polícia porque não é universitário classe média", explica a advogada.
A advogada Andrea Gorenstein, que atuou na defesa dos manifestantes durante a noite, conta que a informação repassada para ela é que Lara foi detida ao questionar a um policial por que um jovem era detido se ele estava apenas na parada de ônibus ao lado do local onde um ônibus estava depredado. Ela se refere a Bruno de Cássio Pereira Vilar, 20, autuado em flagrante por dano qualificado, acusado de jogar pedras no veículo. "Bruno é um garoto socialmente vulnerável. Lara foi detida porque o defendeu afirmando que só era alvo da polícia porque não é universitário classe média", explica a advogada.
Um ônibus teve a janela quebrada na Avenida Cruz Cabugá (Foto: Igo Bione/JC Imagem)
Sem conseguir pagar a fiança, Bruno foi encaminhado ao Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana, de onde só deve ser liberado na noite desta quinta (27). Andrea encontrou Bruno ainda na delegacia nesta madrugada e conta que ele estava assustado com a situação e respondia a todas as perguntas chorando.
"A delegada abandonou o plantão para não receber o dinheiro da fiança de Bruno quando conseguimos arrecadar", denuncia a advogada. Para ela, o Governo do Estado queria, na verdade, usar a prisão do jovem como "exemplo" para "reprimir as manifestações". Mas ela acredita também que a consequência é contrária: o acirramento da situação. "O governo só colocou gasolina no fogo e pecou pela falta de inteligência tática", afirmou.
"A delegada abandonou o plantão para não receber o dinheiro da fiança de Bruno quando conseguimos arrecadar", denuncia a advogada. Para ela, o Governo do Estado queria, na verdade, usar a prisão do jovem como "exemplo" para "reprimir as manifestações". Mas ela acredita também que a consequência é contrária: o acirramento da situação. "O governo só colocou gasolina no fogo e pecou pela falta de inteligência tática", afirmou.
Várias pessoas foram detidas nessa quarta (Foto: Clemilson Campos/JC Imagem)
Durante coletiva realizada na manhã desta quinta (27) para anunciar o balanço geral do protesto, o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, afirmou que o Recife teve uma das passeatas mais pacíficas do País. "Credito isso à paciência dos policiais", disse. "É hora de sentar à mesa com o Governo do Estado e dizer o que as pessoas querem além do que está sendo feito. Nós estamos fazendo o dever de casa e estamos abertos à negociação. O que não pode acontecer é uma movimentação parar todos os dias a principal artéria da cidade (a Agemenon Magalhães)", acrescentou.
A operação contou com aproximadamente 1,2 mil policiais militares. Segundo a SDS, cerca de 500 pessoas participaram do protesto, porém os manifestantes estimam a participação de pelo menos 2,5 mil pessoas.
A principal queixa de manifestantes e advogados é contra a PM. No caso de Lara, por exemplo, a corporação é acusada de usar cassetetes para agredir a estudante depois que ela se negou a ser revistada por um homem. A jovem passou por um exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) que deve ter o seu resultado divulgado em um mês.
A operação contou com aproximadamente 1,2 mil policiais militares. Segundo a SDS, cerca de 500 pessoas participaram do protesto, porém os manifestantes estimam a participação de pelo menos 2,5 mil pessoas.
A principal queixa de manifestantes e advogados é contra a PM. No caso de Lara, por exemplo, a corporação é acusada de usar cassetetes para agredir a estudante depois que ela se negou a ser revistada por um homem. A jovem passou por um exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) que deve ter o seu resultado divulgado em um mês.
Policiais militares são acusados por manifestantes de trabalhar sem identificação no protesto (Fotos: Cortesia)
A Polícia Civil também é alvo de denúncias. A advogada afirma que um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) em branco foi entregue à aluna da UFPE para ser assinado. Segundo Lara, foi imposto a ela ainda assinar um documento que afirmava que ela havia depredado o patrimônio público. Depois de se recusar a assinar, ela saiu da delegacia sob protestos contra a sua prisão e até o reitor da universidade, Anísio Brasileiro, interviu no caso dela. A jovem foi acusada apenas de resistir à prisão.
O estudante de história da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Igor Calado, 28, foi preso suspeito de depredar uma motocicleta da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam). Manifestantes afirmam, entretanto, que a Bandeira do Brasil que o estudante levava ficou presa à moto, que acabou caindo no chão em meio à correria. "O absurdo continuou na delegacia (de Santo Amaro, no Centro). Advogados eram impedidos de entrar, minha mãe foi expulsa e um dos meninos (Igor) foi obrigado a prestar depoimento sem a presença de um advogado", denuncia Lara. Igor foi autuado em flagrante e liberado após pagar fiança de R$ 5 mil.
O estudante de história da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Igor Calado, 28, foi preso suspeito de depredar uma motocicleta da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam). Manifestantes afirmam, entretanto, que a Bandeira do Brasil que o estudante levava ficou presa à moto, que acabou caindo no chão em meio à correria. "O absurdo continuou na delegacia (de Santo Amaro, no Centro). Advogados eram impedidos de entrar, minha mãe foi expulsa e um dos meninos (Igor) foi obrigado a prestar depoimento sem a presença de um advogado", denuncia Lara. Igor foi autuado em flagrante e liberado após pagar fiança de R$ 5 mil.
A presidente do DCE da Fafire, Crislayne Maria da Silva, 19, foi para a Colônia Penal Feminina do Recife (Foto: Arquivo)
Andrea Gorenstein afirma que presenciou várias irregularidades das polícias desde o primeiro grande ato, realizado na última quinta-feira (20). Prisões arbitrárias; delegada se recusando a ouvir testemunhas e recolhendo os seus documentos; restrição do acesso de advogados aos clientes; e fiança sendo arbitrada antes de ouvir a detida são alguns exemplos citados por ela.
Um dos problemas mais marcantes, porém, é a ação de policiais do Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati) sem a identificação há uma semana, queixa constante de manifestantes e comprovada pela reportagem do NE10 durante o protesto dessa quarta. Questionado sobre o assunto durante a coletiva, o secretário afirmou que, apesar de o estatuto da PM indicar que todos devem trabalhar uniformizados e identificados, isso pode ter ocorrido. Wilson Damázio disse que vai investigar a situação.
Diante das denúncias de abusos pela segurança pública pernambucana, Andrea Gorenstein quer que órgãos de proteção aos direitos humanos, incluindo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) se posicionem em repúdio ao que considera uma "situação de suspensão de garantia de direitos constitucionais". Além disso, afirmou que deve exigir que uma investigação para apurar as queixas seja iniciada pela corregedoria da SDS. Lara deve ficar um tempo longe dos protestos por temer pela própria segurança. "Vários militantes já ficaram com a cara marcada e acho que agora sou um deles. Tenho que ficar distante um tempo", concluiu.
Manifestantes levaram bandeiras do Brasil para o protesto (Foto: Igo Bione/JC Imagem)
2º ATO NACIONAL - O protesto realizado nessa quarta-feira (26) foi programado através das redes sociais como uma continuação da manifestação que reuniu pelo menos 52 mil pessoas nas ruas do Centro do Recife na última quinta-feira (20). Iniciado em clima de paz na Praça do Derby pouco antes das 16h, teve momentos de tumulto após a detenção de um jovem nas imediações de Santo Amaro, que foram agravados na chegada ao destino final: a sede provisória do Governo de Pernambuco, no Centro de Convenções, onde os manifestantes encontraram vários bloqueios policiais. Depois de afirmar que receberia uma comissão de dez manifestantes para negociar, o governo desistiu de fazer a reunião e as lideranças do ato não puderam entregar a pauta com 13 reivindicações. A noite no Centro foi de confusão.
Centenas pararam a Agamenon Magalhães (Foto: Guga Matos/JC Imagem)
O balanço da SDS aponta nove ocorrências ligadas à manifestação, sendo sete detidos e dois apreendidos suspeitos de depredação, resistência à prisão, roubos, entre outras infrações. Dos sete detidos, quatro foram autuados em flagrante e dois deles, por não conseguiram pagar as fianças de R$ 2,5 mil e R$ 5 mil, encaminhados a unidades prisionais do Estado. Um dos adolescentes apreendidos foi levado para a Fundação de Atendimento Socioeducativa (Funase) e o outro foi liberado. Um estudante detido com bombas e rojões na mochila foi liberado após prestar depoimento.