PM do Maranhão está internado em estado grave em uma UTI. Ele foi vítima de homofobia e agressão praticadas por colegas militares superiores
por Carlos Madeiro, em seu blog
HOMOFOBIA
O soldado C.B.S., 31, da Polícia Militar do Maranhão (PM-MA), está internado em estado grave em uma UTI de hospital de São Luís, após tentar suicídio no último dia 29 de julho. O caso está sendo investigado pela polícia.
O relato do soldado C.B.S.
O PM denunciou em junho que foi vítima de homofobia e agressão praticadas por colegas militares superiores. E afirmou que não houve resposta efetiva do comando para protegê-lo, segundo o boletim de ocorrência.
O soldado relatou que teve a casa invadida por integrantes do 26º Batalhão da PM e foi detido, entre a noite do dia 26 e a madrugada de 27 de junho. Conforme o relato, os militares chegaram em uma viatura com a sirene ligada por volta das 23h30.
C.B.S. afirma que seus colegas PMs disseram que ele estava preso porque havia abandonado o posto de serviço. O soldado explicou que deixou o batalhão (como fez outro colega) porque o local estava abrigando outros militares e servidores do Ibama, e que por isso não haveria local para alojar a todos.
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Ele conta que foi arrastado e levado para fora de casa, quando estava apenas de toalha. Mesmo não tendo reagido, a agressão deixou o braço do militar com hematomas.
A casa de C.B.S. foi inteiramente revistada, momento em que ele ouviu ofensas homofóbicas. Um policial que estava na equipe disse que ele teria deixado o trabalho porque estava indo ao encontro de seu companheiro ou “de outro macho”.
Segundo a defesa, o soldado já vinha sofrendo “uma série de abusos e
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“Ele vinha, em virtude da sua condição de gênero, sofrendo uma brutal perseguição no ambiente policial militar no estado. Isso chegou até a invasão de domicílio e a diversas afrontas pessoais. Ele foi vítima de tortura psicológica, e são muitos os ilícitos atribuídos aos seus algozes, que são superiores seus na PM”, afirmou Marlon Reis, advogado de C.B.S.
Denúncia ao MP e busca por apoio
O militar procurou o Ministério Público (MP) do Maranhão e denunciou o caso; mas como a homofobia teria continuado, com a omissão das autoridades, ele relatou um quadro de depressão.
Sem resposta das autoridades, C.B.S. procurou a Rede de Cidadania de Açailândia, que reúne várias entidades de defesa aos direitos humanos. A rede passou a acompanhar o caso e a ajudar o militar a buscar soluções.
“Ele fez a denúncia, mas foi perseguido, tanto que teve que pedir afastamento porque não estava mais em condição de trabalhar, devido à situação vexatória pela qual passou”, disse José Carlos Almeida, um dos coordenadores do Coletivo Ayá e integrante da Rede de Cidadania de Açailândia.
“Depressão não é frescura”, escreveu o soldado em uma mensagem endereçada ao seu superior. “Diga também a ele que o seu pedido de perdão não deve ser direcionado a Deus, mas sim às suas vítimas. Fui esquecido pelos meus irmãos.”
Entidades que acompanham o caso apontam cinco possíveis crimes: para a Rede de Cidadania de Açailândia, além dos crimes de lesão corporal, injúria (homofobia) e abuso de poder, denunciados pelo militar, os PMs ainda devem ser denunciados por tortura e incitação ao suicídio.
O que diz o governo do Maranhão
O governo do Maranhão informou, em nota, que a PM já fez uma “troca de comando no Batalhão de Açailândia” e o novo chefe será o “responsável pela condução do procedimento administrativo aberto para apurar as responsabilidades”.
A PM destaca que atua dentro dos princípios e normas delineados na Constituição Federal e de acordo com os entendimentos adotados pelo Supremo Tribunal Federal e não coaduna com qualquer prática de intolerância, visto que a discriminação, seja racial, de gênero, religiosa ou por orientação sexual, não faz parte dos valores adotados pela corporação.
Em nota, o MP declarou que “está investigando o caso e que, ao final da apuração, tomará as providências necessárias”.
Acolhimento
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um dos principais serviços de aconselhamento no país de pessoas que enfrentam pensamentos suicidas. Segundo o último relatório de atividades do CVV, por meio do número de telefone 188 (ligação gratuita), 3,5 mil voluntários atendem uma média de 8 mil ligações por dia.
A porta-voz do CVV, Leila Herédia, contou à Agência Brasil que o aumento no número de pessoas que tiram própria vida no país evidencia a importância de acolhimento. “Mais que números, são vidas que perdemos. Esse aumento só reforça a necessidade de focarmos cada vez mais na prevenção, todos nós, porque é apenas conversando, falando, quebrando tabus e permitindo que as pessoas desabafem, entendam que é tudo bem não estar bem, que a gente nem sempre está legal, que é ok pedir ajuda, que vamos mudar este cenário”, diz.
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