Pesquisadores comprovam por meio de escavações arqueológicas a existência de vala comum na Terra Indígena de São Marcos, onde foram enterrados indígenas vítimas de violações de direitos
Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
09/08/2023 11h36 Atualizado há 4 dias
Escavações arqueológicas revelam vala comum em terra
indígena xavante
Escavações arqueológicas revelam vala comum em terra
indígena xavante — Foto: Arquivo Agência Brasil
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Pesquisadores comprovam por meio de escavações arqueológicas
a existência de vala comum na Terra Indígena de São Marcos, no Mato Grosso
(MT), onde foram enterrados indígenas vítimas de violações de direitos na
ditadura militar. O projeto envolve cientistas da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), da Polish Academy of Science, na Polônia, e da Universidade de
Winnipeg, no Canadá.
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do bioma
Em 1966, a população xavante de Marãiwatsédé foi vítima de remoção compulsória de seu território tradicional para a região de São Marcos, localizada a cerca de 500 quilômetros (km) de distância, onde viviam outros grupos xavante.
A transferência foi feita em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), em um contexto de epidemia de sarampo. Dezenas de indígenas foram acometidos pela doença e morreram em poucos dias. Os mortos foram enterrados em uma vala comum na terra indígena.
A arqueóloga forense Claudia Plens aponta que os relatos dessa ocorrência já eram públicos, mas ainda careciam de evidências materiais para que as comunidades, que sofrem o impacto de desestruturação social até hoje, pudessem lutar por alguma forma de reparação.
“Embora existam relatos diversos sobre o processo histórico que culminou na vala comum, a materialidade da vala só foi confirmada agora”, disse Plens, que é professora do departamento de história da Unifesp e lidera a pesquisa.
“Por meio das entrevistas e, posteriormente, pelo georadar [método de investigação subterrânea], conseguimos localizar a vala comum. Não houve preservação dos esqueletos. Mas, do ponto de vista da arqueologia forense, os dados do georadar, associados às feições no sedimento, são suficientes para identificar a vala comum”, apontou a pesquisadora.
Segundo Plens, a confirmação é resultado do cruzamento de
diversas informações. Primeiramente, havia indicação da localização da vala em
uma diligência realizada pelo Ministério Público Federal (MPF), em 2017.
Embora não haja preservação dos esqueletos, as entrevistas
no local e o uso do georadar acrescentaram elementos que levaram finalmente às
escavações. Já a escavação mostrou a estratigrafia da vala – uma leitura das
camadas de sedimento – que demonstrou a materialidade da vala.
“A posição e direção da vala, conforme lembrado pelos
habitantes locais, foram confirmadas pelos dados do georadar. Isso mostrou que
a nossa técnica de mapeamento foi capaz de detectar esta assinatura no solo,
aproximando ciência e memória no registro de um doloroso episódio histórico
ainda muito vivo entre aqueles que o testemunharam”, ressaltou.
A etapa de campo da pesquisa já foi toda executada. Além
disso, entrevistas compuseram a fase de linguística do projeto e contribuem
para compreensão da ocupação tradicional do território. Segundo Plens, as
entrevistas com os anciãos da etnia foram reveladoras quanto ao crime cometido
pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar.
A análise dos dados preliminares da pesquisa aponta que as
primeiras vítimas foram enterradas em covas individuais. “No entanto, a
voracidade e o impacto do sarampo foi de tal forma que dezenas de pessoas
morriam diariamente, sendo impossível os sepultamentos individuais. Neste
sentido, as vítimas passaram a ser sepultadas em vala comum”, revelou a
arqueóloga.
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De acordo com a pesquisadora, a comunidade de São Marcos já
vinha sendo acometida pelo sarampo ao longo dos anos devido ao contato com os
não indígenas, o que já havia resultado em dezenas de vítimas. “Para isso
[transferência dos indígenas], houve toda uma articulação entre o pessoal da
agropecuária Suiá Missu, militares e os missionários salesianos que estavam em
São Marcos”, acrescentou.
O antropólogo Paulo Delgado, professor da Universidade
Federal do Mato Grosso (UFMT) e integrante da equipe, lembrou que o contexto da
tragédia que vitimou dezenas de xavante se insere nos grandes projetos de cunho
desenvolvimentistas do governo militar. “Naquela época, por meio de incentivos
fiscais do governo federal, houve financiamentos de grandes empreendimentos
agropecuários na região Centro-Oeste. Um destes empreendimentos atingiu em
cheio o território xavante de Maraiwatsédé”, disse.
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