Promoção de tenente Ledur é suspensa após morte de aluno bombeiro
Tenente teve promoção a capitã suspensa até conclusão do inquérito. Primeira denúncia foi feita pelo Muvuca Popular
Outros alunos revelam que também foram torturados / G1
A promoção da tenente do Corpo de Bombeiros que atuava como instrutora de salvamento aquático foi suspensa nesta terça-feira (22) após a morte do aluno Rodrigo Claro, de 21 anos. Ela já havia sido afastada do cargo e teve a promoção para capitã, suspensa até a conclusão do inquérito. Rodrigo morreu na terça-feira (15) depois de passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, e ficar internado por cinco dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A família do aluno alega que houve tortura e omissão de socorro por parte do Corpo de Bombeiros. Eles também declararam que Rodrigo revelou ter medo de participar das atividades por ser perseguido pela tenente.
Além da tentente, outras 11 pessoas responsáveis pelo curso foram afastadas do cargo e devem cumprir funções administrativas até a conclusão do inquérito. De acordo com o comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cesar Rodrigues, o inquérito policial militar deve ser concluído entre 30 e 50 dias.
“Tudo vai depender do encarregado, das provas que ele queria angaria. Depois disso, o inquérito vai ser remetido para o Ministério Público avaliar se há crime e se vão oferecer denúncia”, afirmou. Até a conclusão do inquérito, a promoção prevista para a tenente ficará suspensa.
Colegas do aluno disseram à família que o rapaz foi afogado várias vezes durante o treinamento
Além de Rodrigo, outros 29 anos alunos participaram do curso. Eles relataram à família do jovem que ele foi afogado várias vezes durante o treinamento e que os instrutores o obrigaram a continuar, mesmo com o estado físico debilitado. A previsão é de que a turma se forme em dezembro.
Investigação
Além de Rodrigo, outros 29 anos alunos participaram do curso. Eles relataram à família do jovem que ele foi afogado várias vezes durante o treinamento e que os instrutores o obrigaram a continuar, mesmo com o estado físico debilitado. A previsão é de que a turma se forme em dezembro.
Investigação
A tenente responsável pela aula já havia sido investigada em 2015 após denúncias anônimas de que ela estaria exercendo pressão psicológica sobre os alunos. À época, os bombeiros alegaram que uma sindicância investigou as denúncias e não constataram nenhuma irregularidade. O caso foi arquivado.
O comandante geral do Corpo de Bombeiros, não descartou a possibilidade de erro, mas declarou que as críticas devem ser filtradas. "O que o aluno considera muitas vezes como pressão psicológica ou tortura não passa de uma instrução simples. Ele está sendo submetido a um ambiente em que ele não está acostumado e precisa desenvolver uma técnia", afirmou.
O caso
O caso
Rodrigo queixou-se de dor de cabeça durante a realização das aulas. O aluno realizava uma travessia a nado na lagoa e quando chegou à margem informou o instrutor que não conseguiria terminar a aula.
Em seguida, segundo os bombeiros, ele foi liberado e retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde e sofreu convulsões.
No dia em que passou mal, Rodrigo enviou mensagens para mãe contando que estava com medo.Nas mensagens enviadas por um aplicativo de telefone, Rodrigo alerta a mãe sobre o que poderia acontecer. “Se você não conseguir, passar mal, sei lá. Até eles te pegarem e verem que você não está de corpo mole”, diz a mensagem.
Horas depois, Rodrigo volta a falar com a mãe e mandou a última mensagem antes de ser internado em coma. “Não consegui. Estou mal. Vou para a coordenação”, diz trecho da mensagem.
Aluno diz que desistiu de curso dos bombeiros após tortura: 'Me afogou'
Um ex-aluno do curso de formação do Corpo de Bombeiros em Mato Grosso denunciou ter passado por tortura e sessões de afogamento durante um treinamento de salvamento, no início deste ano. O rapaz passou por treinamento na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, e tinha como instrutora uma tenente dos bombeiros. A mesma tenente foi afastada das funções após a morte de um aluno no dia 15 deste mês.
Em entrevista, o ex-aluno, que pediu para não ser identificado, descreveu o que passou durante o treinamento de salvamento.
Ele, que pertencia a outro grupo de alunos, fez o curso por oito meses e, faltando um mês para a formatura, ocorrida em maio deste ano, acabou desistindo. Ele afirma que ocorreram outros casos e que as sessões de afogamento são comuns.
O ex-aluno afirma que foi afogado pela tenente e humilhado pela oficial durante a travessia na Lagoa Trevisan. Os alunos, antes de entrar na água, já tinham feito flexões, corridas e outras atividades físicas.
“Eu já estava muito cansado, fui rebocado pelos meus colegas em uma boia. No meio da lagoa ela [a tenente] pediu que me soltassem e me chamou até ela. Ela pegou a boia, o cabo que os meninos me puxavam, ela passou por volta do meu pescoço, embaixo do meu braço e começou a fazer os afogamentos. Ela começou a me puxar pra baixo por várias vezes”, afirmou o ex-aluno.
O rapaz conta que pediu para que a tenente parasse com os afogamentos, até que perdeu os sentidos. “Em algum momento, eu peguei nela e disse: 'pelo amor de Deus, para, para, porque você vai me matar”, declarou o ex-aluno.
Ele se recordou que ia para o fundo do lago, se afogando, e demorava para retornar à superfície. “Eu fui torturado. Eu sou a prova dessa tortura. Ela me torturou naquele dia. E depois, psicologicamente também. Foi então que eu tinha certeza que não tinha mais condições de eu continuar”, recordou.
Depois do afogamento, o rapaz diz que redobrou os sentidos ao ser retirado da água, por dois sargentos dos bombeiros. “Eles me tiraram para fora da lagoa e eu comecei a vomitar toda aquela água que eu tinha engolido. No meio da lagoa ela [a tenente] gritava: 'Você vai voltar, tem que voltar.' Eu só disse que não ia voltar. Ela começou a fazer esse mesmo procedimento e afogar mais dois alunos, uma menina e um menino”, afirmou.
O QUE DIZEM SOBRE ISSO?