O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou no dia 16 que a ação dos militares do Exército, que levaram três jovens presos no Morro da Providência para o Morro da Mineira e os entregaram a uma quadrilha de traficantes foi inconseqüente, inadmissível e que deverá ser repreendida de forma exemplar.
há 15 anos
O ministro não quis responder se os 11 militares serão expulsos do Exército. Disse apenas que poderão responder por homicídio. Vamos esperar o desenvolvimento do caso, mas evidente que há uma indagação sobre se, efetivamente, a causa da morte desses rapazes teve como origem sua entrega a uma facção rival. Aí poderíamos inclusive falar em co-autoria [na morte dos jovens], disse.
O ministro Jobim disse que recebe informações diárias sobre o andamento do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado ontem (15) para investigar as circunstâncias em que Marcos Paulo Rodrigues, de 17 anos de idade, Wellinghton da Costa, de 19 anos, e David da Silva, de 24 anos, foram mortos.
Evidente que tudo tem que ser conduzido dentro dos trâmites judiciais típicos, mas a leitura dos depoimentos já colhidos nos leva à indignação, afirmou o ministro.
Segundo Jobim, três militares já foram ouvidos até o começo da noite do dia 16 - um tenente, um sargento e um soldado, de acordo com o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia, Ricardo Dominguez, responsável pelo inquérito.
Além dos três, outros oito soldados estão presos no Primeiro Batalhão da Polícia do Exército, na rua em Barão de Mesquita, na zona norte, por determinação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Segundo o ministro, o tenente já ouvido pelo delegado teria admitido ter entregue os três rapazes a traficantes do Morro da Mineira, dominado por uma facção rival a que atua no Morro da Providência, onde os jovens viviam.
Entregues vivos, conforme a versão do tenente, no dia 14 (sábado) os corpos de Rodrigues, Costa e Silva foram encontrados no Lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Pelo que soube da declaração do tenente, ele admitiu ter tomado a decisão independente da determinação de seu superior, que havia determinado que os jovens [detidos por desacato a autoridade] fossem libertados, disse Jobim, acrescentando que o tenente resolveu conduzir os três jovens ao Morro da Mineira para, segundo ele próprio, dar um susto nos jovens.
O ministro manifestou indignação com a conduta dos militares. Mostram absoluta falta de respeito à pessoa humana. Isso deverá ter uma reação não apenas da sociedade, mas também do Poder Judiciário, no sentido de coibir condutas desta natureza.
O ministro disse que não há sinalização para que o Exército deixe o Morro da Providência, onde está desde 2007, onde fazem a segurança de uma obra de urbanização.
Temos que verificar quais são as conseqüências desse fato em relação às ações praticadas pelo Exército no Morro da Providência, mas ainda é cedo para examinarmos isso, disse.
Nelson Jobim classificou o comportamento dos militares como um caso isolado.
Não podemos tomar ações isoladas dessa natureza para justificar uma situação. Basta ver o que se passa no Haiti, onde temos absoluta tranqüilidade. Não podemos pegar um caso isolado, praticado por personagens absolutamente irresponsáveis, e contaminar as ações do Exército.
Protesto termina em confusão
Terminou em confusão a manifestação que moradores do Morro da Providência fizeram em frente ao Comando Militar do Leste (CML) no final da tarde do dia 16. Cerca de 200 pessoas se posicionaram em frente à sede do comando para protestar contra o suposto envolvimento de militares do Exército na morte de três jovens presos por soldados na noite do dia 14 de junho e entregues a traficantes rivais no Morro da Mineira.
Marcos Paulo Rodrigues, de 17 anos de idade, Wellinghton da Costa, de 19 anos, e David da Silva, de 24 anos, foram encontrados mortos no lixão de Gramacho, em Duque da Caxias, na Baixada Fluminense.
Após o enterro dos jovens, no Cemitério São João Batista, os manifestantes se dirigiram para a frente do prédio do Comando Militar do Leste com faixa e cartazes e passaram a xingar os militares da Polícia de Choque do Exército que faziam a segurança do local. Houve confronto e os manifestantes foram reprimidos com bombas de gás lacrimogênio. A fumaça se espalhou por toda área da Centra do Brasil provocando corre-corre.
O trânsito ficou prejudicado na Avenida Presidente Vargas nas imediações do comando, principal via de acesso do centro para as zonas sul e norte da cidade.
Um grupo de manifestantes ainda se dirigiu para a 4ª Delegacia de Polícia, onde está sendo conduzida as investigações. Houve novo protesto que provocou outro tumulto, desta vez com a Polícia Militar, que usou gás de pimenta e cassetetes para dispersar os manifestantes.
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