Os Crimes de Maio e a organização popular
No mês de maio, há seis anos, em poucos dias as polícias do Estado de São Paulo assassinaram várias centenas de moradores da periferia, em geral jovens e negros – para elas o perfil do suspeito, do inimigo.
Em inúmeras quebradas foram instituídos toques de recolher, e o pânico se instaurou entre a população pobre, pois todos sabíamos que a polícia queria sangue, e ninguém estava a salvo. Pessoas envolvidas ou não com o crime organizado tiveram sua sentença de morte decretada, pois seus bairros e suas rotinas lhes condenaram a estar “na hora errada, no lugar errado”. Voltar para a casa depois de um dia inteiro de trabalho e/ou de estudo foi o crime cometido por muitos, que lhes custou a própria vida. E assim, tantas famílias foram destruídas, sem possibilidade de reconstrução. Esse Massacre contra a população pobre não foi o primeiro, e nem inaugurou a pena de morte neste país – que só não existe na lei, mas sim na prática, que é o que importa. Ele é cotidiano, como mostra a multiplicação dos “autos-de-resistência seguida de morte”, o fato de o Brasil ser o país em que mais se cometem homicídios, o encarceramento em massa etc.
Os Crimes de Maio de 2006 cometidos pelo Estado, por meio de suas polícias e grupos de extermínio, tiveram uma amplitude e uma brutalidade descomunal, pois deveriam servir como exemplo. Mas talvez ninguém mais falasse sobre esse episódio terrível, não fosse a dedicação e a coragem de um conjunto de familiares de vítimas, que desde então luta para não deixá-lo cair no esquecimento, e para combater os massacres cotidianos.
A iniciativa das Mâes de Maio, assim como outros grupos que se organizam para combater a violência de Estado, como a Rede de Comunidades contra a Violência (RJ), apontam para uma situação em que os massacres deixem de ser considerados normais e legítimos. E demonstram que ao invés de nos fecharmos em nossas tragédias pessoais, caindo no isolamento e sucumbindo ao desespero, precisamos encontrar nelas a força para nos organizarmos, para nos unirmos a outros tantos na mesma situação, e para irmos à luta, de modo que nosso sofrimento não seja em vão, e para que nossas vidas adquiram valor e significado. Do contrário, os governantes, as elites, os juízes, os políticos, as polícias vão continuar nos reduzindo a nada, a nos assassinar, a nos explorar, e a nos descartar quando bem entenderem.
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