Operação Guilhotina é "investigação racista", diz ex-delegado preso no Rio
Daniel MilazzoEspecial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro
Preso no dia 11 de fevereiro, Oliveira é acusado de ser o chefe de uma quadrilha que comercializava ilegalmente o chamado "espólio de guerra", isto é, armas e drogas apreendidas após operações policiais, e de ter envolvimento com milicianos. Além disso, é acusado de apropriar-se de grande quantidade de munição e uma submetralhadora Uzi para defesa pessoal. O ex-delegado negas as acusações. Atualmente, ele está preso em Bangu 8.
Oliveira pôs em dúvida a lisura da operação Guilhotina ao revelar que naquele mesmo dia 11 de fevereiro ele daria depoimento no Ministério Público Federal devido a uma ação civil pública aberta para apurar a suposta ineficiência da PF no tráfico de armas no Brasil.
"Conclamo a qualquer jurista do país a verificar se meus direitos foram respeitados, se os requisitos para uma investigação telefônica foram respeitados. Nenhum direito meu foi respeitado", reclamou Oliveira durante a sessão. O apelo recebeu eco entre os parlamentares. Os deputados Zaqueu Teixeira (PT), Luiz Paulo (PSDB), Paulo Ramos (PDT) e Flávio Bolsonaro (PP) disseram que não encontraram provas substanciais contra Oliveira no inquérito final da Polícia Federal. Paulo Ramos foi o mais enfático. "Eu acredito na sua inocência”, afirmou.
Dizendo-se injustiçado, mas negando estar se sentindo humilhado, Oliveira questionou durante toda a sessão a legitimidade do informante que fez à PF acusações contra ele. "Arrumaram um X-9 viciado, alucinado. Nunca vi esse X-9 na minha vida. Não sabia o que estava falando e quem ouviu não sabia o que estava ouvindo.”
Freixo: julgamento cabe ao Judiciário
O presidente da CPI, deputado Marcelo Freixo (PSOL) frisou que cabe ao Judiciário, e não à comissão, julgar a culpabilidade de Oliveira. "As provas que constam no inquérito da operação Guilhotina sobre 'espólio de guerra' são muito contundentes. Não são provas de qualquer testemunha. São advindas de escutas telefônicas", afirmou Freixo.Para o presidente da CPI, Carlos Oliveira foi evasivo quando questionado sobre a Operação Guilhotina e não demonstrou muita disposição para falar do fortalecimento armado de grupos milicianos. Quando indagado sobre sua participação nas acusações que constam no inquérito da PF e sobre sua relação com os demais indiciados pela PF, Oliveira seguiu o conselho de seu advogado e afirmou que só daria declarações em juízo. O único comentário que fez a respeito foi dizer ter sido envolto num "turbilhão de uma briga de poder".
Freixo também questionou algumas respostas dadas por Oliveira. "Ele esteve à frente de uma delegacia especializada [Delegacia de Repressão às Armas e explosivos] e não sabe se a Baía de Guanabara é bem policiada ou não, é no mínimo estranho. Agora, ele teve relacionamento direto com policiais que estão sendo investigados.”
Não apenas contato, mas amizade, nas palavras do próprio Carlos Oliveira. Ele confirmou ter trabalhado e ser amigo de Cristiano Gaspar Fernandes, cujo pai é suspeito de ter ligações com milícia. Cristiano também foi preso pela PF. "Amizade não quer dizer que eu sirva de habeas corpus", alegou o ex-delegado. Embora Oliveira não tenha dado detalhes de como armas chegaram às mãos de milicianos, ele acredita que as fontes são as mesmas que abastecem o narcotráfico, como o contrabando e o desvio praticado por agentes públicos.
Durante a sessão, Carlos Oliveira, que possui 25 anos de carreira policial, apresentou aos parlamentares os principais tipos de armas encontrados nas mãos de criminosos no Rio de Janeiro. Oliveira mostrou que armamentos oriundos dos EUA, de inúmeros países europeus, sul-americanos, de Israel e até da Arábia Saudita chegam aos bandidos do Rio. Ele argumentou que um dos maiores problemas encontrados no combate ao tráfico de armas diz respeito à dificuldade de rastreamento das armas.
Próximo passo
Ao final da sessão, os parlamentares decidiram convidar à CPI o Procurador da República Fábio Seguese, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e o ex-superintendente da Polícia Federal no Rio, Ângelo Gioia, que estava no cargo quando a Guilhotina foi deflagrada. As datas, porém, ainda não foram definidas.Além disso, será apresentada na próxima semana uma lista de todos os presos pela operação da PF que tenham envolvimento com o tráfico de armas. Será pedida a quebra dos sigilos fiscal e bancário dessas pessoas.
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