Uma das fotos que mostram o PM mascarado ameaçando um homem que supostamente tem um palhaço tatuado no corpo. Crédito: Reprodução/Facebook.
Esta semana, duas fotos circularam pelos WhatsApp da vida e nas redes sociais. Nelas, um homem fardado, com o rosto coberto por uma máscara de palhaço aponta uma arma e uma machadinha contra um homem negro, implorando por sua vida. Uma viatura policial aparece ao fundo. Graças a denúncia feita pelo site Ponte Jornalismo e após inúmeros compartilhamentos, o caso foi encaminhado para Corregedoria da Polícia Militar por se tratar de uma "violação de direitos humanos" e "apologia ao crime".
A legenda que circulou junto com as fotos – "tem tatuagem de palhaço, mas quando vê um na frente fica com medo", dá a entender que o homem negro apresentado implorando por sua vida foi parado e intimidado porque tinha um palhaço tatuado no corpo. O desenho teoricamente significa que quem tatuou já matou um policial, como já mostrado na cartilha de tatuagens do crime no Brasil. As suspeitas indicam que o crime aconteceu no Jaçanã. Esta não foi nem de longe a primeira intimidação que a Polícia Militar já cometeu contra civis que carregavam tatuagens simbólicas ou que praticaram atos zombando da ação das autoridades.
Além dos grupos de Whats App, páginas que elogiam o trabalho da polícia, exaltando a violência policial e atiçando as ameaças de morte contra civis são as campeãs em postar imagens parecidas. Um caso célebre aconteceu com o jornalista André Caramante. Muitas vezes, fotos de ditos bandidos mortos são publicadas seguidas de muitos elogios pelos seguidores.
Um caso parecido que ocorreu no interior de São Paulo envolveu intimidações parecidas. Tudo começou por causa do vídeo de um jovem dentro de um carro cantando um funk sobre matar policiais, remetendo às suas tatuagens de palhaço. Com a disseminação do vídeo, logo a página Admiradores da Rotaavisou que ele seria morto assim que fosse pego. Horas depois, um vídeo de Ricardo é postado na página, mostrando o jovem se desculpando ao lado do pai e levando um sarrafo do delegado de Caçapava. Outro caso parecido aconteceu em Santa Bárbara d'Oeste, quando um jovem de 14 anos gravou um vídeo cantando um proibidão e apareceu dias depois em um vídeo feito por um policial segurando uma placa e pedindo desculpas ao lado de sua mãe. Há outros casos em que a própria polícia faz questão de aparecer no vídeo, como foi o caso do dono do canal THCProcê que vendia sementes de cannabis e dava dicas de como cultivar a planta em casa. No curso da investigação, a Polícia Civil do Distrito Federal apagou todo o conteúdo do canal e subiu um vídeo dos investigadores ameaçando quem comprou as sementes. O dono, Sérgio Delvair Costa, foi preso por tráfico e teve cem pés de maconha confiscados de sua casa. Vídeos de violência como este e este, que parecem ter sido gravados e divulgados por funcionários do Estado, abundam pela internet.
Grupos de Whatsapp e páginas de fãs da polícia são mato no Facebook. Mesmo algumas delas não serem diretamente administradas por policiais ou ligadas à instituição, percebe-se a intenção de criar conteúdo violento como uma forma de demonstrar eficiência policial, mesmo usando formas escusas. Como o caso de um suspeito pego em um baile funk que foi obrigado gritar "Eu amo a PM" e "eu não presto" nas ruas. Todo o ato foi filmado e suspeita que a tortura foi empregada nessa ação policial.
Em uma reportagem sobre o tema feita ano passado, representantes da Polícia Militar explicaram que é condenável fotos e vídeos exaltando a violência, porém acreditam que essas páginas nas redes sociais ajudam a contribuir com uma melhor proximidade das autoridades com a comunidade.
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