Sem poder dizer adeus', diz viúva de Jango...

Presidente foi deposto há 50 anos pelo golpe militar

Jango e Maria Thereza Goulart, na casa El Ventisco, em Punta del Este, durante o exílio no Uruguai Foto: Instituto João Goulart / Reprodução
Jango e Maria Thereza Goulart, na casa El Ventisco, em Punta del Este, durante o exílio no Uruguai
Foto: Instituto João Goulart / Reprodução














O Instituto João Goulart publicou na terça-feira um artigo da viúva do ex-presidente Jango, que foi deposto da Presidência pelo golpe militar há 50 anos. Intitulado Lembranças de 64, o texto fala sobre o período em que ela e o marido ficaram exilados no Uruguai. "Até hoje, 50 anos depois eu me questiono para conseguir entender o porquê daqueles momentos tão assustadores que de repente mudaram o rumo de nossas vidas, de nossa pátria e de nosso povo", escreveu Maria Thereza Goulart. 
Segundo ela, as mudanças sofridas no período foram infinitas. "Perdi pessoas que eu amava sem poder dizer adeus. Perdi amigos, perdi meu lar e perdi minha pátria. Fiquei sem meus sonhos vivendo uma realidade de incertezas e desafetos", disse. 
Maria Thereza contou ter sentido medo. "Pensei que aqueles momentos eram de uma perseguição coletiva que acabaria envolvendo nosso futuro. Esse medo tornou-se um grande inimigo capaz de me confundir entre o ódio e o perdão", colocou. 
Para ela, eram muitas perguntas sem respostas e os desafios, diários. "Esquecer não foi fácil e eu aprendi muito com o sofrimento. Aconteceram novas mudanças, meus filhos cresceram, voltamos para a nossa pátria, para uma nova vida e novos amigos em um tempo de esperança.
Nossas vidas, no entanto ficaram com um grande espaço vazio sem a presença de nosso melhor amigo, pai e companheiro", contou. 
A viúva de Jango encerra o texto dizendo que hoje sente o seu coração comprometido com o passado e, em vários momentos de melancolia, olha para o céu azul, e relembra o tempo no Uruguai. "Sei que minha vida mudou, continuo meu destino, até quando não sei", completou. 
Exumação de Jango
O corpo de Jango - que fugiu para o Uruguai e depois para a Argentina após o golpe - foi exumado no fim do ano passado para verificação da causa da sua morte. Familiares e autoridades brasileiras suspeitam que ele tenha sido envenenado. Na época da morte, em 1976, não foi feita autópsia no corpo do ex-presidente. 
Após exumação de restos mortais, Jango é homenageado em Brasília