Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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segunda-feira, 30 de abril de 2018

PROPINA PARA SOLTAR BANDIDO

CORREIO BRAZILIENSE

PROPINA PARA SOLTAR BANDIDO

Diretor da cadeia de Formosa foi preso na manhã de ontem quando chegou ao trabalho, acusado de cobrar R$ 500 por mês a presos do regime semi-aberto. Em troca, criminosos não precisavam voltar à cela
Renato Alves
Da equipe do Correio
Indícios de corrupção ativa levaram à prisão do diretor da Cadeia Pública de Formosa (GO), Rogério Ribeiro da Silva, na manhã de ontem. Ele é acusado de cobrar propina de condenados em troca de liberdade. Ao menos cinco detentos que cumpriam pena em regime semi-aberto eram beneficiados pelo esquema criminoso. Cada um pagava R$ 500 mensais para ir à delegacia apenas assinar a lista de freqüência, em vez de passar o dia fora trabalhando e dormir em uma cela, como manda a lei.
Rogério da Silva recebeu voz de prisão dentro da cadeia pública, às 8h30, no começo do expediente. “Ele nem teve tempo para reagir”, contou o delegado Pedromar Augusto de Souza. Responsável pela delegacia regional formada por Formosa e outros 11 municípios goianos, Pedromar coordenou a investigação sobre a corrupção na cadeia. “Nos últimos dois meses, reunimos provas suficientes para convencer o juiz da cidade a decretar a prisão do diretor”, afirmou.
Entre as provas, segundo o delegado regional, estão as confissões dos cinco presos e os depoimentos de outros cinco. “Todos deram a mesma versão. Contaram que Rogério recebia o dinheiro em sua sala, dentro da cadeia”, comentou Pedromar. Além disso, os investigadores constataram a ausência no presídio de um mesmo grupo de presos do regime semi-aberto. Esses são os detentos que disseram pagar mensalidade ao diretor. Ele está indiciado por corrupção ativa. Se condenado, pode pegar de dois a 12 anos de detenção.
O número
Superlotação – Cadeia da cidade abriga
241 presos três vezes mais do que a capacidade das 13 celas
Legislação ignorada
Rogério Ribeiro da Silva foi transferido na tarde de ontem para Goiânia. Até o fim da noite, não havia chegado ao Centro de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, onde ficaria em uma cela. Ele preferiu se manter em silêncio durante a prisão em Formosa, segundo o delegado Pedromar Augusto de Souza. O acusado é agente de segurança prisional de Goiás há cinco anos. Antes de Formosa, ele dirigiu as cadeias de Luziânia e Planaltina (GO).
O superintendente de Segurança Prisional de Goiás, major Anésio Barbosa da Cruz Júnior, afirmou que sabia, há um mês, das investigações sobre a suposta corrupção na cadeia de Formosa. “A gente lamenta porque se trata de um servidor com cargo de destaque. Mas isso prova que combatemos desvios de conduta na instituição”, ressaltou. Ele não informou quem será o substituto de Rogério.
A cadeia de Formosa tem 13 celas de 36 metros quadrados. Elas abrigam 241 homens. Desses, 50 cumprem pena em regime semi-aberto. A quantidade de detentos que passam o dia na cadeia é três vezes maior que sua capacidade (60 pessoas). Falta um pouco de tudo no prédio. Não há, por exemplo, a individualização de pena, que separa criminosos de alta periculosidade dos que cometeram delitos leves, como exige a Lei de Execuções Penais.
Também não existe trabalho de reintegração social, que prepara os presos para voltar às ruas. A única atividade são aulas de 1ª a 4ª série do ensino fundamental e de artesanato – essas são ministradas por um detento. Por plantão, só fica um agente carcerário para cada grupo de 64 detidos. As equipes plantonistas são formadas por apenas três profissionais responsáveis por tudo. Cabe a eles o transporte e a entrega das comidas, a vigia durante o banho de sol, a organização das visitas e o recolhimento dos detentos do semi-aberto todas as noites. Ainda faz parte do trabalho dos agentes acompanhar os acusados nos julgamentos e nas consultas médicas. À disposição, a penitenciária tem apenas uma viatura. Quando há presos que precisam ir ao médico e outro tem julgamento, por exemplo, só fica um vigia na cadeia. (RA)

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