Já dizia uma música de protesto composta por Marcelo Yuka: "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro".

A canção faz parte do primeiro Cd do grupo "O Rappa", e foi um dos grandes sucessos que marcaram os anos 90. Yuka foi feliz ao relatar nesta letra a opressão da polícia brasileira sobre os afrodescendentes.

Um dos trechos da música é enfático:
"É mole de ver, que em qualquer dura o tempo passa mais lento pro negão. Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista."


Não é segredo para ninguém que a polícia carrega um longo histórico de preconceito contra os negros, e isso ficou mais evidente na penúltima semana de janeiro, quando uma OS(ordem de serviço) assinada por um comandante da Polícia Militar de Campinas (SP) vazou para a imprensa.

O documento, datado em 21 de dezembro de 2012, determina que a viatura responsável pelo patrulhamento de um dos bairros mais nobres da cidade, aborde "especialmente indivíduos de cor parda e negra". A ordem partiu do capitão Ubiratan de Carvalho Góes Benneducci.

Depois que a OS foi parar na mídia e repercutiu mal, a polícia negou o cunho racista e disse que aquelas seriam as características de indivíduos que praticam vários furtos e roubos na região, segundo uma carta enviada por moradores.

É lógico que a polícia não iria assumir publicamente que vê o negro com outros olhos, mas esse comportamento racista da instituição já é bem conhecido,se repete no país inteiro.

Para o major negro da PM paulista, Airton Edno Ribeiro, o racismo é uma das marcas da corporação.
Em sua tese de mestrado intitulada (?A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial?), há uma pesquisa realizada com 50 cabos e soldados, onde esses militares relataram que "antes de entrarem na PM, achavam que havia preconceito contra negros. Depois de ingressarem não achavam mais: tinham certeza."

Não por acaso, os negros lideram as estatísticas de mortos nos chamados "autos de resistência", onde o indivíduo morre supostamente em confronto com a equipe policial. É importante lembrar que por diversas vezes esses confrontos não aconteceram, foram forjados.

O racismo policial é pior do que os demais, porque esse acontece com o aval do Estado. O problema é que assim como no caso do garoto discriminado na concessionária da BMW, o governo também prefere tratá-lo como "mal entendido".