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domingo, 9 de julho de 2023

MILITARES CONFIRMAM QUE LEVARAM JOVENS AO MORRO DA MINEIRA

 TV Globo – RJ TV

DATA17/06/2008

Três dos 11 militares presos acusados de envolvimento na morte de três rapazes do Morro da Providência prestaram depoimento, nesta segunda-feira, à Polícia Civil. Os corpos foram enterrados hoje.

Os investigadores acreditam que os homens do Exército não liberaram os jovens como divulgado inicialmente, e sim, entregaram o grupo a traficantes. Apesar do reforço do patrulhamento da área pelo Exército e pela Polícia Militar, o clima continua muito tenso.

Antes das 11h, comerciantes de ruas próximas ao Morro da Providência fecharam as portas. O Restaurante Popular da Central do Brasil continuou funcionando, mas encerrou o expediente antes do previsto, porque teria recebido uma ameaça de bomba.

Agentes vasculharam o restaurante, mas nada foi encontrado. O Hospital dos Servidores do Estado, na Gamboa, decidiu suspender as consultas marcadas para esta segunda-feira no ambulatório.

Homens da Polícia Militar mantêm o reforço do patrulhamento nos acessos ao Morro da Providência. Nas esquinas, faixas de protestos. Os operários, que reformam as casas da favela pelo Programa Cimento Social, fizeram uma manifestação em frente ao Comando Militar do Leste. “Paramos a obra e só vamos recomeçar depois que o Exército sair”, comentou Alex de Oliveira, encarregado das obras.

O clima na região está tenso desde o fim de semana. Três moradores do Morro da Providência foram assassinados depois de terem sido levados da favela por militares. Os corpos de Wellington Ferreira, de 19 anos, David da Silva, de 24 anos, e Marcos Paulo Campos, de 17 anos, foram encontrados, nesta segunda-feira, no aterro sanitário de Gramacho.

Onze militares foram indiciados pelas mortes dos jovens. Sete soldados, três sargentos e um tenente estão presos. Três deles já prestaram depoimentos e alegaram terem sido desacatados pelos rapazes.

Segundo o delegado responsável pelo caso, o tenente confessou ter levado os jovens ao Morro da Mineira para receber um corretivo dos traficantes. “O oficial superior teria dito ao tenente que liberasse os jovens e o tenente não acatou e resolveu, por conta própria, tomar essa atitude. De fato esses militares seguiram com esse propósito de deixar os jovens nas mãos dos traficantes da Favela da Mineira”, contou o delegado Ricardo Dominguez.

Os enterros dos três rapazes foram, na tarde desta segunda-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. “Isso é uma injustiça o que fizeram com o meu filho. A dor quem está sentindo sou eu”, lamentou Lílian Gonzaga, mãe de Welington.

No fim da tarde desta segunda-feira, o Comando Militar do Leste deu uma entrevista coletiva. Informou que vai manter a ocupação no Morro da Providência até a conclusão das obras, no fim do ano, e que houve aumento no número de soldados que patrulham a favela.

“Essa obra deve durar até dezembro. É um evento que permanecerá, tanto com a sua equipe técnica de engenharia, quanto com o pessoal encarregado pela segurança. Nós repudiamos veementemente esse fato que aconteceu aqui. Foi um fato isolado, uma iniciativa isolada de um militar que não procedeu como deveria”, avaliou o Coronel Barcellos, do serviço de comunicação do Comando Militar do Leste.

 

Histórico da ocupação

A ocupação do Morro da Providência pelo exército começou em dezembro do ano passado. Na época da ocupação, o Comando Militar do Leste informou que a presença dos militares na favela era para garantir a segurança de trabalhadores e equipamentos.

As obras na comunidade foram inspiradas no Projeto Cimento Social, de autoria do senador Marcelo Crivella, do Partido Republicano Brasileiro (PRB), e prevêem a reforma de 782 casas, a instalação de iluminação, melhorias na rede elétrica e reflorestamento de algumas áreas. O projeto, resultado de uma parceria do Exército com o Ministério das Cidades, tem uma verba de R$ 12 milhões.

O envolvimento de 11 militares na morte de três moradores do Morro da Providência provocou a reação de vários setores da sociedade. A atitude dos soldados e oficiais abriu uma nova discussão sobre a atuação do exército na segurança pública do Rio.

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro não cabe às Forças Armadas o papel de polícia. “Esperamos que esses militares que se envolveram nesse trágico episódio de assassinato e corrupção, sejam exemplarmente punidos”, destacou Wadih Damous, da OAB-RJ.

“Eu acho que é muito sério e não deve ser uma razão para o Exército sair fora. É preciso haver uma discussão nacional séria sobre a presença do Exército na segurança pública nacional. Não faz sentido as Forças Armadas ficarem à margem disso”, comentou Rubem César Fernandes, presidente da ONG Viva Rio.

Para a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, o ato reflete um problema social: “Esse tipo de cultura do confronto, de pensar as favelas como um território inimigo, onde os moradores não merecem nenhum respeito, é algo que se entranhou entre os jovens soldados”, avaliou Silvia Ramos, cientista Social.

Últimas informações sobre o caso

Em nota, o senado Marcelo Crivela, idealizador do projeto, afirmou que o Exército deve dar o exemplo e que é preciso reavaliar a necessidade da presença dos militares no Morro da Providência.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, que está em Berlim, ressaltou que a conduta dos envolvidos não condiz com os princípios do Exército brasileiro. “O Exército brasileiro é uma instituição honrada, que merece todo apreço do povo brasileiro. Isso é a conduta de 11 marginais que, travestidos de soldados do Exército brasileiro, se comportaram como marginais”, destacou Sérgio Cabral.

O Exército afirma que está preparado e continuará cuidando da segurança das obras e do gerenciamento de engenharia, além de apoiar a comunidade. “Já tivemos uma série de atividades organizadas por nós em benefício da comunidade, fora do Projeto Cimento Social, recuperando escola, igreja, praça, tudo para proporcionar melhores condições à comunidade”, contou o Coronel Barcellos.

No final da tarde desta segunda-feira, moradores do Morro da Providência, que estavam em frente ao Comando Militar do Leste, se concentraram na Rua Bento Lisboa, na região da Central do Brasil. Eles tentaram bloquear a pista. Um ônibus teve dificuldades para passar pela via. Militares reforçaram a segurança no local para evitar tumultos.

Pelo menos cinco linhas de ônibus suspenderam o itinerário e não estão passando na região do Morro da Providência. O comércio continua fechado. O delegado responsável pelo caso, Ricardo Dominguez, informou que, nesta segunda-feira, as investigações pouco avançaram por causa dos tumultos.

Nesta terça-feira, ele deve ouvir oito soldados e um sargento do Exército que estão presos no quartel. Ainda segundo o delegado, já foi identificado o menor de 17 anos, que estaria com o grupo que foi abordado pelos militares. Ele deve ser ouvido ainda esta semana, assim como outras testemunhas e outros militares que estavam de serviço no Morro da Providência no fim de semana.

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