Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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sábado, 4 de dezembro de 2010

Insegurança pública


A sociedade da informação, que poderia facilitar o convívio entre grupos sociais, é também a sociedade do medo e do afastamento. como isso aconteceu?
por Danilo Maeda*


Após estacionar, Pedro aciona o alarme com travas automáticas de seu carro. Antes de iniciar a caminhada, contudo, checa cuidadosamente se todas as portas realmente estão fechadas. Do outro lado da cidade, sua esposa, Mariana, dirige com os vidros fechados, apesar do calor e do sol forte que elevam a temperatura interna do carro e derrubam sua pressão arterial. No veículo ao lado, também no trânsito, Fernanda pensa em um novo trajeto para retornar do trabalho para casa, pois não utiliza o mesmo caminho por três dias seguidos. No mesmo horário, durante uma das poucas oportunidades em que decide sair de casa para uma caminhada, seu vizinho Paulo atravessa para o outro lado da rua ao perceber que atrás dele vem um rapaz de mochila e pele morena, em passos apressados. Fábio nota que o morador local mudou de calçada porque percebeu sua aproximação e sente algo como uma mistura de chateação e revolta, mas segue o caminho de cabeça baixa. Apenas até notar a presença de uma viatura na próxima esquina. Apesar de não ter cometido qualquer infração, Fábio sente-se incomodado e acredita que os policiais vigiam todos os seus passos. Na realidade, porém, Adilson e Roberto estão preocupados com suas famílias, pois sentem que deixam esposas e filhos à mercê da sociedade para atender os chamados do trabalho como PM e os bicos como segurança particular. As descrições acima podem parecer o roteiro para uma epidemia de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ou de síndrome do pânico, mas são relatos factíveis de cenas cotidianas em grandes cidades brasileiras. Mais do que um tema presente e dominante em palanques e veículos de imprensa, a segurança pública é uma preocupação importante para a sociedade, chegando ao nível de influenciar condutas e costumes sociais, além de gerar implicações em outras áreas e ampliar problemas como a segregação social e o preconceito.
Apesar dos discursos políticos e da preocupação (ou paranoia) social relacionada ao assunto, os dados sobre segurança pública mostram que as condições têm piorado ao longo dos anos. Segundo a pesquisa IDS 2010 (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável), divulgada no início de setembro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de homicídios no Brasil cresceu 32%, em 15 anos. Assim, o índice de mortes por 100 mil habitantes subiu de 19,2, em 1992, para 25,4, em 2007.
Esse é o tipo de tendência confirmada por números, mas percebida com antecedência no dia a dia pela população em todas as faixas de renda e classes sociais. A percepção coletiva de um sentimento de medo é compartilhada por todos, com mudanças relacionadas ao objeto causador desse sentimento, de acordo com o grupo social em que o indivíduo está inserido. Assim, dentro do cenário proposto no início desse texto, enquanto um personagem como Paulo, morador de um bairro de classe média, sente-se acuado pela simples presença de uma pessoa mais pobre, o trabalhador que mora em um bairro de periferia, como Fábio, está socialmente condicionado a manter distância dos policiais, que por sua vez temem pela segurança da família e do emprego.
Violência: Preocupação e problema social
Pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, a socióloga Cristina Neme apresenta uma avaliação sobre a tendência de aumento na "preocupação coletiva" relacionada à segurança. "No Brasil, a criminalidade violenta encontrase no centro do debate público, dados os patamares elevados atingidos devido a uma tendência de crescimento que atravessou duas décadas. Os crimes contra a pessoa são o grande fator de insegurança da população e representam o ápice das violências que afetam a sociedade em um contexto de grandes desigualdades sociais", afirma em trabalho sobre o assunto.


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