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terça-feira, 19 de maio de 2020

'A polícia interrompeu o sonho do meu filho', diz pai de jovem de 14 anos morto a tiro em casa durante operação em São Gonçalo

Neilton Mattos, pai do menino João Pedro, morto com um tiro de fuzil na barriga na noite desta segunda-feira, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, quando as polícias Federal e Civil faziam operação no local
Neilton Mattos, pai do menino João Pedro, morto com um tiro de fuzil na barriga na noite desta segunda-feira, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, quando as polícias Federal e Civil faziam operação no local Foto: Reprodução / TV Globo - RJTV 1
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Ainda muito abalados pela morte do jovem João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, atingido por um tiro de fuzil em casa no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, durante operação das polícias Federal e Civil, na noite de segunda-feira, o pai do rapaz, Neilton Mattos, e a tia, Denise Rocha, deram um relato emocionado ao RJTV, da TV Globo, no início da tarde desta terça, e, na porta da 72ªDP (Mútua), narraram os momentos vividos por eles nas últimas horas. Dono de um quiosque na Praia da Luz, próximo ao local onde tudo aconteceu, Neilton disse que estava trabalhando e que ouviu os tiros, mas que não poderia imaginar o que estava acontecendo. Mais de uma vez, afirmou que os sonhos de seu filho foram interrompidos pelos policiais.
– Eu estava bem próximo, trabalhando com a minha cunhada, quando escutamos o barulho do helicóptero dando rasante, bem baixo. Já ficamos preocupados com as crianças que estavam lá (em casa) jogando. Queríamos ir, mas estávamos preocupados com o helicóptero. Resolvemos, então, esperar um pouco. Aí, decidimos ir, e, quando chegamos lá, os policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil) e da (Polícia) Federal estavam com os cinco adolescentes sentados, como bandidos, mas não são bandidos, são apenas adolescentes, não traficantes. Estavam ali, na quarentena, juntos jogando, só que percebi que faltava um adolescente, meu filho, João Pedro – contou o pai.
Ele disse que ficou sabendo da morte do filho através do sobrinho, Natan, aos prantos, contou o que havia acontecido.
– Quando cheguei, perguntei: cadê o João Pedro? E o primo dele, Natan, chorando, disse que o João Pedro havia sido baleado, um jovem com 14 anos, um jovem com um futuro brilhante pela frente, um jovem que sabia o que queria para o seu futuro, no 9ºano, já quase terminando seus estudos, querendo ser alguém na vida... mas infelizmente a polícia interrompeu o sonho do meu filho – afirmou, emocionado.
O adolescente João Pedro, morto após ser baleado em ação policial
O adolescente João Pedro, morto após ser baleado em ação policial Foto: Reprodução
Por fim, Neilton também falou sobre a forma como os policiais chegaram a sua residência, mandou um recado para o governador, Wilson Witzel, e voltou a afirmar que a polícia matou João Pedro e interrompeu os sonhos do menino.
– A polícia chegou lá de uma maneira tão cruel, atirando, jogando granada, sem ao menos perguntar quem era. E eu entendo que se eles conhecessem a índole do meu filho, quem era meu filho, eles não fariam isso. Porque meu filho é um estudante, o meu filho é um servo de Deus. A vida do meu filho era a casa, igreja, escola e jogo no celular. Era isso. Foi para isso que eu estava criando ele. Mas, infelizmente, interromperam o sonho do meu filho. Quero dizer, senhor governador, que a sua polícia não matou só um jovem de 14 anos com sonho, com projetos, querendo ser alguém na vida. A sua polícia matou uma família completa. Matou um pai, uma mãe, matou uma irmã e, principalmente, o João Pedro. Foi isso que a sua polícia fez com a minha vida.
Tia do adolescente, Denise Rosa trabalhava no quiosque junto com Mattos no momento dos tiros. Ela afirmou que, num primeiro momento, os policiais não permitiram que ela entrasse na casa para ver o que havia acontecido.
– Quando chegamos lá, não nos deixaram entrar na casa. Disseram: 'Ninguém pode entrar na casa porque tem coisas lá que deixaram para trás'. Depois, disseram que era preciso aguardar a perícia, mas não vimos perícia alguma. Foi preciso que um primo do João Pedro colocasse o corpo dele num carro e levasse até um helicóptero da polícia que estava no campo. Perguntei para onde ele seria levado, mas o polícia disse que o radinho dele não estava funcionando naquela hora – narrou.
Denise concluiu, com um desabafo:
– Não é porque a minha família mora no Complexo do Salgueiro que é criminosa. Meu sobrinho é negro e não deve ser tratado como criminoso por isso. Não aceito, queremos Justiça!

Witzel lamenta e determina 'rigorosa investigação'

Em nota, o governador do estado, Wilson Witzel, lamentou a morte de João Pedro, e afirmou que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) já instaurou um inquérito para apurar o que aconteceu, e que os policiais envolvidos na ação foram ouvidos e armas apreendidas para confronto balístico:
"O governador Wilson Witzel lamenta profundamente a morte do adolescente João Pedro Mattos Filho e presta sua solidariedade à família neste momento de dor. O governador determinou rigorosa investigação sobre as condições da morte do jovem, ferido durante operação da Polícia Federal realizada com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) já instaurou inquérito.
Os policiais foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico. Outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato.
A ação visava a cumprir dois mandados de busca e apreensão contra lideranças de uma facção criminosa. Durante a ação, seguranças dos traficantes tentaram fugir pulando o muro de uma casa. Eles dispararam contra os policiais e arremessaram granadas na direção dos agentes. No local foram apreendidas granadas e uma pistola.
O jovem foi imediatamente socorrido pelo helicóptero da Polícia Civil. Médicos do Corpo de Bombeiros prestaram atendimento, mas ele não resistiu aos ferimentos. O corpo foi encaminhado para o IML de São Gonçalo".

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