Essa e a verdadeira cara da nossa Segurança Publica

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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Investigação sobre milícia começou com vídeo que mostra sargento que chefia quadrilha, diz MP

Investigações começaram depois PM receber vídeo do sargento Jorge Henrique da Silva, diz Ministério Público
Investigações começaram depois PM receber vídeo do sargento Jorge Henrique da Silva, diz Ministério Público Foto: GloboNews / Reprodução
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Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça obtidos com exclusividade pela GloboNews mostram como age a milícia da comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, e que foi alvo de uma operação deflagrada nesta quinta-feira. Segundo a reportagem mostrada no programa "Edição das 10", a investigação do Ministério Público sobre o grupo paramilitar começou depois que a Corregedoria da Polícia Militar recebeu um vídeo que mostra o sargento Jorge Henrique da Silva, conhecido como Dô e apontado como o chefe da milícia, com outras quatro pessoas, duas delas armadas. Eles dizem que são do Bonde do Dô. O sargento foi preso nesta quinta-feira.
Os PMs apontados pelo Ministério Público como suspeitos
Os PMs apontados pelo Ministério Público como suspeitos Foto: GloboNews / Reprodução
A quadrilha atua principalmente na exploração de pontos de mototáxi, cobrando taxas aos mototaxistas. Quem estava em situação irregular tinha que pagar propina a agentes públicos, como PMs, para trabalhar, segundo o MP. As investigações indicam ainda um esquema de pagamento de propina a PMs do 18º BPM (Jacarepaguá) e do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes).

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 O dinheiro seria entregue em troca de informações privilegiadas de operações policiais na região onde a milícia atua.
Quem são os PMs suspeitos de fazer parte da quadrilha:
  • sargento Jorge Henrique da Silva, o Dô - preso
  • sargento Adelmo da Silva Guerini Fernandes - preso
  • sargento Nielsen da Silva Barbosa - preso
  • sargento Leonardo de Oliveira Pelussi - preso
  • sargento Marcos Paulo Custodio Alves - preso
  • subtenente Francisco Santos de Melo - procurado

Compartilhamento de mensagens sobre operações

De acordo com a GloboNews, integrantes do bando compartilhavam em grupos de mensagens locais onde a polícia fazia as operações. Em uma das conversas mostradas na reportagem, um miliciano fala com Dô sobre uma operação da Lei Seca, em maio de 2019:

Grampo 1

Miliciano: Ah, eu ia te avisar por causa desse negócio da Lei Seca, quando eu vi.... (inaudível).
Dô: Mas por que tu falou?
Miliciano: Quê?
Dô: Por que tu falou que tinha Lei seca?
Miliciano: Botou aqui no grupo do mototáxi, aqui pô.
Dô: É, eu vi também. Eu falei. Eu que joguei, saí jogando aí nos grupo aí.
Miliciano: Falei..
Dô: Né, mas tá tranquilo. Passei.

Mototaxista pede ajuda a miliciano

Em relação à livre circulação das motos, o MP afirma que a propina paga pelos milicianos garantia que as motocicletas nao fossem apreendidas em blitzes. Caso eles fosse abordados em operações, seriam liberados. Um dos áudios revela um mototaxista pedindo ajuda a um miliciano para ser liberado de uma blitz por um policial. E depois o miliciano falando com o PM.
Policiais que foram alvos de operação no Ministério Público
Policiais que foram alvos de operação no Ministério Público Foto: GloboNews / Reprodução

Grampo 2

Mototaxista: PC?
Miliciano: Oi.
Mototaxista: Aqui é o mototáxi da Merck, ali. Trabalho com o Maurício.
Miliciano: Fala aí.
Mototaxista: Fui parado aqui no Jardim Clarice. O Nielsen falou que é ele que tá aqui na operação.
Miliciano: E aí, que que tu quer que eu faça? Hoje é megaoperação amigo... Hoje é megaoperação, irmão.
Mototaxista: Pô, não tem como falar com ele, não? Perder um café pra ele aqui não?
Miliciano: Não, vou falar, vou te ajudar... Mas na próxima vou deixar você se ... para poder aprender. Porque eu já avisei, irmão: megaoperação não é pra rodar. Bota ele aí, fala que sou eu aí, pra ele falar comigo no telefone.
Miliciano: PC, meu parceiro...
PM: Fala meu parceiro.
Miliciano: Dá pra ajudar aí? Se der, bem. Se não der, empurra a ...
PM: É o que eu tô falando pra ele... Irmão, tá tudo mundo ciente que hoje é operação, cara...
Miliciano: Positivo, positivo. É isso aí. Eu já avisei ele também... Dá pra ajudar, irmão?
PM: Vou ver aqui o que eu consigo fazer...valeu? É que eu tô com mais quatro amigos aqui, mas vou ver o que eu consigo fazer.
Miliciano: Não sai no 0 a 0 não. Toma um negócio dele aí, que ele falou que ia te dar um negócio.
PM: Já é. Valeu.(sic) junto irmão.
PM: Valeu. Abraço.
O miliciano PC liga de novo para o PM.
Miliciano: Irmão, deixa eu te fazer uma pergunta: já acabou?
PM: Cara... praticamente. Porque a gente... apesar de que tem outra equipe lá na Praça Seca.
Miliciano: Ah, ainda tem outra lá, né?
PM: A gente aqui já acabou. Tá indo só buscar duas moto aqui na curva Chico Anísio pra ir embora.
Miliciano: Ah, show. Quando acabar aí, quando tiver um término aí, vocês voltar pro batalhão, tu me dá ligada? Só pra eu dar uma assuntada no menino?
PM: Já é.
Miliciano: E aí, resolveu o garoto?
PM: Resolvi, tudo certo.
Miliciano: Show de bola.

'A moto é sucata, sem placa', diz PM a miliciano

Outro áudio mostra um policial militar falando com o miliciano sobre uma mototaxista em situação irregular circulando na região.

Grampo 3

PM: Fala PC
Miliciano: Fala meu amigo, bom dia.
PM: Pô mano...o que acontece? Tu sabe que a condição não é pra rodar desse jeito, que a mina tá rodando aqui, né?
Miliciano: Pô, meu parceiro...
PM: A moto é sucata, sem placa. ... irmão!
Miliciano: Deixa eu te explicar um negócio, mano...
PM: E ela nem pra segurar, mano. Ela passou do lado da viatura, mano...
Miliciano: É ... Eles são ...
PM: Entendeu mano?
Miliciano: Te explicar aqui, neguinho: ela aí, deve ter mais ou menos 15 dias, mano. Pô, foi um maluco lá no ponto e roubou a motinha dela. Tudo direitinho. Ela trabalhava direitinho...
PM: Já é.. vou deixar ela seguir aqui os trabalhos aqui... diretamente com ela. Já é?
Miliciano: Pô, já é. Pô, a garota é sofrida. Sofridona.

Pagamento de taxa

Um outro diálogo mostra um mototaxista justificando o atraso do pagamento de uma taxa. Toda essa ajuda da milícia não era de graça. Segundo a investigação, qualquer mototaxista que quisesse trabalhar na região tinha que pagar uma taxa.

Grampo 4

Mototaxista: Aí Moises, tô com teu dinheiro aqui. Cheguei agora da obra, cara. Pô, falei que ia chegar em meia hora, mas não deu tempo.
Miliciano: Pô, irmão. Mas aí, o que acontece? Eu dei a tolerância aí até 7h...Entendeu? Agora, foi o que eu deixei com o Junior aí. O Dô falou 'é 100 reais todo mundo', irmão. Entendeu?
Mototaxista: Cara, mas o problema é o trânsito. Eu tava trabalhando na obra. Nem no mototáxi tô rodando.
Miliciano: Eu sei, mas eu não posso atropelar o cara, irmão. Tá entendendo? Não posso atropelar o cara. Eu já entreguei a lista de quem pagou, de quem não pagou. Entendeu? O cara quer o dinheiro 6h, entendeu? Vou dar o restante dele amanhã, entendeu? Eu não posso atropelar o cara, senão eu vou acabar trocando de lugar com vocês, brother. Vocês sabem que o ponto é ate 6h. Ainda dou uma tolerância até 7, irmão.

Grupo age com violência

De acordo com o Ministério Público, quem não pagasse os valores cobrados pela milícia sofria agressões e ameaças por parte da quadrilha. O trecho de uma das interceptações telefônicas mostra uma pessoa falando ter agredido um mototaxista que não pagou o exigido.
"Um traço marcante da organização criminosa é o emprego de violência e grave ameaça contra todos aqueles que de alguma forma atrapalham seus interesses. Com efeito, depreende-se das chamadas interceptadas, abaixo colacionadas 12, que os mototaxistas que deixavam de pagar as taxas impostas pela malta eram sumariamente banidos da região, ameaçados e agredidos fisicamente", diz o MP.

Grampo 5

Miliciano: Oi?
PC: Tomei a moto do cracudo ontem... Dei umas porradas nele ontem.
Miliciano: Tomou?
PC: Tomei.
Miliciano: Pra mim ele já tinha te pagado já, porque tu não me ligou. Eu falei ‘então ele já deve ter dado até o dinheiro pro PC’. Tá ligado? Falou o quê?
PC: Falou que não conseguiu o dinheiro para me pagar.
Miliciano: Caraca. Como que não consegue... (inaudível)
PC: Dei-lhe um monte de porrada nele, boneco. Lá na casa dele. Fui lá na casa da sogra dele. Falei ‘cadê meu dinheiro, seu...’? Assim mermo. Aí ele ‘pô, mano, eu não consegui fazer’. Aí pau, pau (palavrões). ‘Me dá a chave da moto’.
Miliciano: É isso mermo (sic). Fazer igual o Léo fez. Tomou a moto lá do outro. Aí. Tem que tomar mermo.
Investigação sobre milícia começou com vídeo que mostra sargento que chefia quadrilha, diz MP
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