O jovem de 24 anos atingido na perna por balas de borracha disparadas por um policial militar, em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, terça-feira (29), disse que irá aguardar o decorrer dos inquéritos na Polícia Civil e na Brigada Militar para decidir as medidas a serem tomadas na esfera criminal. Ele contou que entrou em luta corporal com policial quando seu pai, de 52 anos, foi agredido pelo servidor com um cassetete.

Pernas do jovem ficaram marcadas pelas balas e pelos estilhaços
No instante seguinte, o policial pegou uma espingarda na viatura e disparou contra o jovem dentro da ambulância utilizada para atender seu irmão acidentado. No boletim de atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os médicos relatam que os "ânimos se exaltam" com a chegada da Brigada Militar e que tiveram que "separar a briga" colocando as vítimas dentro da ambulância.

Boletim de atendimento do Samu
No documento consta, ainda, que o policial "empurra o pai da vítima" causando a revolta do jovem. Na sequência, "o policial realiza dois a três disparos de espingarda calibre 12", diz o boletim. O comandante regional do Policiamento Ostensivo, Kleber Goulart, disse que Brigada Militar está apurando as circunstâncias.
– Pelas imagens, creio que não foi feito uso, pelo policial, da melhor maneira de abordagem – comentou.
Na manhã desta quinta-feira, o jovem atingido falou com a reportagem. Leia a entrevista:
Como começou a confusão?Meu irmão tinha se acidentado de moto, mais ou menos às 17h30min, e eu estava indo para lá. Cheguei antes da Brigada Militar e, como me falaram que o motorista que bateu nele tinha fugido e um senhor estava assumindo a culpa no lugar, fui conversar com essa pessoa. Perguntei porque ele estava acobertando alguém que tinha causando um acidente. Ele me falou algumas bobagens, mas logo me tiraram dali.
O que você estava fazendo quando a Brigada Militar chegou?Eu estava abaixado conversando com meu irmão, perguntando como ele estava. Os médicos estavam imobilizando ele para colocar na maca. Neste momento, esse policial começou a me puxar e pedir meus documentos. Eu estava preocupado e disse que aquele não era o momento para isso. Meu irmão estava machucado, no chão, com muita dor. Eu disse: não vou falar contigo agora.
O que ele respondeu?Disse que ele era uma autoridade e que eu deveria respeitá-lo. Eu insisti: não está vendo a nossa situação? Nisso, o médico vendo que nós dois estávamos exaltados, me chamou para a ambulância. Disse para eu entrar e acompanhar meu irmão até o hospital. Foi só por isso que eu entrei. Eu não estava fugindo. Só que o policial estava me perseguindo e veio atrás.
O que ele queria que você fizesse?Dizia que iria me prender. Eu queria colocar na cabeça dele que aquele não era o momento para uma abordagem dessas. Eu não estava fazendo nada. Não estava tumultuando. O policial ficou me ameaçando, dizendo que iria me quebrar, que me pegaria no hospital. Meu pai estava ali, nervoso. Um filho dele acidentado e outro sendo ameaçado. Foi aí que o policial puxou um bastão e começou a bater em todo mundo, até no meu pai, de 52 anos. Eu saí da ambulância e trocamos empurrões.
Em que momento ele atirou?Depois dos empurrões, ele foi na viatura e buscou a arma. Veio em direção a ambulância e atirou contra mim. Meu pai e o médico estavam lá dentro. Depois, mandou meu pai e o médico saírem e atirou mais vezes. Ele só parou quando o médico fechou a porta.
Qual é a tua impressão sobre o episódio?Foi desnecessária aquela ação. Quem causou tumulto foi ele. Desde o primeiro momento eu queria sair de perto dele, mas ele me perseguia. Ele atrapalhou o atendimento do meu irmão. Foi um absurdo o que aconteceu.