"Senta do dedo nesta p*" - Mais do que um refrão que se tornou pop na boca do personagem Capitão Nascimento, a frase representa um raciocínio. Ou melhor, um não-raciocínio, que diz muito sobre o que nos tornamos. 

Um não-raciocínio responsável pelo assassinato da turista espanhola, hoje, na rocinha.

Os que não raciocinam, defendem: "Bandido tem matar mesmo!", e justificam na base do "vai fazer o quê, quando um bandido lhe apontar uma arma? Carinho? Tem que atirar! É um caso de ou ele ou você!"

Pois hoje, na Rocinha, não foi um caso de "ou ele ou você". O carro que furou o bloqueio da polícia não atirou antes, durante, nem depois. Os policiais atiraram certos de que ali estariam bandidos. E que se morresse algum deles, seriam aplaudidos pelo público.

Situação idêntica (a de atirar em inocentes desarmados, a de assassinar turistas por engano), acontece, há décadas, e todos os dias, nas periferias de todo o país. Com os pobres deste país. 

O pensamento militar de nosso país é covarde. Não venceria uma guerra sequer contra o Sudão. É cultural. Só instauraram, nos anos 60, um regime militar porque não havia força armada contra e, hoje sabemos, a coordenação de inteligência foi toda executada por estrangeiros. A coragem militar no Brasil só se mostra dentro de salas de tortura: seja numa delegacia em Caxias em 2017, seja colocando num pau de arara uma mulher. 

Ano que vem teremos eleições. Candidatos que representam esse covarde discurso militar do "se é em comunidade periférica, pode sentar o dedo", estão por todo o país. Se eleitos, a criminalidade, às vistas dos mais ricos, irá diminuir. 

Às custas do aumento de mortes nas periferias. 

O voto é uma arma. E é bom que seja.

Mas, num país onde militares só têm bravura se lutam contra civis, o voto pode ser uma arma de destruição em massa.