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terça-feira, 29 de julho de 2014

PM prendeu em dois anos 26 policiais sequestradores

Rio de Janeiro


Corporação admite envolvimento de maus policiais com indústria da extorsão e informa que prendeu militares em flagrante. Divisão Antissequestro não foi informada sobre os casos

Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
Policiais se reúnem nesta quinta-feira para a inauguração da UPP na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
Policiais se reúnem nesta quinta-feira para a inauguração da UPP na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro   (Antonio Lacerda/EFE)
A edição de VEJA desta semana traz à tona uma modalidade de crime até então pouco conhecida, mas já bastante temida por um grupo específico: as famílias de criminosos presos. Diante da redução das áreas onde era possível ‘negociar’ com traficantes os pagamentos de subornos regulares – um avanço inquestionável das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) –, agentes de segurança passaram a faturar extorquindo grandes somas de dinheiro de filhos, mulheres e parentes de bandidos. Como dizem respeito a um grupo relativamente reduzido de ‘alvos’, os crimes não ganham repercussão – e aí reside mais uma ameaça, pois as quadrilhas agem praticamente invisíveis.
Na segunda-feira, a Polícia Militar do Rio confirmou a existência desse tipo de crime, e enumerou ações de combate aos sequestros feitos por PMs. Segundo a PM, a 4ª DPJM (Delegacia de Polícia Judiciária Militar), de Niterói, prendeu na última semana e autuou duas guarnições – equipes de policiais – do 7º BPM (São Gonçalo) nestas circunstâncias. O batalhão é o mesmo de onde saíram os acusados de matar a juíza Patrícia Acioly, no ano passado. Patrícia, aliás, investigava crimes cometidos por policiais, entre eles autos de resistência forjados e as extorsões contra traficantes.
Ainda segundo a PM, “nos anos de 2011 e 2012, as DPJMs lavraram sete autos de prisão em flagrante, totalizando 26 policiais militares presos e autuados com base no Art. 244 do Código Penal Militar (extorsão mediante sequestro)”. A partir da divulgação da nota, o site de VEJA enviou à Polícia Militar uma solicitação sobre os casos, mas não obteve resposta.
Os casos informados pela Polícia Militar não constam na lista de 47 sequestros levantados pela reportagem de VEJA. E jamais chegaram também ao conhecimento da Divisão Antissequestro (DAS), delegacia da Polícia Civil encarregada de investigar e combater este tipo de crime no Rio de Janeiro. 
Passada a onda de sequestros que apavorou o Rio na década de 90, esse tipo de crime passou a ser considerado algo sob controle das autoridades de segurança. As estatísticas tenderam a zero na última década. Nos dias de hoje, os registros oficiais da DAS e, agora, também da PM, confirmam que o sequestro passou a ser uma modalidade criminosa dominada por maus policiais. Dos sete casos registrados este ano na delegacia, cinco têm policiais como principais suspeitos.
Como mostrou a reportagem de VEJA, um dos problemas dos sequestros cometidos por policiais é a falta de estatísticas confiáveis a respeito da frequência com que o crime ocorre. Como entre as vítimas há criminosos ou familiares de detentos, que não se sentem seguros para procurar a polícia, há poucos registros oficiais. Os 26 casos informados pela PM confirmam a falta de transparência com que esse crime é tratado: até então, a DAS e outras esferas da segurança pública não tinham conhecimento das prisões, mantidas sob o sigilo das investigações internas operadas por militares.
A nota da Polícia Militar faz um ataque à reportagem de VEJA. Diz um trecho do documento da PM: “A obsessão e determinação do jornalista em atacar a PM chega até a ferir o bom senso - como no trecho da reportagem em que manifesta a opinião de que "nos tempos do tráfico armado havia mais resistência".


A afirmação da Polícia Militar não é verdadeira. O trecho da matéria que faz referência à resistência armada do tráfico é o seguinte: “Em favelas onde há Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o sequestro de bandidos e seus familiares é ainda mais trivial, já que ali não há mais marginais ostensivamente armados para opor resistência”.

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