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terça-feira, 27 de outubro de 2015

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Titular da Delegacia do Meio Ambiente e mais 9 policiais são acusados de extorsões e sequestros

Denunciados exigiam dinheiro para não emitir laudos forjados de irregularidades ambientais há pelo menos três anos

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RIO — Dois longos depoimentos prestados por um policial civil que recebeu o benefício da delação premiada foram a base de um inquérito que resultou, na manhã desta quarta-feira, na prisão de Fernando César Magalhães Reis, titular da Delegacia de Proteção do Meio Ambiente (DPMA) e ex-diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE). Investigado pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio e pelo Ministério Público estadual, ele é acusado de comandar um esquema milionário de prática de extorsão, que tinha 26 empresas como alvos. De acordo com agentes, há pelo menos três anos o delegado e outros nove policiais, também denunciados, exigiam dinheiro para não emitir laudos forjados de irregularidades ambientais.
O policial que decidiu colaborar com a investigação foi preso no fim do ano passado. Depois de firmar um acordo com a Justiça, ele revelou que colegas lotados na DPMA montavam operações clandestinas contra várias empresas, simulando crimes ambientais. Para não prender os donos das companhias e seus funcionários nem abrir inquéritos, o grupo exigia dinheiro. Segundo o delator, em pelo menos duas ocasiões, operários foram sequestrados e mantidos como reféns na delegacia enquanto agentes negociavam o pagamento de propinas.
O titular da DPMA é apontado na investigação como o chefe do esquema: grupo forjava laudos de crime ambiental e exigia dinheiro para não prender empresários - Divulgação (26/04/2012)
A DPMA funciona na Cidade da Polícia, no bairro do Jacaré, onde estão reunidas todas as delegacias especializadas do estado. Em depoimento a promotores e agentes da Subsecretaria de Inteligência, um dos empresários achacados disse que, em dezembro do ano passado, policiais civis sequestraram alguns de seus funcionários — que foram levados à delegacia — e exigiram, inicialmente, R$ 1 milhão para libertá-los. Os agentes acabaram concordando em receber R$ 300 mil, e uma parcela de R$ 100 mil teria sido paga ao grupo.
No depoimento que lhe proporcionou o benefício da delação premiada, o policial contou que os pagamentos feitos ao grupo eram divididos conforme ‘‘escalas’’. Segundo ele, havia as chamadas “pancadas”, quando a propina era liquidada de uma só vez; e as “merendas”, que seriam subornos mensais, normalmente com valores até R$ 6 mil. As empresas que participavam da “merenda” eram, de acordo com o delator, ‘‘blindadas’’ — não passavam por fiscalizações da DPMA.
‘PANCADAS’ E ‘MERENDAS’
O policial contou que, numa “pancada”, 40% do valor pago era entregue ao delegado Fernando Reis e ao comissário José Luiz Fernandes Alves, chefe do Grupo de Investigação Continuada (GIC) da DPMA. O restante era rateado entre os outros policiais do grupo. Nas “merendas”, a divisão era diferente, afirmou o agente: a direção da delegacia recebia metade do total da propina.
Em uma entrevista coletiva, o promotor Claucio Cardoso da Conceição, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual, destacou que a operação que desarticulou o esquema criminoso dentro da DPMA ‘‘não foi contra a Polícia Civil’’.
— As ações do Ministério Público seguem critérios técnicos, frutos de provas recolhidas durante as investigações. Não há e nunca houve por parte do MP qualquer intenção de perseguir ou atacar qualquer instituição, apenas atuamos contra os maus policiais — disse Cardoso.
Em seu segundo depoimento, o policial que colaborou com a investigação revelou ainda que “há comentários em toda a polícia de que Fernando Reis foi lotado na DPMA a pedido da Martha Rocha”, deputada estadual (PSD) e ex-chefe da Polícia Civil. Em nota enviada ao GLOBO, a parlamentar afirmou “que não indicou o delegado Fernando Reis para assumir a delegacia”, assim como nunca “solicitou à chefia da Polícia Civil a lotação de qualquer policial civil”.
Também por meio de uma nota, o atual chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, afirmou que “adota um modelo de gestão em que os diretores de departamentos escolhem os delegados titulares que pretendem designar, e a decisão final ocorre em reunião conjunta entre diretores e a cúpula da instituição”.
CONFISCO DE BENS
Fernando Reis foi preso com o perito criminal José Afonso Garcia Alvernaz, acusado de participar do esquema forjando laudos. O comissário José Luiz Fernandes, que também teve prisão decretada, é considerado foragido. A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e os promotores do Gaeco disseram que as investigações continuam. Além disso, informaram que planejam pedir à Justiça o confisco dos bens de todos os envolvidos.
Na operação desta quarta-feira, duas motocicletas de luxo foram encontradas na casa de José Luiz Fernandes: uma Triumph Daytona 955i e uma KTM 990 Super Motard. Juntas, as duas valeriam cerca de R$ 60 mil. Na residência do delegado, na Barra da Tijuca, foi encontrado um revólver sem registro.
Modelos de luxo, importadas, duas motocicletas (a austríaca KTM e a inglesa Triumph) foram apreendidas pela polícia na casa do comissário José Luiz Fernandes Alves, chefe do setor de investigações da Delegacia de Meio Ambiente. O policial teve prisão decretada, mas fugiu - Divulgação
Os dez policiais da DPMA que tiveram prisão decretada foram denunciados por crimes de organização criminosa, extorsão, extorsão mediante sequestro e concussão (exigência de pagamento de propinas). Considerando apenas a pena mínima estipulada para cada crime, os acusados poderão cumprir 70 anos de prisão, cada um, se forem condenados. Já o tempo máximo na cadeia chegaria a 180 anos.
De acordo com o Ministério Público, os policiais civis investigados agiam sempre da mesma forma. Eles iam a empresas com o pretexto de verificar uma denúncia anônima sobre a prática de crime ambiental. Os agentes alegavam que precisavam fazer uma vistoria e sempre constatavam alguma irregularidade ou simplesmente apontavam, sem qualquer fundamento técnico razoável, uma falha grave.
Segundo promotores, uma vez ‘‘constatado’’ o crime ambiental, o dono da empresa visitada pelos policiais era ameaçado de prisão em flagrante. Investigadores afirmaram que o valor das propinas mensais variava de R$ 500 a R$ 6 mil, dependendo do porte da companhia. José Luiz Fernandes seria o responsável pela arrecadação: em algumas ocasiões, o dinheiro cobrado pelos policiais chegou a ser entregue na sede da DPMA.

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