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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Prefeito usa PM para 'exportar' mendigo

 

São Paulo, quarta, 3 de fevereiro de 1999 

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ADMINISTRAÇÃO
Moradores de rua de Corumbá foram obrigados a deixar a cidade; prefeito afirma estar fazendo limpeza
Prefeito usa PM para 'exportar' mendigo

JOÃO CARLOS SILVA
enviado especial a Itapetininga

ROBERTO SAMORA
da Agência Folha

O prefeito de Corumbá (Mato Grosso do Sul), Éder Moreira Brambilla (PSDB), foi indiciado ontem sob a acusação de sequestro e cárcere privado ao "exportar" mendigos de sua cidade.
Brambilla afirma ter decidido tirar as pessoas da rua para limpar a cidade (leia texto ao lado).
Anteontem à noite, um major da Polícia Militar e quatro guardas municipais de Corumbá foram presos em flagrante quando, segundo a polícia, conduziam em um ônibus 16 mendigos que teriam sido capturados naquela cidade, mantidos encarcerados e forçados a embarcar no ônibus para deixar o Mato Grosso do Sul.
O grupo fazia parte de um total de cerca de 32 que haviam sido obrigados a deixar Corumbá no domingo à noite por não ter emprego e moradia fixas.
Parte deles foi deixada em cidades do interior do Paraná e de São Paulo, e os últimos 16 ainda estavam no ônibus quando este foi parado pela Polícia Rodoviária em Itapetininga (170 km a oeste de São Paulo)
Entre os que ainda estavam no ônibus, havia duas grávidas (uma de 17 anos), doentes, idosos e pelo menos dois estrangeiros.
No ônibus, a polícia encontrou ainda dois revólveres calibre 38, uma pistola 45 mm, duas algemas e três cassetetes.
As armas estavam em poder dos guardas e do major da PM.

De sexta a domingo
Em depoimentos prestados à polícia, os mendigos afirmaram que o martírio começou na sexta-feira à noite.
"Uma Kombi parou perto de mim e três guardas municipais me revistaram e me obrigaram a entrar no carro. Então me levaram para o albergue e me colocaram em um quarto, que foi trancado por fora. Nem pela janela podíamos olhar. Só saí do albergue para entrar no ônibus", disse Júlio Cesar de Almeida, 21, uma das vítimas.
Durante a viagem, os maus-tratos teriam continuado.
"Tive que ficar duas horas sentado no corredor do ônibus numa posição que exigia equilíbrio, mas não podia segurar nem falar nada", disse Miguel Gomes da Silva, 43. "Foram as 34 horas em que passei mais medo em minha vida."
Silva exibia arranhões nos braços e dizia estar com um pé quebrado em virtude de espancamentos.

Visita a parentes
Os guardas municipais -Nestor Ojeda Neto, 28, José Roberto Peres, 28, Jocinei Marques Leite, 33, e Rosse Pinto de Arruda, 35- e o major da Polícia Militar Edson Gonçalves da Silva se recusaram a prestar depoimento à polícia.
O motorista João Machado, um dos que dirigiram o ônibus entre Corumbá e Itapetininga, afirmou não saber de "exportação" de mendigos.
"Fomos contratados pela prefeitura para fazer uma viagem especial. Não sabia de nada, nem o dono da empresa. Achava que essas pessoas iriam visitar parentes."
A Polícia Rodoviária só parou o ônibus depois de receber denúncia de um dos passageiros, que havia desembarcado na cidade de Taquarivaí.



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