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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Corregedoria-Geral da Polícia Civil de MG investiga o suicídio de escrivã que afirmava ser vítima de assédio moral e sexual no trabalho

Quatro meses antes de ter sido encontrada morta, Rafaela Drumond mandou mensagens para uma amiga em que dizia que estava sendo assediada por um colega da delegacia de Carandaí.

Por Jornal Nacional 

23/06/2023 20h43  Atualizado há 5 dias

 

A Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais assumiu a investigação do suicídio de uma escrivã que afirmava estar sendo vítima de assédio moral e sexual no trabalho.

 

Quatro meses antes de ter sido encontrada morta, Rafaela Drumond mandou várias mensagens para uma amiga. Em uma delas, reveladas só agora, a escrivã falou estava sendo assediada por um colega da delegacia de Carandaí, Zona da Mata mineira.

 

“Ele ficava dando em cima de mim, dando em cima de mim, dando em cima de mim”, diz em um dos áudios.

Rafaela segue falando sobre um episódio inclusive durante um churrasco com colegas.

  

“Ele começou a falar na minha cabeça. Falar e falar. E eu não dava ideia. Ele tem mulher e a mulher dele não gosta de mim, tem ciúme. De repente, ele começou a falar que polícia não é lugar de mulher, que mulher não é para estar na polícia não, que não serve, não”, diz Rafaela em um outro áudio.

Rafaela disse que a conversa terminou em agressão.

 

“Na hora que ele me chamou de piranha, eu falei assim: ‘O quê?’. Sabe que que ele pegou e fez? Virou a mesa em cima de mim, caiu cerveja na minha roupa, caiu os negócios que estavam na mesa na minha roupa”.

Logo após ter sido agredida, Rafaela ligou o celular, que ficou virado para o chão. Mas conseguiu gravar o diálogo com o colega que a ameaçou.

 

“Grava e leva para o Ministério Público, para a Corregedoria... De tudo o que eu falei, ela está preocupada com 'piranha’. É muito cabecinha fraca”, diz o áudio do colega de trabalho.

Em outro áudio enviado para a mesma amiga, Rafaela disse que denunciou o caso para o delegado de Carandaí, onde ela trabalhava.

 

“Falei tudo para o delegado e mostrei esse vídeo e ele: ‘Você vai querer tomar providência?’. Mas ele não queria que eu tomasse providência. Falei: ‘Não, doutor. Eu não quero tomar providência’. Porque ia me expor, isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Porque se tomasse providência ia dar merda para o delegado e ia dar merda para mim também, porque a parte mais fraca sou eu, entendeu?”, diz Rafaela em outro áudio.

 

Quatro meses depois, no último dia 9 de junho, Rafaela se matou. Foi encontrada morta na casa dos pais. Eles contaram que ouviram um barulho de tiro no quarto da filha. O caso passou a ser investigado pela Delegacia Regional de Barbacena, que mandou periciar o celular da escrivã.

 

Na quinta-feira (22), as investigações mudaram de rumo. A Corregedoria-Geral assumiu o inquérito de forma exclusiva. Segundo a Polícia Civil, a transferência foi "devido à complexidade da investigação que apura as circunstâncias da morte de Rafaela” e que "as investigações continuarão sendo conduzidas de maneira isenta e imparcial”.

 

Nesta sexta-feira (23), o delegado de Carandaí, Itamar Claudio Netto, foi transferido para outra cidade. Segundo a polícia, a transferência foi a pedido dele próprio. Também foi divulgada a transferência do investigador Celso Trindade de Andrade, outro que trabalhava em Carandaí, por decisão da Polícia Civil.

 

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O Sindicato dos Escrivães disse que enviou em 2023 à corregedoria da corporação mais de 20 denúncias de assédio. Na grande maioria, as vítimas são mulheres.

  

“As denúncias mais comuns são as denúncias de assédio de forma geral, principalmente o assédio vertical, que é aquele cometido pelo chefe contra o subordinado”, diz Marcelo Horta, diretor Jurídico do Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais.

“Ela sinaliza crimes contra a sua honra, crimes contra sua dignidade sexual e potencializa uma instigação ao suicídio. Agora, se existiu materialidade e autoria desses crimes, somente as autoridades competentes, através de uma investigação precisa e imparcial, vai poder chegar a essa conclusão”, afirma Tiago Lenoir, advogado da família da Rafaela.

Há dois dia, Aldair Divino Drumond, pai de Rafaela, fez um protesto solitário em uma das regiões mais movimentadas de Belo Horizonte.

 

“O importante é que tenha transparência e que seja feita justiça”, disse.

A Polícia Civil de Minas declarou que as denúncias feitas à Corregedoria são investigadas imediatamente.

 

O Jornal Nacional não conseguiu contato com Itamar Claudio Netto e com Celso Trindade de Andrade.

 

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/06/23/corregedoria-geral-da-policia-civil-de-mg-investiga-o-suicidio-de-escriva-que-afirmava-ser-vitima-de-assedio-moral-e-sexual-no-trabalho.ghtml

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