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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Coronel acusado de liderar banda podre no ES está foragido

ABR. 21, 2000
Rio, 21 (AE) - O coronel Walter Gomes Ferreira, que teve a prisão decretada na quinta-feira à noite, a pedido da CPI do Narcotráfico, está foragido. O oficial, que foi afastado da Diretoria de Ensino da PM, foi acusado de liderar a "banda podre" da polícia capixaba. Segundo o comandante do Policiamento Ostensivo do Estado, coronel Edson Ribeiro do Carmo

a polícia já esteve na casa do coronel, na Praia de Itapuã, em Vila Velha (Grande Vitória), mas informaram que ele havia viajado com a família para local ignorado. "Segunda-feira há serviço normal no quartel e esperamos que o coronel apareça", disse.
Carmo explicou que se Ferreira não se apresentar em oito dias ele irá responder a processo administrativo por deserção. O coronel Ferreira foi indiciado pela CPI do Narcotráfico por corrupção, homicídio, formação de quadrilha, proteção a traficante e narcotráfico. Ele também teve os seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados.
A prisão do oficial foi pedida depois que a CPI recebeu depoimento do soldado Oséas de Souza Gomes à Corregedoria da PM, em que ele diz ter sido repreendido pelo coronel Ferreira por ter prendido o traficante Zuloago Cristo, o Zuninho, em Cariacica (Grande Vitória), em julho de 1998. Segundo o soldado, o oficial mandou que ele soltasse o traficante e lhe desse ainda três armas. A liberação de Zuninho teria tido a cumplicidade do atual comandante geral da PM capixaba, coronel João Carlos Batista, que está sendo investigado pelo Gabinete Militar do governo.
O coronel da reserva Marcos Antônio Santos, que foi acareado com Ferreira, na última quarta-feira, e o acusou de ser responsável por vários crimes de mando no Estado, foi ameaçado de morte, logo depois de prestar depoimento à CPI. Um telefonema anônimo dado ao Centro de Operações da PM (Copom), na última quinta-feira, denunciou que um grupo de pistoleiros estaria à procura do oficial, que agora está sob proteção da polícia.
O presidente da OAB capixaba, Agesandro da Costa Pereira
que também prestou depoimento à CPI, para a qual entregou um dossiê sobre o crime organizado no Estado, também foi ameaçado de morte. Quando ele estava sendo ouvido em sessão reservada da comissão, na terça-feira, um homem ligou para a casa do advogado e disse que ele e sua família iriam morrer.
Empresário - Hoje o empresário Paulo Amorim afirmou que os seus sigilos bancário, fiscal e telefônico estão à disposição da CPI. Ele foi acusado pelo Senhor Y, traficante que atuou no Pará e no Mato Grosso e depôs em sigilo à comissão, de ser um dos empresários capixabas que acobertam sofisticado esquema de envio de cocaína do porto de Vitória para Europa e Estados Unidos. O esquema foi montado por traficantes da Colômbia e do Paraguai, entre os quais Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
"Sou uma pessoa conhecida mundialmente por ser recordista em pesca de marlin azul, talvez por isso me fizeram essa acusação", disse Amorim, sem perder a calma. O empresário contou que tem dois barcos e que desde 1990 pratica pesca submarina. Segundo Senhor Y, aviões a serviço do tráfico lançam a cocaína ao mar em tonéis de borracha, que emitem sinais luminosos ao bater na água. Em seguida, com a ajuda de GPS (sistema de localização eletrônica) a droga é recolhida por pequenas embarcações e levada para navios atracados no porto de Vitória, de onde é exportada.
"Se os deputados quiserem podem olhar as rotas que fiz desde 90, porque ainda continuam gravadas no meu GPS", disse. Paulo Amorim, que foi motorista do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), hoje é dono de duas empresas - uma construtora e uma companhia de turismo - e de uma pousada em Guarapari. "Meu patrimônio foi construído com o meu trabalho, não veio de dinheiro ilícito", disse.
Por Murilo Fiuza de Melo

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