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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Policial denuncia prática

Rio de Janeiro

19/02/2014 - 19:33

Policial denuncia prática de tortura na UPP da Rocinha

Soldado afirma que policiais costumavam colocar sacos na cabeça dos criminosos para provocar sufocamento e obter informações sobre a localização de armas e drogas. Depoimento é parte do processo sobre a morte do pedreiro Amarildo. Julgamento começa nesta quinta-feira

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Câmera de vigilância na Rocinha mostra Amarildo (em destaque) sendo levado de casa por policiais da UPP
Câmera de vigilância na Rocinha mostra Amarildo (em destaque) sendo levado de casa por policiais da UPP(Reprodução/TV)
O depoimento de um policial militar ao Ministério Público do Rio, anexado ao processo sobre a morte do pedreiro Amarildo, indica que a tortura fazia parte dos métodos de investigação de alguns dos PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio. De acordo com o relato apresentado pelo soldado da PM Rodrigo Avelar da Silva, meses antes do sumiço de Amarildo, traficantes da favela já denunciavam a prática de tortura na sede da UPP. “Ouvi diversos relatos de traficantes de que o Grupamento de Polícia de Proximidade Extraordinário (GTPP) do Vital costumava colocar sacos na cabeça dos traficantes para que estes informassem a localização das armas e drogas”, disse Avelar, que passou quatro meses infiltrado como traficante na favela - a serviço da operação “Paz Armada’.
De acordo com a promotora Carmem Eliza Bastos de Carvalho, responsável pelo caso Amarildo, durante a investigação do desaparecimento do pedreiro, diversos moradores da favela confirmaram a prática de tortura na sede da UPP. “Eles contam que os PMs da UPP costumavam pegar jovens considerados suspeitos para obter informações. Segundo os relatos, esses jovens eram submetidos a práticas ilegais”, afirma a promotora.
O julgamento dos 25 policiais denunciados pela tortura e morte e do pedreiro Amarildo começa nesta quinta-feira, na 35ª Vara Criminal da Capital, no Centro do Rio. Eles respondem pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. Segundo a promotora do caso, entre as testemunhas de acusação estarão alguns dos moradores que prestaram depoimento denunciando a prática de tortura na UPP.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo. Ainda segundo o MP, outros policiais militares são suspeitos de participar ativamente da ação, vigiando a UPP para evitar que outras pessoas entrassem no local da tortura ou sendo omissos por não terem impedido o crime.
Dos 29 PMs que estavam de plantão no dia 14 de julho, quando Amarildo foi capturado e morto, somente quatro não foram denunciados. Segundo o MP, eles teriam tentado interromper a prática da tortura e contribuíram com a investigação, reconhecendo as vozes dos quatro acusados de participar diretamente da sessão de afogamentos, sufocamentos e choques ao qual Amarildo foi submetido.
Amarildo - O soldado Douglas Roberto Vital, mencionado no depoimento, foi o policial que, segundo o Ministério Público, recebeu o telefonema de um informante da Rocinha dizendo que o Boi, apelido do pedreiro, sabia onde estavam as armas e as drogas dos traficantes da Rocinha.
Segundo a denúncia, foi a partir desse telefonema que o major Edson Santos, que comandava a UPP da Rocinha, deu ordens para que o Grupamento de Polícia de Proximidade Extraordinário (GTPP), chefiado por Vital, e o Grupamento de Polícia de Proximidade (GPP), liderado pelo sargento Jairo da Conceição Ribas, pegassem Amarildo para “trabalhar a testemunha” – o que no jargão policial significa torturar a testemunha.
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